Arquivo diários:27/03/2016

Prima Dilma pedalou tranquilamente de bicicleta no domingo de Páscoa em Porto Alegre

Dilma pedala na manhã deste domingo (27) de Páscoa em Porto Alegre (Foto: Vanderlei Fogaça/Arquivo pessoal)

Do G1 RS

Em Porto Alegre desde quinta-feira (24) para passar o feriado de Páscoa com a família, a presidente Dilma Rousseff manteve sua rotina de pedaladas e novamente saiu de bicicleta na manhã deste domingo (27). A presidente estava acompanhada de dois seguranças.

Ela foi vista por volta das 6h30 na ciclovia da Avenida Érico Verissimo. Vestia calça, casaco e tênis próprios para atividades físicas, além de óculos e capacete.

Dilma tem um apartamento na Zona Sul da capital, região por onde costuma pedalar, como fez na última sexta (25). Desta vez, ela alterou e estendeu um pouco o trajeto.

Desmantelo grande: grampo revela “fragilidade total” de proteção a dados no Planalto

A presidente Dilma Rousseff mexe no telefone do ministro Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa), durante evento em 2014
A presidente Dilma Rousseff mexe no telefone do ministro Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa), durante evento em 2014

Thiago Guimarães
Da BBC Brasil em Londres

As gravações de conversas telefônicas da presidente Dilma Rousseff mostram que a segurança da informação da principal instituição do Brasil varia entre “frágil” e “inexistente”.

Para Silvio Meira, professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, é “inconcebível” que a líder de um dos maiores países do mundo “fale com um telefone que não sabe de quem é nem a quê esse aparelho está submetido”.

“A fragilidade é total. Você tem uma situação em que o presidente da República corre o risco de ser gravado por alguém vigiado pela Polícia Federal numa das maiores investigações criminais da história do Brasil e onde claramente existia um potencial gigantesco dessa conversa ser gravada”, disse Meira à BBC Brasil.

As conversas de Dilma captadas pela PF integram uma série de interceptações telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluídas no inquérito da Operação Lava Jato. A Justiça Federal do Paraná divulgou os áudios e as transcrições na semana passada. No diálogo mais polêmico, Dilma diz a Lula que enviará seu “termo de posse” como novo ministro da Casa Civil, para uso “em caso de necessidade”. Investigadores interpretaram o diálogo como tentativa da presidente de evitar eventual prisão do antecessor.

Para Meira, o Brasil deveria se espelhar nos EUA, onde todas as conversas de interesse do Estado mantidas pelo presidente são seguras (criptografadas). Os diálogos não são gravados, segundo o especialista, mas a Casa Branca produz transcrições informais.”O presidente americano fala em comunicações seguras, como o primeiro-ministro da Inglaterra, França e Alemanha, mas não tem o direito de falar o que quiser sozinho. Ele não pode, por exemplo, ligar para outro e combinar um ataque nuclear, há todo um protocolo de comunicações de Estado, um grau de sofisticação alto”, afirma.

Sistemas de proteção

Criptografia é uma maneira de aprimorar a segurança de uma mensagem ou arquivo. A tecnologia embaralha o conteúdo para que ele só possa ser lido por quem tenha a chamada chave de criptografia, necessária para desembaralhá-lo.

A Abin (Agência Brasileira de Segurança) oferece uma série de equipamentos que podem garantir a segurança da comunicação da presidente e de funcionários de alto escalão. Há, por exemplo, telefone fixo e aplicativo para smartphones com criptografia de voz e dados, que empregam algoritmo matemático de propriedade e uso exclusivo do Estado brasileiro.

Questionada sobre os motivos pelos quais a presidente não usa a tecnologia oferecida pela Abin, como o telefone seguro, a Secretaria de Imprensa do Planalto informou apenas que “não comenta assuntos que possam interferir na privacidade ou na segurança da Presidência da República”.
Procurada pela reportagem, a Abin, que é sucessora no período democrático do SNI (Serviço Nacional de Informações), órgão de espionagem da ditadura militar (1964-1985), também não comentou.

