PGR tenta usar preventiva no lugar da condução coercitiva, diz Marco Aurélio

Por Ana Pompeu

O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, autorizou diligências de busca e apreensão em endereços do senador Aécio Neves (PSDB-MG), de sua irmã Andréia, e dos deputados Paulinho da Força (SD-SP), Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Benito Gama (PTB-BA). Mas negou todos os pedidos de prisão preventiva e proibiu a Polícia Federal de fazer diligências nos gabinetes dos parlamentares, para preservar os mandatos.

PGR tem autoridade para intimar testemunhas e não precisa usar prisão preventiva como substituta da condução coercitiva, afirma o ministro Marco Aurélio
Nelson Jr./SCO/STF

De acordo com o ministro, a Procuradoria-Geral da República estava tentando usar a prisão preventiva como substituta da condução coercitiva, para forçar Aécio a dar depoimento, o que é inconstitucional. As conduções de investigados foram proibidas pelo ministro Gilmar Mendes e a decisão foi confirmada pelo Plenário do STF. A PGR já tem autoridade para intimar testemunhas, lembrou o ministro Marco Aurélio, na decisão desta terça-feira (11/12).

Os parlamentares são acusados de receber propina de R$ 128 milhões do Grupo J&F entre 2014 e 2017.

“Tendo em vista não agasalhar a ordem jurídica a automaticidade da prisão, impróprio é cogitar da custódia a partir da simples gravidade dos fatos apurados”, pontuou o relator ao negar os pedidos de prisão temporária feitos tanto aos parlamentares quanto aos outros dois envolvidos — estes não sendo investigados ou não estando sob a competência do STF por não terem prerrogativa de foro”, escreveu o ministro, na decisão desta terça.

Para Marco Aurélio, a liberdade de Aécio não representa risco para a ordem pública. “Descabe-se partir da capacidade intuitiva, olvidando-se que a presunção é de postura digna, ante o fato de o investigado estar submetido aos holofotes da Justiça”, disse o ministro na decisão.

As informações que embasaram a ação da PF são das delações de Joesley Batista e Ricardo Saud. Em troca da propina, segundo as investigações, Aécio interveio junto ao governo de Minas para viabilizar a restituição de créditos de ICMS de empresas do grupo J&F, que controla a JBS. Os valores pedidos e recebidos pelo tucano seriam compra de apoio político para as eleições de 2014 à Presidência da República. O montante teria sido distribuído para partidos como o Solidariedade, o PTB e o DEM.

De acordo com as investigações, em 2015, Aécio pediu a Joesley Batista mesada de R$ 50 mil. A PF afirma que o parlamentar recebeu pelo menos R$ 1,35 milhão em 17 pagamentos de R$ 54 mil entre julho de 2015 e junho de 2017 por meio da Rádio Arco Íris, sediada na capital mineira e de propriedade de Andrea Neves, irmã do senador. As transações teriam sido lavadas como serviços fictícios em favor do Grupo J&F.

Em nota, o advogado Alberto Toron, que defende Aécio, explicou que o dinheiro recebido por Aécio de Joesley é doação para a campanha. “É preciso que se esclareça que os recursos referidos pelos delatores da JBS são as contribuições eleitorais feitas à campanha do PSDB em 2014 e devidamente registradas na Justiça Eleitoral”, afirma.

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