Patrimônio mundial da humanidade desde 1991, a catedral Notre-Dame de Paris, que sofreu um violento incêndio nesta segunda-feira, abriga inúmeros tesouros religiosos e artísticos, como vitrais, esculturas e pinturas.
Alguns dos mais importantes para os cristãos são relíquias atribuídas a Jesus: a coroa de espinhos que acredita-se ter sido usada antes da crucificação; fragmentos de madeira da cruz; e um prego do Santo Sepulcro (templo cristão em Jerusalém onde, de acordo com esta fé, ocorreu a crucificação e ressurreição de Jesus Cristo).
A Notre-Dame também tem relíquias da Santa Geneviève, padroeira de Paris, e de São Denis.
Monumento emblemático de Paris, visitado anualmente por 13 milhões de pessoas, a Notre-Dame é considerada uma obra-prima da arte gótica. Sua construção começou no século 12 e durou mais de 200 anos.
Não se sabe, até o momento, detalhes sobre mais itens que tenham sido preservados ou destruídos pelo fogo.
“Os danos serão imensos”, resumiu Emmanuel Grégoire, adjunto da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Tesouro arquitetônico
As causas do incêndio, iniciado na parte superior da catedral, ainda não são conhecidas mas podem estar ligadas a obras de renovação no local. O fogo destruiu dois terços do telhado da Notre-Dame.
A fachada oeste (entrada principal), construída entre 1200 e 1250, e seus cinco portões são considerados um tesouro de arquitetura.
O impressionante portão esculpido com cenas do Juízo Final, na entrada, e decorado ainda com estátuas dos apóstolos, é o principal da catedral.
O grande órgão foi preservado na Revolução Francesa graças à interpretação de músicas patrióticas inspiradas no hino nacional.
A Notre-Dame reúne várias obras de arte com importância histórica.
É o caso de três vitrais em forma de rosácea, que segundo a direção da catedal representam uma das “maiores obras-primas do cristianismo”. Eles foram feitos no século 13 e já foram reconstruídos e restaurados.
A chamada “rosa sul”, em uma das laterais, tem quase 19 metros de altura e 13 metros de diâmetro – uma das maiores da Europa. São 84 painéis com cenas do Novo Testamento. Abaixo dessa rosácea, vitrais do século 19 ilustram 16 profetas.
Há ainda os vitrais do claustro e da nave (ala central) da catedral.
Gárgulas
As famosas estátuas de gárgulas e quimeras na parte externa da catedral, representando animais fantásticos ou monstros, são consideradas símbolos da Notre-Dame. Elas foram feitas na Idade Média e têm a função estratégica de proteger as paredes do escoamento da água das chuvas.
O acervo da Notre-Dame reúne também inúmeros quadros dos séculos 17 e 18. Entre eles, os chamados Mays – produzidos quase anualmente por pintores renomados para celebrar a Virgem Maria.
Treze Mays eram rotineiramente expostos ao público na Notre-Dame, entre eles a Lapidação de Saint Etienne, do pintor Charles Le Brun. Segundo o reitor da catedral, quadros com grandes dimensões, como é o caso dos Mays, não puderam ser retirados durante o incêndio – mas não se sabe ainda se eles foram danificados.
Outros quadros famosos expostos na catedral incluem São Thomas de Aquino, Fonte de Sabedoria, do século 17, atribuído ao pintor Antoine Nicolas; e a tela A Visita, considerada uma obra-prima do século 18, de Jean Jouvenet.
Há ainda uma série de esculturas, como a de Nossa Senhora de Paris – transferida para Notre-Dame no século 19 e instalada no altar dedicado à Virgem que existe desde as origens da catedral.
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Também há na catedral um muro da Idade Média, onde foram esculpidas cenas atribuídas à vida de Jesus.
Sinos da igreja, sons da cidade
Os sinos também são considerados um importante tesouro da catedral e fazem parte da história de Paris. Há séculos, eles anunciam ou celebram eventos importantes na cidade – o mais antigo deles existe há três séculos.
São 13 sinos no total, com nomes de santos. Três estavam na torre que desabou no incêndio, a chamada “flecha”, em forma de agulha.
Livros raros da Notre-Dame já haviam sido transferidos para a Biblioteca Nacional da França. Não se sabe ainda se documentos e publicações importantes foram destruídos no incêndio.
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que a Notre-Dame será reconstruída e que “o pior foi evitado.”
A Fundação para o Patrimônio, uma organização privada, lançou uma campanha nacional para angariar fundos para a reconstrução.