Segundo Meira, para a conversa entre Lula e Dilma ser considerada segura, ambos teriam que ter usado telefones criptografados ou aplicativos de criptografia no smartphone. Segundo a Justiça Federal do Paraná, o telefone grampeado era usado com frequência pelo ex-presidente e pertence a um assessor do Instituto Lula.

Ironia de Snowden

O grampo envolvendo Dilma e Lula foi alvo de um comentário irônico de Edward Snowden, ex-assessor da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês).

Twitter/Reprodução

Edward Snowden abriu sua conta no Twitter em setembro de 2015

Em 2013, Snowden divulgou documentos ultrassecretos que mostram que a NSA teria espionado comunicações de Dilma e de outros líderes mundiais. Na época, os vazamentos causaram revolta no governo brasileiro e esfriaram as relações entre Brasil e EUA – Dilma chegou a cancelar uma visita de Estado a Washington em razão do episódio.

“Going dark (ficando no escuro, na tradução em português) é um conto de fadas. Três anos depois das manchetes de grampos de @dilmabr ela ainda está fazendo chamadas não criptografadas”, escreveu Snowden no Twitter. A expressão “going dark” remete ao uso de criptografia.

Meira afirma que o Brasil não avançou – e provavelmente até retrocedeu – em segurança da informação desde as revelações de Snowden. “De lá para cá, por exemplo, o sistema de e-mail de agentes de Estado que deveria ter mudado para sistema fechado, criptografado, continua igual. Continuamos mandando e-mail para agentes públicos em ministérios, em nível bastante alto, usando serviços como Gmail.”

O especialista diz que não se trata de um problema de tecnologia, mas de implementação de processos, pois os recursos para tornar as comunicações seguras estão disponíveis. Ele cita, por exemplo, que há aplicativos simples para criptografar troca de informações (voz e dados) por smartphones. “Não é um problema tecnológico, esse está resolvido há muito tempo. É de processos, métodos, compliance (política interna), responsabilização. É outro problema.”

Segurança nacional

Na primeira viagem após a divulgação dos grampos de Lula, na semana passada, a presidente Dilma criticou a interceptação de suas conversas e afirmou que se trata de um crime contra a Lei de Segurança Nacional.

Para Meira, engenheiro eletrônico pelo ITA, mestre em informática pela UFPE e doutor em computação pela Universidade de Kent (Inglaterra), o problema é outro.

“O problema que deveria estar sendo discutido por causa dessas gravações é como as comunicações da Presidência da República são tão rudimentares e estão sujeitas a tão poucos crivos a ponto de a presidente estar falando com telefones de quem a priori não se sabe nem de quem são?”, questiona.

Informada sobre as declarações do professor, a Presidência da República não comentou.

Pelascaridades: ‘fantasmas’ na boca do caixa

Comenta-se em grupos do WhatsApp que o Ministério Público do RN vai fazer uma operação caça fantasmas na Assembleia Legislativa.

O objetivo da operação poderá ser para pagar os ‘fantasmas’ na boca dos caixas quando forem receber seus vencimentos.

Pelo que sei, fantasma não saca dinheiro em caixas eletrônicos..

Vamos aguardar..

Pessoalmente não acredito, mas tem gente garantindo que um juiz de plantão atendeu o pedido do MP.

Dilma diz que aguenta pressão e analisa alternativas para evitar impeachment

Em Brasília

Sob intenso cerco político, Dilma Rousseff deixou impressionados os ministros com quem conversou nesta semana. Não sem motivo: com uma frieza a toda prova, ela expôs planos de governo para os próximos dias, meses e até para 2018. “Podem ficar tranquilos porque eu aguento bem a pressão. Sou resistente”, disse a presidente, ainda gripada, em uma das reuniões com a equipe.

Sem tempo, Dilma trocou a leitura frenética de livros pela análise minuciosa de mapas de votação na Câmara, onde uma comissão com 65 deputados vai definir o destino do impeachment. Ampliou o escopo, mirando em mais do que os 171 votos necessários para barrar o processo no plenário, e exibiu habilidade em decorar o Estado de cada parlamentar a ser fisgado.

