Impeachment já é apoiado por 50,7% dos deputados federais do PMDB de Temer

Josias de Souza

A articulação suprapartidária pelo afastamento de Dilma Rousseff, que eraembrionária até a semana passada, ganhou consistência nos últimos dias. Em conversas ainda mantidas nos subterrâneos, os partidários do impeachment começaram a contar votos. Estima-se que 34 deputados federais do PMDB já se dispõem a votar a favor da abertura de um processo para tentar encurtar o mandato da presidente da República. Isso corresponde a 50,7% das 67 cadeiras que o partido do vice-presidente Michel Temer mantém na Câmara.

Duas novidades potencializaram os movimentos do grupo pró-impeachment: 1) depois de refugar um apelo de Dilma para retornar à articulação política do governo, Temer avalizou, por assim dizer, o entendimento dos governistas insatisfeitos com a oposição; 2) o presidente do PSDB, Aécio Neves, que relutava em apostar no impeachment como saída para a crise, já não se mostra avesso às conversas. Por meio de interlocutores, Aécio e Temer se aproximam. Discute-se a conveniência de um encontro entre os dois.

Embalados, os antagonistas de Dilma cogitaram formalizar nesta semana junto à Mesa diretora da Câmara a criação de uma frente parlamentar pró-impeachment. A constituição de frentes suprapartidárias está prevista no regimento interno da Casa. Mas o grupo achou melhor adiar a providência. Por quê? Os membros da frente teriam de se identificar. E passariam a sofrer o assédio do Planalto para mudar de posição. Avaliou-se que, taticamente, o melhor seria compor um movimento informal pró-impeachment. Algo que deve ser feito na próxima semana.

Numa soma parcial, a infantaria do impeachment é estimada em cerca de 200 deputados. O número é muito inferior aos 342 necessários para aprovar a abertura de processo contra Dilma. Mas já é o bastante para compor a maioria simples necessária à aprovação de recurso ao plenário contra o eventual engavetamento de um pedido de impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No cenário traçado pelo grupo que quer ver Dilma pelas costas, esse desengavetamento seria o suficiente para atrair ao Congresso os movimentos que mobilizam o asfalto contra a presidente.

Dilma farejou a tormenta que se arma contra ela no Legislativo. Ao longo da semana, reuniu-se com os três principais caciques do PMDB —os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, além do vice Michel Temer. Não foi o bastante para estancar a deterioração da cena política, agravada pelo derretimento dos indicadores econômicos e pela ameaça do ministro Joaquim Levy (Fazenda) de deixar o governo.

Na noite desta quinta-feira, após presidir uma operação ‘fica, Levy’, Dilma jantou com Lula no Palácio da Alvorada. Na conversa com a criatura, o criador revelou-se preocupado com o distanciamento de Temer e do PMDB. Recomendou a Dilma que redobrasse os esforços para manter do seu lado o vice e o partido dele. Simultaneamente, num encontro com empresários em São Paulo, Temer fazia comentários aziagos.

Coisas assim: “Hoje, realmente, o índice [de aprovação do governo] é muito baixo. Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. […] Se continuar assim, eu vou dizer a você, 7%, 8% de popularidade, de fato, fica difícil.”

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