Reunião da CCJ da Câmara dos Deputados foi marcada por tumulto e suspeita de deputados armados

A reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados desta terça-feira (9), destinada à leitura do parecer sobre a admissibilidade da reforma da Previdência, foi marcada por tumultos e bate-bocas entre aliados do governo e oposicionistas.

Iniciada por volta das 14h40, a reunião transcorreu em clima tenso e se arrastou por diversas horas em razão dos recursos regimentais apresentados pela oposição como parte da estratégia para atrasar a leitura do parecer.

Ela chegou a ser interrompida por 15 minutos após uma confusão entre os parlamentares (leia abaixo mais detalhes sobre o tumulto).

Apesar da articulação da base do governo Jair Bolsonaro para tentar acelerar a reunião, o relator da proposta, deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), só conseguiu ler o seu parecer, favorável à tramitação da PEC, depois de mais de quatro horas.

Tumulto

O tumulto que suspendeu a reunião ocorreu quando Freitas se preparava para fazer a leitura do relatório.

Naquele momento, deputados contrários à matéria foram até a mesa do presidente da comissão, o deputado Felipe Francischini (PSL-PR), em protesto porque ele não queria deixar que apresentassem mais uma questão de ordem, alegando que tinha caráter protelatório.

Parlamentares governistas, então, cercaram a mesa e começou o tumulto. No meio da confusão, o deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE) começou a gritar que havia um parlamentar armado entre eles, em referência ao líder do PSL, Delegado Waldir (PSL-GO).

O Regimento Interno da Câmara proíbe expressamente o “porte de arma de qualquer espécie nos edifícios da Câmara e suas áreas adjacentes, constituindo infração disciplinar, além de contravenção, o desrespeito a esta proibição”. Pelo artigo 271 do regimento, apenas integrantes da segurança podem portar arma.

Diante da confusão, a reunião foi suspensa. Deputados governistas disseram à imprensa que Waldir portava apenas um coldre (artefato utilizado para guardar a arma na cintura). Parlamentares da oposição, porém, alegaram que ele teria entregado a arma a aliados.

Discussões

Os ânimos ficaram exaltados na comissão desde o começo da reunião. Assim que teve início, deputados de PT, PSB e PDT contrários à reforma da Previdência apresentaram uma sequência de questões de ordem sobre os procedimentos da reunião.

Os questionamentos da oposição já tinham tomado mais de meia hora da reunião, quando a deputada Erika Kokay (PT-DF) tentou apresentar um novo questionamento.

O bate-boca começou porque o presidente da comissão, deputado Felipe Francischini, não queria permitir que ela o fizesse, argumentando que a deputada pretendia questionar um ponto já decidido.

Parlamentares de oposição protestaram, e deputados governistas, incluindo Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, revidaram, pedindo que Francischini continuasse com os trabalhos da comissão.

Houve gritaria dos dois lados. Os ânimos só se acalmaram após Francischini autorizar a deputada petista a apresentar a questão de ordem, que foi rejeitada posteriormente.

O clima voltou a ficar tenso na comissão quando a deputada Maria do Rosário (PT-RS) apresentava nova questão de ordem, e a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), começou a filmá-la com o celular.

Exaltada, Maria do Rosário reclamou, dizendo-se constrangida com a atitude da colega parlamentar, que a filmava para a expor em “suas páginas de fake news”.

“Nós estamos no século 21, não se ganha nada pelo grito. Não adianta gritar”, pediu o presidente da comissão a Rosário.

Sentada ao lado dele, a deputada Joice se manteve calada, com um sorriso no rosto. O presidente da comissão, que é do mesmo partido de Joice, disse que autorizava que qualquer deputado usasse o celular, sendo aplaudido por deputados governistas.

Maria do Rosário cobrou decoro parlamentar e informou que pretende recorrer ao Conselho de Ética da Câmara.

No decorrer dos debates, a deputada tucana Shéridan (PSDB-RR) saiu em defesa da petista e criticou o “deboche” e a “ironia” para tratar de um tema como a reforma da Previdência.

“Essa questão deve ser tratada da forma que merece e não em cima de plataforma política. […] É um tema que tem que ser tratado com seriedade, não com brincadeira, não com politicagem”, disse Shéridan.

Ao discursar, Joice Hasselman se referiu ao episódio como uma “cena lamentável” em que “senhoras maduras” se comportavam-se “como crianças mimadas que perderam a chupeta”.

G1

Facebook Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *