JEAN-PHILIP STRUCK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BONN
Parecia mais um turno noturno banal para o ferramenteiro Lúcio Bellentani, então com 27 anos, na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP). Mas naquela noite de 29 de julho de 1972 ele foi abordado por um grupo armado de agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e seguranças patrimoniais da empresa em plena linha de produção.
Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e funcionário da VW desde 1964, Bellentani foi levado para uma sala do departamento pessoal da empresa. A tortura começou ali mesmo –sob olhar do próprio chefe da segurança da VW e de outros funcionários. “Queriam saber de outros para eu delatar. Levei socos, tapas e pontapés.”
Bellentani, hoje com 72 anos, foi levado para a sede do Dops em São Paulo e permaneceu mais de 40 dias sem contato com sua família. A empresa também não fez questão de avisar sua mulher sobre o que havia acontecido. Ele só sairia da prisão um ano e meio depois.
O caso é um de mais de uma centena de episódios que estão sendo analisados por um historiador contratado pela matriz alemã da Volkswagen. O objetivo: desnudar a colaboração da filial brasileira com a repressão do regime militar (1964-1985).
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