Arquivo diários:12/07/2019

Presos da Lava Jato foram grampeados ilegalmente, diz análise da Polícia Federal

Análise feita pela Polícia Federal apontou que uma escuta instalada em uma cela de presos da Lava Jato em 2014 gravou irregularmente 260 horas (11 dias) de conversas no Paraná.

A análise foi feita dentro de uma sindicância interna da polícia iniciada após o doleiro Alberto Youssef, pivô da operação em seu início, relatar naquele ano ter encontrado equipamentos de gravação no local onde estava detido, na Superintendência da PF no Paraná. Os documentos foram obtidos pela Folha.

Youssef é um dos presos identificados nas gravações, assim como o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e a doleira Nelma Kodama, de acordo com relatório feito pelo agente federal Acyr dos Santos Paes.

A apuração foi feita entre 2015 e 2016, mas até hoje as circunstâncias da instalação da escuta ainda não foram esclarecidas. Depoimentos de procedimentos disciplinares sobre o caso voltaram a ser feitos nos últimos dias.

Em 27 de junho, Youssef prestou depoimento na Polícia Federal de São Paulo em um processo administrativo disciplinar sobre o agente responsável pela instalação do equipamento de escuta, Dalmey Werlang.

O advogado de Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, disse que não sabia da existência da perícia e que a polícia negou o acesso da defesa às sindicâncias.

Gravações ilegais já resultaram em anulação de operações policiais, como a Satiagraha.

Segundo a revista Veja, nessa audiência o doleiro afirmou que um de seus advogados questionou o então juiz Sergio Moro a respeito do caso e que o magistrado negou que o aparelho tivesse sido instalado com autorização judicial.

A perícia sobre o equipamento foi feita em 2015 por Santos Paes. Nela, o agente diz que “no primeiro dia de gravações (17.mar.2014), alguns (dos grampeados) já se identificam como Carlos Alberto Pereira da Costa, Carlos Alexandre de Souza Rocha e Alberto Youssef”.

Todos os três foram alvos das primeiras fases da Lava Jato.

“No segundo dia conversam a respeito de itens apreendidos, entre eles pinturas, canetas, bebidas —tal fato foi noticiado na mídia naquela data; uma presa se identifica como Nelma Kodama.”

O relatório final dessa sindicância chega à conclusão, no entanto, da “inexistência de diálogos que pudessem ser considerados relevantes ou que pudessem, em tese, ser usado contra os interlocutores”.

A descoberta do grampo gerou na época trocas de acusações e aberturas de inquéritos sobre policiais federais tidos como críticos da operação.

DISPUTA
No centro dessa disputa estava a antiga cúpula da Lava Jato na Polícia Federal em Curitiba, que hoje integra o alto escalão da PF no Ministério da Justiça, comandado por Moro.

Ainda em 2014, o delegado Maurício Moscardi Grillo abriu uma primeira sindicância para apurar se houve interceptação ilegal na cela, mas oficialmente chegou à conclusão de que o aparelho que tinha sido achado estava inoperante.

Segundo o relatório de Grillo, a escuta encontrada havia sido instalada legalmente em 2008, para investigar o traficante Fernandinho Beira-Mar, que chegou a ficar preso na superintendência. O delegado chega a essa conclusão sem ouvir formalmente o agente Dalmey, que era responsável por instalar esse tipo de escuta, e sem encaminhar o equipamento à perícia.

“Obviamente, aproveitando-se do fato de ter sido encontrado o artefato no forro de sua cela, Alberto Youssef e sua defesa difundiram o fato [de que foi grampeado] de maneira irresponsável na convicção de tumultuar e ocasionar alguma nulidade formal para a Operação Lava Jato”, escreveu o delegado na ocasião. Essa sindicância foi encerrada sem apontar irregularidades.

Mas um novo depoimento de Dalmey, colhido em 2015 pelo delegado Mario Renato Fanton, causou uma reviravolta no caso.

