O Japão, onde imóveis minúsculos e códigos rígidos de convívio fazem parte da cultura, o atendimento a esse público chegou ao extremo. Lá, estão se popularizando os “cuddle cafes”, locais onde é possível pagar para dormir de conchinha. Em 2012, foi inaugurado o primeiro, no distrito de Akihabara, em Tóquio, chamado Soineya, que literalmente significa “dormir juntos”.
Os clientes, todos homens, precisam pagar uma taxa para entrar no estabelecimento. Os preços variam de acordo com o tempo gasto com o serviço: entre US$ 40 para vinte minutos, e US$ 645 para uma noite completa de 10 horas. Para quem deseja ainda mais calor humano, há pacotes opcionais que incluem itens como troca de olhares. Inspirados na experiência oriental, empresários de Nova York e Portland, nos Estados Unidos, e Vancouver, no Canadá, estão abrindo negócios semelhantes, porém para atender também as mulheres.
O surgimento de tantos produtos para este, digamos, mercado da solidão, levanta algumas questões: estar só é uma escolha, uma busca do sujeito pós-moderno, ou uma condição imposta pela vida contemporânea, marcada pela fragilidade dos laços afetivos? Existe uma dose segura e aconselhável de solidão? O historiador Leandro Karnal publicou em 2018 um livro com discussões semelhantes: “O dilema do porco espinho – como encarar a solidão” (Ed. Planeta).
Já na introdução, ele nos expõe o paradoxo por meio da metáfora do porco-espinho, usada pela primeira vez pelo filósofo Arthur Schopenhauer: assim como aquele animal, precisamos nos unir para nos proteger do frio. A proximidade, no entanto, espeta, machuca. E, então, nos afastamos. A vida moderna, onde quase tudo é possível, impõe o dilema: “Quero estar sozinho, quero companhia e gostaria de controlar esses dois momentos de acordo com minha vontade. Não é possível. A busca do equilíbrio tem sido um desafio constante para estimular casamentos e divórcios”, escreveu.
A SOLIDÃO COMO DOENÇA