Dor de cabeça tem mais de 200 tipos; veja como identificar e evitar a sua

iStockFabiana Stelina

Colaboração para o UOL VivaBem

Dificuldade para abrir os olhos, se mover, conversar com as pessoas e se concentrar. Quem sofre de dor cabeça (cefaleia) conhece bem os transtornos causados por ela. E não é pouca gente: pelo menos 70% da população enfrenta essa mal –principalmente entre pessoas de 20 a 40 anos –, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).

Embora a maioria das cefaleias não signifique uma doença grave, é preciso ficar atento. Algumas pessoas chegam a ter crises toda semana e isso deve ser um sinal de alerta. “Existem mais de 200 tipos de dor de cabeça e identificar seus sintomas podem ajudar o médico a determinar a causa e o tratamento adequado“, explica Célia Roesler, diretora da Sociedade Brasileira de Cefaleia e vice-coordenadora do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia.

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A saída para amenizar o problema é começar uma investigação detalhada para saber de onde vem a dor. A dica é criar uma agenda e anotar nela todas as crises sofridas no período de um mês.

“Com essas informações fazemos uma análise: a dor foi quando acordou? No final da tarde? Quantos dias na semana? Cada um desses dados é muito importante para traçar o perfil e um diagnóstico certeiro ao paciente”, comenta Roesler.

Cada caso tem que ser analisado de uma forma única, pois a dor pode estar relacionada à falta de sono, ao estresse, a outras doenças patológicas como sinusite e meningite e até mesmo a um tumor.

Os tipos de dor de cabeça

Apesar de haver mais de 200 tipos, os especilistas destacam três vertentes relacionadas à dor de cabeça: a enxaqueca, a cefaleia em salvas e a cefaleia tensional.

Enxaqueca

É um tipo de dor de cabeça que pode ocorrer em determinados momentos da vida, de maneira esporádica, ou com bastante frequência, de maneira crônica.

Existem basicamente dois tipos: a com aura (menos comum) e sem aura (mais comum). A aura é uma manifestação neurológica em que os pacientes com enxaqueca referem antes da crise. Dura em geral de 5 a 20 minutos e é caracterizada por alterações visuais (pontos luminosos, visão em túnel ou perda da visão de um dos lados), formigamentos no braço ou na perna, tontura e, mais raramente, alteração de fala ou da força muscular.

Os fatores que contribuem para a enxaqueca são genéticos, ou seja, histórico familiar de enxaqueca torna o indivíduo mais suscetível ao problema. Fatores hormonais também pesam, especialmente para as mulheres, que estão mais propensas a ter enxaqueca durante seu ciclo de vida reprodutivo.

A relação entre anticoncepcionais e enxaqueca também deve ser ressaltada. Embora em algumas circunstâncias eles possam ser a própria causa da dor.

Sintomas: 

  • Dor forte, pulsante, de um lado da cabeça;
  • Dor que piora com a prática de atividades físicas;
  • Presença de enjoo e, às vezes, vômito;
  • Luz e barulho incomodam mais do que o normal, piorando a dor;
  • Ausência de outros problemas clínicos ou neurológicos que justifiquem a dor.

Cefaleia tensional 

A dor é bastante comum. Em geral, dura de 30 minutos a sete dias e é sentida dos dois lados da cabeça. É de leve a moderada intensidade e não piora com atividade física.

Diferentemente da enxaqueca, a cefaleia tipo tensional não está associada à náusea ou vômitos, mas também pode causar o aumento da sensibilidade à luz ou ao barulho.

Para as crises, analgésicos simples e anti-inflamatórios com relaxantes musculares auxiliam bastante. Já o tratamento preventivo, em geral, é feito com relaxantes musculares isoladamente e/ou medicações da família dos antidepressivos, independentemente de existir o diagnóstico de depressão.

Sintomas: 

  • Leve dor ou pressão na frente, topo ou laterais da cabeça;
  • Dor de cabeça que ocorre no final do dia ;
  • Dificuldade em adormecer e manter o sono;
  • Fadiga crônica;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Sensibilidade à luz ou ruído;
  • Dores musculares.

