Caroline Campagnolo: “O feminismo é uma ameaça à civilização ocidental

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A deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC)Imagem: Reprodução/Facebook

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL

Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC), 28 anos, é uma deputada estadual forjada em polêmicas. O nome da professora e historiadora apareceu no noticiário nacional em 2016, quando ela processou a sua ex-orientadora selecionada para participar da banca avaliadora de sua dissertação de mestrado. Campagnolo se dizia perseguida ideologicamente.

O caso ganhou repercussão. A jovem de Itajaí (SC) transformou-se numa das mais famosas militantes do movimento Escola sem Partido, que prega o controle de supostos abusos políticos cometidos por professores.

O reconhecimento a ajudou a eleger-se parlamentar em 2018. Logo após a vitória, ainda antes do segundo turno da disputa presidencial, Campagnolo fez um chamado público para que alunos gravassem e denunciassem posicionamentos de mestrescontra o então candidato Jair Bolsonaro (PSL) — fato que a envolveu em uma nova briga judicial.

O Ministério Púbico de Santa Catarina (MP-SC) pediu que a deputada eleita tirasse o pedido feito a alunos de suas páginas nas redes sociais. Campagnolo recorreu à Justiça e conseguiu uma liminar da desembargadora Maria do Rocio Luz Santa Ritta autorizando a divulgação do chamado. Na sexta-feira (8), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin derrubou a decisão.

Dois dias antes disso, Campagnolo concedeu uma entrevista ao UOL. Ratificou que um de seus compromissos como deputada será lutar pelo fim da “doutrinação” em escolas do país. Defendeu também o combate ao feminismo pelo bem da humanidade.

Leia abaixo um resumo da conversa com a deputada:

UOL: A senhora incentivou alunos a gravar e denunciar supostos abusos político-partidários de professores em sala de aula durante a eleição presidencial. Justificou o chamado público dizendo que isso era uma de suas promessas de campanha. Agora eleita, como a senhora pretende monitorar o trabalho dos professores?
Ana Caroline Campagnolo: Existem ideias. Tramitou aqui na Alesc [Assembleia Legislativa de Santa Catarina] um projeto baseado no Escola Sem Partido. Ele está arquivado, mas provavelmente será desarquivado. Há também a sugestão da desembargadora Maria do Rocio Luz Santa Ritta, que fala que não haveria problema em instalar de câmeras em sala de aula.

Uma lei sancionada em Alagoas, cujo projeto baseou-se no Escola sem Partido, foi suspensa por liminar do Supremo Tribunal Federal em 2016. A senhora acredita que isso mude?
Estamos vivendo um novo cenário. Acredito que decisões judiciais podem mudar. Juízes não são deuses. Vejo uma possibilidade porque os princípios defendidos pelo Escola Sem Partido são constitucionais. O projeto defende que o professor não pode humilhar um aluno porque ele tem uma determinada opinião; não pode fazer chacota dele. Pode até ser que o STF entenda que o formato de uma lei seja inconstitucional, mas o princípio dela é legal.

Monitorar aulas por câmera é viável? 

Já há exemplos. Existe uma escola pública do município de Itajaí (SC), que tem câmeras instaladas em todas as salas de aula e corredores. Eu lecionei lá por seis meses. Aliás, não só existem escolas monitoradas como crescem o número de videoaulas.

Agora veja: há algum ataque à democracia quando você faz uma faculdade à distância ou assiste a uma aula gravada? De forma alguma. É um avanço tecnológico. O professor pode dar aula para uma multidão e ela ser revista. É o que fazem muitos palestrantes.

Como é trabalhar numa sala de aula e ser monitorada por câmeras?
Sem problema algum. Também sou professora de institutos que trabalham com aulas integralmente gravadas. Não vejo problema. Acho, inclusive, que o nível das aulas melhora quando o professor sabe que sua aula vai ser assistida por um adulto. Eu, quando sei que vou ser gravada, eu preparo minha aula melhor, eu estudo mais o conteúdo, dou uma aula mais séria e ética. A gravação da aula só traz benefícios. Inclusive porque o aluno pode assisti-la novamente.

Que tipo de denúncias de abusos de professores chegam à senhora?
São várias. Por exemplo, numa escola do interior, uma professora da 8ª série de uma escola privada fez comentários contra Bolsonaro durante a eleição. Incitou alunos a enfrentar seus pais caso eles fossem eleitores do presidente. Casos como este acontecem o tempo todo.

A senhora processou a professora Marlene de Fáveri, membro da banca de avaliação de sua dissertação de mestrado, por perseguição ideológica. A Justiça negou seu pedido, mas a senhora recorreu. O que aconteceu neste caso?
O caso está na Justiça. Não vou fazer comentários.