A ordem é abrir o cofre, atender os aliados fiéis, desalojar os “traidores” e dividir o PMDB, que na terça-feira deve oficializar o divórcio do governo. Na estratégia do “tudo ou nada”, Dilma partiu para o varejo das negociações políticas, virou uma espécie de “ouvidora” dos insatisfeitos, coisa que sempre abominou, e montou um gabinete de crise permanente.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a nomeação suspensa como ministro da Casa Civil e aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal para saber se poderá assumir o cargo, atua de longe na coordenação geral dos trabalhos, sem pisar no Palácio do Planalto.

A batalha de comunicação do governo é agora direcionada para “vender” a imagem de Dilma como mulher “guerreira”, que lutou contra a ditadura e hoje enfrenta um “novo modelo de golpe”. Todos os dias, Dilma recebe no Planalto ou mesmo na residência do Alvorada líderes e dirigentes de partidos aliados, além de ministros do PMDB. Pede apoio e promete mudanças.

Deputados do PP e do PR informaram a ela que será difícil manter o aval ao governo se o PMDB desembarcar e alertaram sobre um possível efeito dominó em outros partidos.

“Foi um aviso de que o gato subiu no telhado. A ficha dela caiu, mas, por incrível que pareça, não se abateu”, contou um dos deputados que estiveram com a presidente. “Parece que, se morrer, vai morrer lutando”.

Numa contraofensiva arriscada, o governo decidiu, na quinta-feira, desafiar o vice Michel Temer – que comanda o PMDB e é chamado por petistas de “chefe da facção” -, exonerando o presidente da Funasa, Antônio Henrique de Carvalho Pires, homem de sua confiança.

Nos bastidores, auxiliares de Dilma afirmam que tudo será feito para enfrentar a “conspiração” do grupo de Temer e contemplar com cargos quem pode ajudar a derrubar o impeachment na Câmara. É uma disputa voto a voto, no mais fiel estilo do “toma lá, dá cá”.

Tática semelhante foi usada em dezembro, quando Dilma dispensou o vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, indicado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como retaliação à atitude do deputado de aceitar o pedido de impeachment.

Em conversas reservadas, Dilma mostra inconformismo com o fato de Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de corrupção na Petrobras, conduzir o processo que pode levar a seu afastamento. “Eu não cometi nenhum crime para justificar a interrupção do meu mandato. Brigarei até o fim”, diz ela, enquanto a Operação Lava Jato avança sobre o governo.

No PT há quem pregue até mesmo que, em caso de impeachment, Dilma recorra à Organização dos Estados Americanos (OEA). Nesse combate, há ainda táticas de guerrilha que circulam na internet, com ameaças de fim de programas sociais, como o Bolsa Família, se a presidente cair.

Foi após a campanha da reeleição, em 2014, que Dilma terminou de ler a biografia do ex-presidente Getúlio Vargas, escrita pelo jornalista Lira Neto. Não por acaso, outro dia voltou a dar uma espiada no terceiro volume, segundo relato de um ministro. “Tudo a seu tempo”, costumava dizer Getúlio, quando era pressionado. As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Nesta fase do impeachment, situação de Collor era melhor que a de Dilma, diz ex-presidente da Câmara

Adriano Brito – @adrianobrito
Da BBC Brasil em São Paulo

Ibsen Pinheiro presidiu a Câmara dos Deputados durante o processo de impeachment de Collor

A seu favor, a presidente Dilma Rousseff tem a capacidade de mobilização de setores historicamente próximos a seu partido, o PT. Por outro lado, na comparação com a mesma fase do processo de impeachment contra Fernando Collor, ela é alvo de um maior número de acusações de crime de responsabilidade.

Essa é a avaliação do deputado estadual Ibsen Pinheiro, líder do PMDB gaúcho e uma das principais testemunhas do início da queda do ex-presidente.

Segundo o peemedebista, que aceitou o pedido de afastamento do hoje senador e presidiu a Câmara dos Deputados durante o processo, o “clima” para o impeachment está em um “acelerado” processo de mudança, com uma piora da situação de Dilma por causa da delação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e da revelação de conversas com o ex-presidente Lula, mesmo que elas sejam consideradas judicialmente ilegais.

