ESPORTE MACHISTA? Público ignora transmissão só com mulheres, e canal da Fox é lanterna da Copa

Vanessa Riche, Isabelly Morais e a goleira Bárbara Barbosa fizeram a transmissão de Brasil x Suíça - Reprodução/Twitter

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A iniciativa do Fox Sports 2 de apostar em uma transmissão completamente feminina para a Copa do Mundo da Rússia, apesar de louvável, não tem se traduzido em audiência. Segundo levantamento obtido pelo Notícias da TV, o canal é o menos visto entre os que estão transmitindo o Mundial. Fica atrás dos três Sportvs, do Fox Sports principal e até do Esporte Interativo, que não tem os direitos da competição.

Na última quarta (20), por exemplo, o Fox Sports 2 teve uma média de apenas 3.840 espectadores por minuto ao longo das 24 horas do dia no PNT (Painel Nacional de Televisão), que mede a audiência nas 15 principais regiões metropolitanas do Brasil. O Sportv foi visto por 205.508 pessoas, um índice 52 vezes maior.

Com homens dominando a cobertura, o Fox Sports 1 teve média de 59.580 espectadores por minuto, 14 vezes acima da audiência de sua versão feminina. Já os Sportv 2 e 3 registraram, respectivamente, 17.580 e 8.060 pessoas em média.

A surpresa fica por conta do Esporte Interativo, que conseguiu um empate técnico com o Sportv 3. Em média, o esportivo da Turner foi visto por 8.010 espectadores. Sem os direitos da Copa, o canal apostou em uma programação alternativa, que incluiu a transmissão de eSports (torneios de videogame), mesas-redondas e até uma partida entre Avaí e Atlético-PR pelo Brasileirão de Aspirantes, torneio sub-23.

No domingo (17), dia em que a seleção brasileira entrou em campo pela primeira vez na Rússia, a equipe feminina da Fox se saiu melhor e chegou à média de 5.880 espectadores por minuto ao longo das 24 horas. Superou (por pouco) o Esporte Interativo, que teve público médio de 5.460. Mas ficou bem atrás do Sportv (366.080) e do Fox Sports com homens (102.960).

A ESPN, que não tem os direitos de transmissão do Mundial mas tem apostado em uma cobertura improvisada do evento, com profissionais que comentam em tempo real o que está acontecendo nos gramados russos, teve média de 2.910 espectadores por minuto. Só ficou à frente do Bandsports (1.390).

Os números da Kantar Ibope mostram que o público rejeitou a transmissão 100% feminina. Reiteram que o futebol ainda é um esporte machista. E não é apenas no Brasil. Na Inglaterra, por exemplo, o jogador John Terry publicou em seu Instagram que estava assistindo ao confronto de Portugal e Marrocos sem som para não precisar ouvir a locutora Vicki Sparks, responsável pela transmissão na BBC.

Para quebrar barreiras
A Fox investiu pesado para transformar a cobertura do Fox Sports 2 em algo inovador. Promoveu um concurso para encontrar três mulheres locutoras e escalou Isabelly Morais para ser a primeira mulher da história da TV brasileira a narrar uma partida de Copa do Mundo.

Ao Notícias da TV, Isabelly afirmou que estava ciente do mundo machista em que estava inserida. “A mulher que decide trabalhar com futebol é testada diariamente. Na primeira vez que narrei em Minas, vi muitos comentários de gente sem noção, mas tem que saber lidar com isso. Eu decidi me expor numa área e eu sabia que teria consequências”, disse.

Já a apresentadora Lívia Nepomuceno defendeu que o crescimento das mulheres no jornalismo esportivo não deve ser encarado pelos homens como uma competição. “Não é uma disputa de gêneros, de quem sabe mais. Acho que tem espaço para todo mundo, e acho que quem ocupar esse espaço precisa mostrar competência. Não adianta peitar, porque o machismo não vai acabar da noite para o dia.”

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