A professora Marlene abriu uma queixa-crime contra a senhora. A acusa de injúria, calúnia e difamação. O que tem a dizer?
A queixa-crime é um simples dispositivo de retaliação pelo fato de um ter aberto um processo contra ela.

Nesse caso entre a senhora e sua ex-orientadora, a senhora não acha que o embate jurídico inviabilizou um debate interessante para a academia?
Se houve a judicialização, é porque o debate extrapolou os limites do aceitável para o ambiente acadêmico.

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Não gosto de falar de propostas. Gosto de falar de compromissos. Primeiro, com a família natural, aquela que naturalmente é capaz de procriar. Segundo, com a comunidade evangélica e católica. Nisso, perpassam questões sobre contracepção e aborto. Compromisso também com os valores da liberdade econômica.

A senhora é contra o aborto e a contracepção?
Sou contra o aborto em todos os sentidos. E sou contra qualquer método contraceptivo disfarçado, que esconde um método abortivo.

Existem anticoncepcionais cuja taxa de proteção é duvidosa. Eu não sei se estou evitando a concepção ou abortando um feto já concedido.

Qual é este método? A pílula do dia seguinte?
Isso é uma questão histórica complexa. É uma questão profundíssima que não cabe aqui.

A senhora já foi descrita como antifeminista. Concorda?
Não sou antifeminista. Só não sou feminista. Quem não é cristão, é anticristão? Não.

O problema é que o feminismo se tornou tão hegemônico na mídia e universidades que você não pode não ser. Você é obrigado a ser. Só porque eu sou mulher eu sou obrigada a ser feminista? 

Mesmo não sendo feminista, o feminismo é um tema importante para a senhora. A senhora está lançando um livro sobre assunto. Quando passou a se interessar sobre o feminismo?
Em 2012, quando comecei a estudar aborto, movimento feminino, direito ao voto. Foi este o tema do meu projeto de mestrado. Meu interesse no feminismo, a princípio, era isento. Eu não sabia o suficiente sobre para me posicionar a favor ou contra. Aí me propus a estudar.

O que te levou a não ser feminista?
Quando eu comecei a estudar o movimento, a primeira definição que eu encontrei foi a que defendia os direitos civis das mulheres. Direitos iguais, direito ao trabalho, direito ao voto, enfim, o reconhecimento desses direitos. Ou seja, na primeira impressão, eu não tinha nada contra isso.

Eu me voltei contra o movimento feminista quando eu descobri que essas bandeiras de reconhecimento de direitos são falsas. São uma maquiagem de algo muito mais obscuro que recebe o nome de revolução sexual, que é a transformação dos comportamentos, da relação e da diferenciação entre homem e mulher.Por que a senhora chama essa revolução de “obscura”?

Primeiro, porque ela ignora tendências naturais que diferenciam homens e mulheres. Segundo, ela despreza grande parte da comunidade científica. Qualquer pesquisa científica ou livro que vá contra os interesses das feministas é boicotado por elas. O movimento de revolução sexual é um movimento autoritário, totalitário, antidemocrático, e antinatural. Ele nega a natureza masculina e feminina. Se o corpo de um homem e de uma mulher diferem, tudo que está preso a ele, a alma, o espírito, as impressões, as preferências, também diferem.

Eu não concordo com a revolução sexual porque ela consiste em aproximar tanto os dois sexos a pontos de transformá-los indiscerníveis. Não tem como concordar com isso porque para mim isso é um projeto social que não corresponde à realidade.

A apresentação do seu livro diz que o “feminismo é uma ameaça a civilização que nossos antepassados levantaram”. Que ameaça é essa?
A nossa civilização ocidental foi construída sobre três pilares: direito romano, filosofia grega e moral judaico-cristã. O feminismo é uma afronta clara a um desses pilares: a moral judaico-cristã.

Quando eu destruo um dos fundamentos da civilização ocidental, eu estou destruindo essa civilização. O feminismo é uma ameaça a toda ordem ocidental. 

Fazendo um exercício filosófico, quando a senhora fala de uma ameaça a toda ordem ocidental, o que viria depois disso? A humanidade está ameaçada?
Eu não tenho como saber. Como vou prever o que não aconteceu ainda? Agora, a civilização ocidental é o melhor modelo de sociedade. Se não concorda, pesquise como é a vida na Índia, no mundo árabe, onde o cristianismo não existe. Pesquise como é idolatrar uma vaca, como é uma mulher apanhar depois que é estuprada. Eu não posso comparar uma sociedade hoje com uma que não existe. Agora, não vou destruir tudo isso para colocar no lugar um negócio que mulheres militantes que aparecem na rua seminuas dizem que é bom. Como professora de história, não tenho como defender um futuro hipotético em detrimentos das coisas que eu acho que estão funcionando.