Ele faz uma previsão: se a votação for apertada, a presidente tende a escapar do impeachment. “Se for necessário convencer deputado, cantar deputado e contar deputado, é porque não haverá o clima avassalador que reduziu a pó a maioria que tinha o presidente Collor antes da votação”, diz, ao explicar que a situação à época foi definida por causa do “pequeno”, mas “vergonhoso” episódio do veículo Fiat Elba adquirido com recursos provenientes de corrupção.

Para Pinheiro, assim como Collor, os próximos fatos é que selarão o destino de Dilma. Confira os principais trechos da entrevista:

BBC – Em julho passado, o sr. disse à BBC Brasil que não via uma crise político-institucional e, por isso, não havia clima para impeachment. E agora?

Ibsen Pinheiro – Lembro de ter dito que faltavam dois elementos: o primeiro é técnico, é o jurídico, a tipificação da conduta. E o segundo é o político-popular. Ninguém cogita destituir o presidente por um fato menor, ainda que bem definido, como a pedalada fiscal. Não me parecia fundamento para um impeachment, e também não via a presença do sentimento popular.

Bom, as coisas se alteraram, especialmente após a delação do senador Delcídio do Amaral envolver a presidente e o ex-presidente Lula. Posteriormente, as gravações determinadas pelo juiz Sergio Moro trazem também a presença dos dois em atividade que, em tese, alguns já definem como tentativa de intervenção em investigação judicial. O que aí teria também a característica de configurar, em tese, crime de responsabilidade.

O sentimento popular agora tem um grau de mobilização espontânea muito significativo, e a definição do fato corresponde à tipificação do crime de responsabilidade.

Mesmo ainda sem comprovação, a delação do Delcídio piora muito a situação da presidente?

A comprovação é um pré-requisito essencial, mas, num processo de impeachment, o julgador, que é o deputado no primeiro momento e o senador no segundo, não é um técnico nem um jurista, salvo exceções.

Um exemplo concreto: houve um senador que foi gravado incidentalmente, pois o monitorado era seu interlocutor, por decisão de um juiz de primeiro grau. Logo faltava a decisão do foro especial, que é o Supremo. Falo do senador Demóstenes Torres (ex-DEM) e do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Num processo criminal, essa prova não pode ser usada, mas o senador perdeu o mandato por causa dessa conversa. Porque o julgamento político ocorreu: “não podemos ignorar esse fato, ele é verdadeiro e grave”. Então foi fundamento para a cassação.

É como se, no processo no Congresso, o imoral pesasse mais do que o ilegal?

Num processo político, o fundamento moral tem mais peso. Mas o peso decisivo é o fundamento político aliado à percepção dos fatos. Se o fato está comprovado, pouca relevância tem se essa comprovação surgiu com o devido processo legal ou por uma escuta ilegal.

A Comissão Especial está instalada, e já corre o prazo para a defesa da presidente. O que é determinante agora?

A primeira manifestação relevante da comissão vai ser a última, que é o parecer. Ela agora está fazendo reuniões que a rigor são preparatórias, não houve a defesa ainda. Ela vai ouvir especialistas, juristas, mas essa é uma atividade mais midiática do que de conteúdo. Embora possa ser útil, claro, para discutir em tese o problema.

Se formos comparar com o mesmo momento do caso Collor, em 1992, a situação de Dilma é melhor ou pior?

Melhor num aspecto e pior num outro. Pior porque o volume de acusações compatíveis com a definição do crime de responsabilidade é maior por causa da quantidade de delações, das entrevistas e das gravações.

No caso de Collor, as acusações pesadíssimas não eram contra ele, eram contra PC Farias. As acusações de cumplicidade eram importantes do ponto de vista político, mas não tiveram comprovação. A entrevista do irmão, do motorista, eram genéricas: Passavam a ideia de verdade, mas não tiveram comprovação. Um pequeno fato, e vergonhoso, foi o fator decisivo: o Fiat Elba.

E em que ponto Dilma está em melhor situação?

Ela pode estar minoritária, mas não está isolada. Ao contrário do Collor, foi candidata de um grande partido, o PT, e com apoio de um partido pequeno, mas com grande tradição política, o PC do B. E esses partidos têm base e têm inserção social, especialmente em alguns setores da vida sindical e estamentos sociais de grande vinculação política e ideológica com o PT. É um número significativo, como se viu nas manifestações a favor do governo.