Nele, Dalmey afirmou ter instalado o equipamento especificamente para gravar os presos da Lava Jato e afirmou que o fez a pedido de delegados da operação —Igor Romário de Paula, Rosalvo Ferreira Franco e Márcio Anselmo, que hoje fazem parte da cúpula da PF em Brasília.

Foi aberta uma nova sindicância para apurar os grampos. Dessa vez, o equipamento foi enviado para análise de peritos, que apontou a existência das 260 horas de gravação.

Em dezembro de 2016, o resultado da segunda sindicância foi parar nas mãos do então diretor-geral da Polícia Federal Leandro Daiello, que determinou abertura de processos disciplinares contra Dalmey, pela instalação do grampo ilegal, e contra Grillo, por má condução na primeira apuração sobre a escuta.

Os delegados da Lava Jato não foram atingidos porque, segundo a corporação, não havia indícios suficientes de que as escutas tivessem sido instaladas sob ordem superior.

‘INIMIGO’ DOS CHEFES
Nos anos seguintes, Mario Fanton, o delegado que revelou que a escuta havia sido instalada, passou a ser alvo de diversos processos de apuração interna da Polícia Federal. Também foi investigado criminalmente, inclusive por calúnia.

Os casos nem sempre são relacionados aos grampos, mas nas defesas que apresentou à Justiça, Fanton diz alvo de perseguição após ter tomado o depoimento de Dalmey. Afirma que é considerado “inimigo” pelos ex-chefes da Lava Jato.

O delegado já respondeu a três processos disciplinares e quatro inquéritos policiais —todos foram arquivados. Há ainda um inquérito policial que tramita contra ele, sem conclusão.

Em março deste ano, a Justiça Federal do Paraná rejeitou uma ação civil de improbidade, proposta pela Procuradoria, que acusava Fanton de ter repassado informações da Operação Carne Fraca a André Vargas, ex-deputado petista condenado na Lava Jato, em 2017.

A acusação diz que, ao transferir Vargas de Londrina para Curitiba, Fanton teria revelado o objetivo da investigação e revelado o nome de outros acusados.​

O juiz responsável considerou que havia falta de provas e que as testemunhas do caso foram contraditórias a respeito das acusações contra o delegado.

Procurado, o advogado de Fanton, José Augusto Marcondes de Moura Jr, não quis comentar os processos. A reportagem não conseguiu localizar Grillo e Dalmey.

A reportagem também procurou a PF em Brasília, onde atuam hoje os delegados Igor Romário de Paula, Rosalvo e Marcio Anselmo, para comentar o assunto, mas não houve resposta. A Polícia Federal de Curitiba, onde estão Grillo e Dalmey, também não se manifestou.

Folhapress

Toffoli impede União de bloquear verbas do Rio Grande do Norte

CONJUR

O ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, impediu a União de bloquear verbas do Rio Grande do Norte. A ação foi movida porque o estado deixou de pagar parcelas de contratos de financiamento firmados com instituições financeiras.

Carlos Moura/ SCO/STF/União está na iminência de bloquear R$ 41 milhões do RN

Na decisão, o ministro dá 5 dias para que o estado informe seu comprometimento com o programa de ajuste de contas do regime de recuperação fiscal instituído pela Lei Complementar 159/2017. Além disso, pede que o estado aponte se é viável apresentar proposta para quitar ou diminuir o débito até que haja definição legislativa do projeto de lei sobre o Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal dos Estados (PLC 149/2019).

O estado sustenta que a União está na iminência de bloquear R$ 41 milhões da parcela que tem para receber do Fundo de Participação dos Estados e das receitas próprias dos cofres estaduais. O bloqueio seria a execução de contragarantias da União como avalista de contratos de financiamento firmados com bancos, em 2013, e cujas parcelas estão em atraso por parte do governo estadual.