Cefaleia em Salvas

É um tipo raro, mais comum em homens do que em mulheres. A dor acontece apenas de um lado da cabeça, com duração de cerca de 30 minutos a, no máximo 2 horas.

Curiosamente, o tratamento da crise de cefaleia em salvas é diferente de todas as demais e inclui, especialmente, oxigênio fornecido preferencialmente em máscara com reservatório.

O tratamento preventivo é necessário e inclui, dentre outras medicações, anti-hipertensivos ou anticonvulsivantes. A cefaleia em salvas é investigada por meio de uma ressonância magnética de crânio, usualmente normal.

Sintomas: 

  • Olho vermelho unilateral;
  • Olho caído;
  • Lacrimejamento;
  • Congestão nasal;
  • Agitação intensa;

O que pode causar a dor de cabeça

ansiedade, o estresse, a dor da pós-verdade, a autoexigência e o barulho foram as principais causas da dor de cabeça apontadas por um estudo conduzido pela empresa WGSN Mindset.

Realizado em março deste ano, o levantamento, feito com base no comportamento da população, mostra que a maioria dos gatilhos da dor de cabeça está relacionada a questões externas como estresse e falta de sono, mas também fatores emocionais e à crescente influência da tecnologia na rotina.

Ansiedade

O transtorno de ansiedade é marcado por sintomas como a dificuldade de concentração, problemas no sono, preocupação excessiva e uso da alimentação como válvula de escape. “Também pode causar dores sem justificativa física, como a própria dor de cabeça”, explica a psicóloga Juliane Peres Mercante, especialista em cefaleias e doutora pelo departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP (Universdidade de São Paulo).

De acordo com a pesquisa, para combater esse cenário, é importante investir em momentos de interação social que proporcionem calma, em espaços que reduzam a ansiedade e em técnicas para relaxar e aprimorar a qualidade do sono.

Esgotamento cerebral

Já quando a causa é provocada por estresse, o foco passa a ser um desafio. Cada vez mais as pessoas estão criando a cultura da distração, em que tentam prestar atenção em tudo ao mesmo tempo, mas não estão efetivamente concentradas.

“A sobrecarga de informações, principalmente com o aumento do consumo de conteúdo digital, pode ocasionar um esgotamento do cérebro e o aumento do estresse. Ambas situações podem desencadear a dor de cabeça e devem ser combatidas por meio de uma aposta em um estilo de vida mais saudável e equilibrado”, reforça Roesler.

A dor da pós-verdade

A dor da pós-verdade pode ser definida como a situação na qual os fatos têm menos influência na opinião pública do que o apelo à emoção e as crenças pessoais. Ou seja, cada vez mais as pessoas tratam os fatos como opiniões, descartando aqueles que não gostam. “A busca incessante pelo que é real pode criar momentos de estresse e tensão, gerando uma possível dor de cabeça”, completa a psicóloga.

Os resultados da pesquisa recomendam que as pessoas procurem utilizar a tecnologia a seu favor, apostando em soluções que as ajudem a verificar, por exemplo, o que é ou não verdade.

Autoexigência

A busca pelo perfeccionismo é constante e contribui para o aumento da ansiedade na população. A cultura do perfeito, o que é prejudicial à saúde, principalmente quando o assunto é alimentação. A autoexigência tem relação direta com a alimentação.

No fluxo de “preciso ser bom em tudo”, o conceito do se alimentar bem é constantemente confundido. Comer saudável contempla consumir o que gostamos e de forma equilibrada. “Na falta de algum nutriente, em dietas restritivas ou com o mau funcionamento do intestino e na presença de problemas digestivos, o corpo pode reagir e desencadear uma dor de cabeça”, alerta a nutricionista Marcia Daskal.

Barulho

Fortes ruídos trazem angústia e causam estresse. Segundo uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde, 3% dos ataques cardíacos e derrames cardíacos fatais na Europa são causados pelo ruído do trânsito.

Além de prejudicar a audição, o barulho em excesso pode ocasionar distúrbios de sono, estresse e problemas psicológicos –algumas das principais condições para o surgimento da dor. “As pessoas precisam garantir maneiras de ter momentos de silêncio em sua rotina, seja no ambiente de trabalho, na rua ou em casa”, completa a médica.

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