Eu diria que a opinião pública mobilizou-se a favor do impeachment, esse é o sentimento generalizado. Mas que os setores dos quais o PT tem ramificações, influência e história, junto com o PC do B, têm uma capacidade de mobilização significativa.

Se o sr. pudesse fazer uma aposta agora, diria que ela vai cair?

Não há clareza hoje para afirmar. Escuto e leio com frequência que a presidente precisa de 172 votos. Não, não precisa. Ela precisa que os votos contra, as abstenções e as ausências somem 172 deputados.

Então, em vez de responder sim ou não, vou responder condicionado: se for por votação apertada, acho que não passa (o impeachment). Se for necessário convencer deputado, cantar deputado e contar deputado, é porque não haverá o clima avassalador que reduziu a pó a maioria que tinha o presidente Collor antes da votação.

Esse clima existe agora?

O clima está em um processo de mudança muito acelerado. E ele depende de fatos também. Doutor Ulysses (Guimarães) dizia que tudo é importante na vida política, mas a cadeira principal pertence à sua excelência, o fato. Não posso adivinhar nem especular, mas pode ocorrer algo que altere profundamente a situação.

Lembro que o Collor, no começo, tinha do seu lado duas das maiores bancadas – o PDS, antiga Arena, e o PFL. E tinha outra bancada grande, que era de quase uma centena de deputados do PMDB. Sei bem porque era o líder da bancada, tínhamos 235 deputados. E desses, quase uma centena votou a favor do confisco da poupança, embora a liderança tenha combatido tenazmente. E votaria com o Collor no caso do impeachment.

Mas a sucessão dos fatos – a entrevista do irmão, do motorista, o Fiat Elba -, devastou (o apoio).

O PMDB está ensaiando um rompimento com o governo. Como o senhor avalia isso?

É uma profunda alteração e aceleração de um sentimento do PMDB. Vejo festejando de um modo singular, porque o PMDB gaúcho foi contra essa coligação antes da eleição. Tivemos de dizer ao Michel Temer que o apreço que tínhamos por ele não seria afetado, mas nós não votaríamos na chapa que integrava.

Nunca quisemos essa parceria porque nunca apreciamos as políticas públicas do PT. Entendemos como profundamente equivocado você fundamentar políticas sociais no endividamento. Isso é cruel com os supostos beneficiários. Porque, quando essa política não se sustenta, são os mais vulneráveis que pagam a conta.

Não fizemos nenhuma indicação ao governo Dilma. Não houve nenhum representante do PMDB gaúcho.

Mas o Eliseu Padilha esteve lá, na Aviação Civil.

Mas não representava o PMDB gaúcho. Foi porque recebeu um convite pessoal. Antes dele foi o Mendes Ribeiro (na Agricultura, morto no ano passado). Nós convivemos com isso, o PMDB não expulsa os seus divergentes. Ainda bem, porque já fui divergente. Eles não representavam o PMDB gaúcho. Representavam o PMDB nacional? Pode ser.

Agora, o sentimento pela saída é muito forte. Nesta semana o deputado Osmar Terra, na reunião da Executiva, nos informou que já são 13 os diretórios estaduais que apoiam o afastamento. Treze é a um diretório da maioria absoluta. Embora a votação não seja por diretório, e sim por membro do Diretório Nacional, intuo que está se construindo um sentimento muito amplo pelo afastamento.

Não sei se é necessariamente pelo impeachment, não é isso que estará se votando.

Por quê?

Houve um fato que agravou em muito (a relação), que foi a posse do ministro Mauro Lopes (deputado do PMDB, na Aviação Civil). Ora, foi uma decisão unânime da Convenção Nacional que o PMDB, neste prazo para estudar o afastamento, não aceitasse nomeação.

O PMDB não gostou da atitude de seu deputado e não gostou também da atitude da presidente, pareceu uma afronta ao PMDB. Ela poderia ter esperado mais duas semanas para fazer a nomeação depois da reunião do Diretório Nacional. Este fato incrementou enormemente a tendência pelo afastamento. É o mais provável hoje.