O governo do RN alega ainda que o bloqueio representa risco às finanças e execução de políticas públicas. Afirma ainda que o estado está adotando “diversas medidas a fim de obter as imprescindíveis receitas extraordinárias para alimentar seu fluxo de caixa durante o período crítico da atual crise fiscal, até que as receitas ordinárias retornem seu curso normal de crescimento”.

A União informou nos autos que o Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal permitirá a oferta de operações de crédito garantidas para estados e municípios que não possuem boa situação financeira, “desde que estes estejam em uma trajetória de melhoria fiscal previamente pactuada”. Acrescenta que o Projeto de Lei Complementar 149/2019 não traz qualquer regra que suspenda a execução de contragarantias.

Ao analisar o caso, Toffoli entendeu que trata-se de uma questão “complexa e sua solução deve ser, tanto quanto possível, delineada no âmbito político, espaço em que as questões orçamentárias podem ser melhor debatidas e acordadas”.

O ministro considerou que a iminência de implementação da contragarantia pela União pode afetar a sustentabilidade dos serviços públicos e o cumprimento de suas obrigações constitucionais. Mas também ponderou que exigir a contragarantia contratual segue na direção das medidas de responsabilidade fiscal, sendo igualmente premente a necessidade de ajuste das contas dos estados da Federação para a consecução do equilíbrio nesse campo.

Com informações da Assessoria de Imprensa do STF

“Excelente nome”, diz chanceler sobre Eduardo em Washington

André Ítalo Rocha
Ao lado do presidente Jair Bolsonaro em transmissão ao vivo feita pelo Facebook, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quinta-feira, 11, que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, é um “excelente nome” para o posto de embaixador do Brasil em Washington.
Ministro Ernesto Araujo fala durante entrevista no Itamaraty 2/7/2019 REUTERS/Adriano Machado
Ministro Ernesto Araujo fala durante entrevista no Itamaraty 2/7/2019 REUTERS/Adriano Machado

Foto: Reuters

“Tem um papo aí que o Eduardo Bolsonaro pode ser indicado para ser embaixador nos EUA, é isso mesmo?”, pergunta o presidente, virando para o ministro. “É um excelente nome, presidente. Seria ótimo”, responde Araújo, provocando risadas em todas que participam da transmissão – ele, Bolsonaro, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) e o secretário de Desburocratização, Paulo Uebel.

Bolsonaro, então, aponta para o ministro e diz que ele é “um embaixador inteligente”, pela resposta dada. Em seguida, começa a justificar as razões pelas quais o próprio filho teria condições de assumir o cargo em Washington. “Meu filho Eduardo fala inglês, fala espanhol, há muito tempo roda o mundo todo, goza da amizade dos filhos do presidente Donald Trump”, disse. “Existe a possibilidade, e depende do garoto, só que ele, se não me engano, tem de renunciar ao mandato dele, caso aceite o convite, e passe pelo Senado, obviamente”, acrescentou.

A possibilidade de Eduardo ser indicado para a embaixada surgiu nesta quinta-feira após o presidente afirmar que fez o convite ao filho. Eduardo, pouco depois, afirmou que não recebeu nada oficial e que ficou sabendo pela imprensa. No entanto, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que toparia e que estaria disposto a renunciar ao mandato. “Eu aceitaria qualquer missão que o presidente Bolsonaro me der e tentarei desempenhar da melhor maneira possível”.

Estadão

Bolsonaro nomear filho é “tiro no pé”, diz ministro do STF

Dois anos atrás, ministro do STF deu liminar suspendendo nomeação de filho do prefeito Marcelo Crivella (PRB) para a Casa Civil do município do Rio de Janeiro
Rafael Moraes Moura

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quinta-feira, 11, ao Estadão/Broadcast que uma eventual indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos é um “péssimo” exemplo” e um “tiro no pé”, podendo ser enquadrada como nepotismo.

