Quem são os articuladores nacionais do protesto contra Dilma

Quem são os articuladores nacionais do protesto contra Dilma Diego Vara/Agencia RBS
Dois dos principais articuladores nacionais dos protestos contra a presidente Dilma Rousseff são um ex-militante estudantil e um adolescente-prodígio da internet.

Coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL), responsável por convocar manifestações em mais de 50 cidades neste domingo e presente em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, os dois ativistas se uniram durante a eleição do ano passado com o intuito de combater o PT.

A dupla e mais uma dezena de integrantes da cúpula nacional do recém-criado MBL ocupam um escritório localizado na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, zona central da capital paulista, de onde montam as estratégias de mobilização, fazem contato com as unidades estaduais e concedem um número crescente de entrevistas. O local, segundo eles, é dividido com uma produtora de vídeo por falta de recursos para ter uma sede exclusiva.

Apesar de rumores de que são financiados por grandes empresários, garantem depender de doações feitas via internet e raramente arrecadar mais de R$ 10 mil por mês. Na sede paulista, câmeras e tripés se misturam a cartazes pedindo o impeachment de Dilma Rousseff, adesivos e camisas anti-PT.

Ali, o descendente de japoneses Kim Kataguiri, 19 anos, elabora estratégias para derrubar a presidente do país e planeja vídeos para a internet — uma das especialidades do jovem morador de Santo André que afirma pegar um ônibus, dois metrôs e um trem para ir à capital e voltar (“sou contra a Dilma, mas não sou rico”, sustenta). Kataguiri começou a ganhar espaço entre os jovens liberais justamente depois de gravar um depoimento com críticas ao Bolsa-Família.

Em um antigo canal no YouTube, chegou a acumular mais de 2 milhões de visualizações. O desempenho lhe valeu um convite para participar da elaboração de um vídeo em que o comediante Danilo Gentili ironizava a presidente durante a corrida eleitoral do ano passado.

— A gente queria dar um impulso à campanha do Aécio. O vídeo de como seria o Brasil quatro anos depois da reeleição da Dilma foi um sucesso, mas ela ganhou mesmo assim — conta Kataguiri, que abandonou a faculdade de Economia ainda no primeiro ano por achar insatisfatória a qualidade dos professores.

Da articulação com o microempresário Renan Santos, 31 anos, resultou a formação do MBL. Santos é um antigo adversário petista. Na Faculdade de Direito da USP, em meados dos anos 2000, participava da política estudantil com o intuito de afastar simpatizantes do PT do comando do diretório acadêmico.

— Eu combatia o PT dentro da USP. Acabamos conseguindo vencê-los na Faculdade de Direito — conta Santos.

Depois de formado, se afastou da política até 2013, quando usou a internet para convocar uma manifestação contra o projeto que restringia a capacidade de investigação do Ministério Público. Em seguida, retomaria o antigo projeto de combater o PT. Logo depois da eleição, o MBL convocou a primeira manifestação na Avenida Paulista, quando compareceram cerca de 5 mil pessoas. Agora, sonham reunir 200 mil em São Paulo e 1 milhão em todo o país.

Kataguiri e Santos fazem do impeachment de Dilma sua principal bandeira. Outras organizações antigoverno, como a “Revoltados Online” e a “Vem Pra Rua”, têm suas próprias reivindicações e devem dividir espaço na Paulista com o MBL no domingo.A Vem pra Rua é a única que não exige a saída de Dilma.

— Não somos golpistas, golpe é o Mensalão e o Petrolão. Queremos defender o país do golpe, e já há razões para um impeachment — declara Santos.

Segundo os coordenadores do MBL, o que falta é uma clara demonstração popular de repúdio a Dilma.

Kim Kataguiri (MBL)

Kim Kataguiri, 19 anos, é um dos coordenadores nacionais do Movimento Brasil Livre e acaba de largar o curso de economia na Universidade Federal do ABC para se dedicar exclusivamente ao ativismo político. Apesar do movimento ser pulverizado, ele é o principal rosto do grupo na internet. Seu ativismo na web começou quando tinha 17 anos, antes do movimento organizar as primeiras manifestações. Em seu primeiro vídeo no youtube, Kataguiri quis dar uma resposta a um professor de economia da Universidade Federal do ABC (Ufabc) que defendeu o Bolsa Família durante um discussão na aula. Como era minoria na sala, preferiu fazer uma resposta online. “O vídeo se viralizou para além da universidade. Percebi que poderia usar a internet para fazer uma defesa dos valores liberais e criticar o assistencialismo do PT“, afirma.

 

Fábio Ostermann (MBL)

O cientista político gaúcho Fábio Ostermann, 30 anos, é o mentor intelectual do Movimento Brasil Livre. Com um currículo acadêmico que inclui passagens pela Georgetown University, nos Estados Unidos, e o International Academy for Leadership, na Alemanha, Ostermann ajuda a organizar as manifestações no sul do país, além de fóruns e palestras que defendem as ideias liberais, como o Fórum Pela Liberdade. No último domingo, foi responsável por promover uma aula pública “ABC do Impeachment“, no Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre. “Temos explicar que o impeachment é um mecanismo democrático garantido por nosso ordenamento jurídico. Vivemos no Brasil hoje uma situação limite que desafia a estabilidade das nossas instituições.

 

Rogério Chequer (Vem pra Rua)

O empresário Rogério Chequer, 46 anos, e seu Vem pra Rua são a voz da moderação das manifestações do dia 15. “Não somos a favor do impeachment até agora porque ela não pode ser responsabilizada por crimes anteriores ao seu mandato. Estamos na rua porque o povo está de saco cheio e quer mudança”, afirma. Inspirado nos tradicionais movimentos da Argentina, Chequer foi o primeiro a propor ao Vem pra Rua a ideia do panelaço que teve seu ápice durante o pronunciamento da presidente no último domingo. Sua aproximação com o PSDB, durante o segundo turno de 2014, fez com que muitos taxassem Chequer e seu movimento como tucano. “Não somos tucanos. É verdade que apoiamos Aécio no segundo turno, mas nossa simpatia a eles está em queda, falta ser mais combativo no papel de oposição.”

 

Marcello Reis (Revoltados Online)

Marcello Reis, 40 anos, é quem manda, sozinho, em todos os passos do Revoltados Online. O grupo existe há onze anos. Se nasceu com o intuito de “rastrear pedófilos”, a criação da comunidade no Facebook transformou, em 2010, o Revoltados Online em um grande movimento contra o governo petista. “Começamos a falar de política apenas no Facebook e, com isso, ganhamos esse cunho político“, afirma. Desde junho de 2013, ele e seus aliados defendem o impeachment já que o governo deve ser responsabilizado pelo “crime de responsabilidade lesa pátria“ por repassar, sob segredo de justiça, verbas a países africanos e Cuba. “Antes éramos defensores da intervenção militar. Após estudar mais a fundo, vi que há muitos meios democráticos para tirar a presidente“, afirma Reis.

 

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