Mas o partido não fica numa situação complicada, já que também tem sido implicado nas delações e nas investigações da Lava Jato?

A delação premiada, quando aponta o nome, isso não é bom para quem é apontado. Mas não basta dizer que fulano também participou porque indicou, nomeou, pois isso não pode ser crime de responsabilidade. Senão a Dilma responderia pelos atos de todos os quadros que ela nomeou.

Não se vê em relação ao Temer uma prova, nem sequer uma acusação. A não ser a de ter responsabilidade política nas nomeações do PMDB. Mas crime de responsabilidade, não há nenhuma acusação.

E não é complicado sair depois de todos esses anos ao lado do PT?

Se o PMDB se afasta, poderá dizer a verdade, que é convincente: que esteve durante anos no governo, mas não esteve no poder, que está nas mãos exclusivamente do presidente da República.

O PMDB esteve no governo com ministros, mas nunca esteve no poder, que é o que define o principal: a política econômica, a financeira, a externa, a de defesa. Tudo isso é o presidente sozinho.

O sr. dizia acreditar que Eduardo Cunha não agiria “com seus humores” sobre o impeachment. Mas ele acabou aceitando o pedido logo após ficar claro que o PT votaria contra ele no Conselho de Ética…

Tenho a impressão que ele agiu olhando para o seu projeto de sobrevivência. Isso não chega a ser anormal, o político está sempre vinculado à sua sobrevivência ou a seu crescimento político. Por isso alguns erros graves se praticam.

Na véspera eu disse: ele vai acolher o pedido. Porque a sobrevivência dele, o cacife dele, está na administração do processo de impeachment. Isso foi tão verdadeiro que em grande parte, por causa disso, ele conseguiu trabalhar o retardamento do seu processo no Conselho de Ética.

Há um processo de sustentação mútua e recíproca entre a Presidência da República e a Presidência da Câmara. Ambas se sustentam uma com o fantasma da outra. Mas, a essa altura, esse fator é irrelevante. Há uma consciência clara de que a pauta tem como primeiro ponto o impeachment, e depois fica aberta para a questão do processo de cassação.

O sr. acha que o Cunha, como réu da Lava Jato e alvo de processo de cassação, tem condições de tocar o processo de impeachment?

O quadro perfeito seria que o presidente da Câmara tivesse imparcialidade e uma imagem intocada. Mas infelizmente a escolha nem sempre é feita por esse critério. Então se elegem pessoas com imagem desgastada, devastada. Às vezes injustamente. Outras vezes com procedência bem clara, como é o caso atual.

Mas na função de presidir (o processo), o perfil moral do condutor não é relevante. Porque a legalidade é muito precisa, muito clara, muito expressa. O que ele tem de fazer, está fazendo. A Câmara instituiu a Comissão Especial, que vai dar um parecer, que vai a voto. Sim, não, abstenção e ausência. A Presidência da Câmara tem um papel importante na condução formal, mas no conteúdo não tem papel nenhum.

Cuidado: por trás do combate aos corruptos existem outros intereses

A movimentação para derrubar Dilma num golpe pelos operadores do direito já está mais avançada do nós podemos imaginar.

O objetivo é colocar o presidente do STF, Ricardo Lewandowski  na Presidência da República, que por sinal resiste ao movimento.

O golpe comprometeu toda linha de sucessão com investigações, o presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente do Senado Renan Calheiros. Está escapando o vice-presidente da Michel Temer, mas, também tem problemas na Justiça Eleitoral pelo fato de ter sido candidato na chapa liderada por Dilma acusada de receber ajuda financeira não contabilizada.

Bastou Serra ser lembrado para compor o provável governo Temer para recentemente o STF desarquivar investigações de suspeita de improbidade praticadas pelo ex-ministro do PSDB no governo Fernando Henrique.

Seja quem for da classe política não será solução para o Brasil. Querem alguém sem votos.

A estratégia é simples, primeiro eles prendem e depois negociam delações premiadas que comprometam a classe política. Os delatores estão escapando, Delcídio é o maior exemplo.

Quem ganha e quem perde com o golpe:

A classe política perde como um todo, ela será refém dos golpistas.