Casamento é maravilhoso. O que é ruim? Quando não dá certo. Quando não dá certo? Quando marido bate na mulher, quando há abuso, há violência. Quando o casamento é bom, todo mundo quer. Inclusive os gays querem casar. Então é bom, não é?

A senhora cita a violência contra a mulher, que está na pauta dita como feminista. Para evitar casos como este, o Brasil não precisa de feminismo?

Claro que não. Quem combate a violência contra a mulher? Todo mundo. Quem defende isso? Só o cara que violenta. A Igreja Católica combate, a evangélica, o vizinho. E por que o feminismo é o baluarte da defesa da mulher contra a violência? Não é verdade. Quem nos ensinou a combater a violência não foram as feministas. O que as feministas fazem é alardear o problema. Inclusive, você tem no movimento feminista muitas pesquisas falsas, muito sofismo, muita falácia.

O movimento feminismo diz que tudo é estupro. Um assovio é um estupro, uma passada de mão é estupro. Tudo é um absurdo, tudo é machismo. Se muitas mulheres começarem a fazer falsas acusações de estupro, quando a Mariazinha for verdadeiramente estuprada, ela não vai receber auxílio. Na minha opinião, o movimento feminista não ajuda como diz ajudar, e prejudica ao criar um pânico sobre casos que inexistem.

Na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, tomaram posse 5 deputadas e 35 deputados. Mulheres defendem que uma disparidade como esta seja reduzida com ações feministas.
A disparidade na Alesc não é um problema porque a representação política não se dá pelo sexo, nem raça, orientação sexual, gênero, etc. Ela se dá por ideias. Eu me sinto absolutamente representada por meus cinco colegas homens do PSL e em nada representada pelas deputadas mulheres que compõem a bancada da mulher.

Na política, as ideias podem predominar. Mas há disparidade de salários apesar de mulheres estudarem mais.
Ótimo que você tocou neste assunto. As mulheres são a maioria entre os detentores de diploma de nível superior. Vamos então começar uma campanha pela igualdade de sexo na academia? Vamos dar desconto para os homens frequentarem faculdades particulares? Aí os homens viram a maioria. Aí vamos propor um projeto para as mulheres voltarem a ser maioria? Você vai ficar nesta disputa numérica? E o número que vale?

Por que não tem mulher no curso de engenharia elétrica? Porque mulher não quer ser engenheira elétrica. Vai fazer cotas para a mulher ser engenheira se ela não quer ser? Mesmo coisa acontece com a política. Existe a cota de 30%. Os partidos têm que sair catando mulher para preencher um número porque as mulheres não querem sequer ser os 30%. As mulheres não querem fazer parte da política. Elas querem assistir a um tutorial de maquiagem, querem fazer um curso de design, eles querem fazer um curso de pedagogia, de enfermagem, para os quais elas têm afinidade.

As mulheres gostam de lidar mais com pessoas que com objetos, gostam mais de livros que números. Há uma série de preferências, que o movimento feminista quer acabar à força. Essas preferências são naturais. Ações afirmativas não funcionam.

A mulher precisa de uma atenção especial do Estado?
A mulher vai ser atendida por meio da liberdade. A partir do momento que eu obrigo o empresário a contratar 20% de mulheres, ele não é livre, não está feliz e não gerará uma condição de maior felicidade para as mulheres. Como eu conduzo uma política mais satisfatória para homens e mulheres? Respeitando as tendências naturais. A biologia diz que a mulher engravida e o homem não. Se eu respeitar as diferenças, eu vou entender que a mulher precisa de uma licença-maternidade. Se eu respeitar as individualidades, é possível ter leis mais justas.

A senhora tem um histórico de críticas aos governos do PT. Muitas delas estão voltadas aos casos de corrupção envolvendo membros do partido. A senhora tem acompanhado as suspeitas envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), de seu partido?
Não tenho acompanhado com minúcia para dizer se ele é culpado ou inocente. Se ele errou, que pague.

Agora, Flávio e Jair Bolsonaro não são a mesma pessoa. Jair continua sendo um símbolo de honestidade e caráter.

O fato de Flávio ter solicitado ao STF a suspensão de uma investigação de um caso que poderia implicá-lo não lhe parece contraditório para quem pertence a um partido que prometeu combate à corrupção?
Não posso responder essa pergunta porque eu não faço a mínima ideia do que se passa. Não li o pedido, não sei qual foi a resposta do Supremo.

Errata: o texto foi atualizado
17/02/2019 às 09h35

A matéria informou incorretamente que a deputada disse que a “civilização ocidental foi construída sobre três pilares: direitos humanos, filosofia grega e moral judaico-cristã”. Na verdade, ela falou que a “civilização ocidental foi construída sobre três pilares: direito romano, filosofia grega e moral judaico-cristã”. A declaração foi corrigida.

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