O Poder Judiciário será o poder mais forte da nação, ainda terá aprovada o projeto da Lei Orgânica da Magistratura Confira aqui que é um verdadeiro pacote de privilegiativos descabidos para magistrados.

O Ministério Público também será beneficiado pela aprovação da LOMAN-Lei Orgânida da Magistratura Nacional que tem efeito cascata. O Ministério Público, sabidamente, aproveitando o sentimento nacional, pretende aprovar um projeto de Lei de autoria popular denominado de 10 medidas contra a corrupção, que sendo melhor analisado verifica-se que trata-se de um projeto que colocará o MP como a instituição com mais força no pais, com técnicas de investigações criadas pelos nazistas. Sendo aprovado, o Poder Judiciário será garroteado pelo Ministério Público. Dois milhões de brasileiros assinaram a proposta sem ler e conhecer seu teor. Hoje aqueles que foram a favor da PEC 47 estão estarrecidos e arrependidos. Numa democracia não pode haver distorção de forças nas instituições. O MP não é um poder, mas poderá ser a instituição mais forte do Brasil. Quem fiscaliza o MP? O Conselho Nacional deles? Isso é mesmo que colocar um vampiro tomando conta de um banco de sangue.

Os poderes legislativo e executivo serão poderes subsidiários do judiciário perdendo forças.

A Polícia Federal ganhará sua autonomia administrativa, orçamentária é financeira e rapidamente entrará em guerra com o Ministério Público disputando forças.

OAB está calada, querendo que o mar pegue foco para comer peixe frito. Numa república judicializada, o sistema é uma verdadeira industria de denuncias que promoverá uma demanda muito grande para os advogados.

Os grandes veículos de comunicação continuarão ganhando, eles sempre estiveram ao lado do poder de plantão.

A grande industria ganhará o controle da economia nacional, e quando economia deixa de ser controlada pelo mercado e passa a ser controlada pelos banqueiros e industriais o desmantelo está decretado.

Os grandes vencedores serão os grupos internacionais que querem controlar nosso Pré-sal. Eles estão dividindo o Brasil para enfraquecê-lo e levar nossa maior reserva mineral que deveria ser a nossa redenção. Lembre-se que uma casa dividida não prospera. É fato que toda essa sanha e discórdia só iniciou depois da descoberta do Pré-sal. Os americanos fazem o mesmo com a Venezuela que tem a maior reserva de petróleo do planeta. Como pode brasileiro pagar um dólar por litro de gasolina tendo uma reserva como o Pré-sal? Tem alguma coisa errada! Acho que não é apenas o desmantelo da Petrobras com a corrupção o motivo do preço dos combustíveis.

Quem está perdendo com tudo isso é o brasileiro. O sentimento de intolerância insuflado por quem quer dividir o Brasil causa uma cegueira no povo provocando uma intransigência que dificulta a compreensão dos dois lados da moeda.

O brasileiro perde sua verdadeira democracia, pois mesmo havendo eleições o povo votará mas não escolherá seus representantes. Os ‘representantes’ do povo serão eleitos fruto do poder econômico e controlados pelo judiciário.

Na minha modesta opinião, o Brasil precisa ser resetado, temos que convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para começar do zero. A Constituição de 88 é uma carta das minorias que foi mutilada e deformada ao longo de sua vigência. É preciso devolver poderes aos Estados, deixar eles se organizarem dentro de suas peculiaridades. A realidade do Rio Grande do Sul é diferente da nossa aqui no Rio Grande do Norte. Temos que estabelecer limites para o Governo Federal que controla tudo e não resolve nada.  Entendo que o Brasil deveria adotar o parlamentarismo, assim teremos governos com controle popular com possibilidade de serem mudados em caso de fracassos. Como podemos viver numa democracia se temos apenas 45 dias de campanha para você ouvir e conhecer propostas de candidatos que vão representa-lo? Assim não surgira novos políticos para renovar nosso país.

O golpe de 1964 foi dado em nome da ‘ameaça comunista’ e da ‘corrupção’.

Vamos entender o que está acontecendo.

Aceito e agradeço opiniões divergentes.

Bom domingo de Pascoa para todos.

Primo Renato Dantas