Marco Aurélio de Mello no STF
 4/4/2018    REUTERS/Adriano Machado
Marco Aurélio de Mello no STF 4/4/2018 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Adriano Machado / Reuters

“Sob a minha ótica, não pode, é péssimo. Não sei o que os demais (ministros do Supremo) pensam. Não acredito que o presidente Bolsonaro faça isso. Será um ato falho, um tiro no pé”, disse Marco Aurélio à reportagem, enquanto aproveita as férias em Portugal. O Supremo só retoma as atividades em 1º de agosto.

“Agora, penso que o presidente Jair Bolsonaro deve contas aos eleitores e aos brasileiros em geral. O exemplo vem de cima. Ele chegou para nos governar e governar bem, não para proporcionar o Estado aos familiares.”

Liminar

Em fevereiro de 2017, Marco Aurélio deu liminar suspendendo a nomeação de Marcelo Hodge Crivella para o cargo de secretário-chefe da Casa Civil da gestão do pai dele, Marcelo Crivella (PRB), na Prefeitura do Rio, por entender que se tratava de nepotismo.

Uma súmula vinculante do STF estabelece que viola a Constituição Federal a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, “inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas”.

Um integrante do tribunal ouvido reservadamente pela reportagem acredita que o caso de Eduardo Bolsonaro não se enquadraria como cargo de confiança ou função administrativa, já que o posto de embaixador seria mais parecido a um cargo político – o que poderia, portanto, ser interpretado como uma exceção às restrições previstas na súmula.

A súmula vinculante é um verbete editado pelo próprio STF, apoiado em diversas decisões sobre a mesma matéria, que tem efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública.

Estadão

Aceito a missão dada por meu pai’, diz Eduardo Bolsonaro sobre embaixada nos EUA

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que decidiu escolher o filho para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, cargo vago desde abril
André Shalders – @andreshalders – Da BBC News Brasil em Brasília

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) disse no começo da noite desta quinta-feira (11) que aceitará a indicação de seu pai, o presidente da República Jair Bolsonaro, para ser o embaixador brasileiro em Washington, nos Estados Unidos.

O cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, vago desde abril, deve ser ocupado por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República
O cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, vago desde abril, deve ser ocupado por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República
Foto: Paola De Orte/Agência Brasil / BBC News Brasil

Mais cedo, o presidente disse que seu filho será o embaixador na capital americana, caso tenha interesse no cargo.

Caso a nomeação se confirme, Eduardo Bolsonaro terá de renunciar ao mandato de deputado federal.

Ele foi eleito para seu segundo mandato na Câmara nas eleições do ano passado – teve 1,8 milhão de votos em São Paulo. O parlamentar disse estar disposto a renunciar para cumprir “a missão” dada pelo pai.

A indicação informal do presidente da República acontece no dia seguinte ao aniversário de 35 anos de Eduardo, completos na quarta-feira (10). Ter pelo menos 35 anos de idade é um dos requisitos para ocupar o cargo de embaixador.

A cadeira de embaixador do Brasil nos EUA está vaga desde abril deste ano, quando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, removeu o diplomata Sérgio Amaral do posto.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que escolheu o filho Eduardo para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que escolheu o filho Eduardo para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos
Foto: EPA/Joedson Alves / BBC News Brasil

Gilmar Mendes analisará investigação da PF sobre Glenn Greenwald

O ministro Gilmar Mendes, do STF, foi sorteado para analisar o pedido da Rede sobre investigações que estariam sendo feitas pela Polícia Federal e pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre o jornalista Glenn Greenwald.

O partido pede a imediata suspensão de qualquer procedimento contra Greenwald que tenha como justificativa a divulgação das mensagens trocadas entre o ministro da Justiça, Sergio Moro, com procuradores da Operação Lava Jato.

A fiscalização teria sido disparada depois da publicação das reportagens pelo site The Intercept Brasil, fundado pelo jornalista.

Para a Rede, a investigação configuraria, neste caso, clara retaliação e um ataque à liberdade de imprensa.

O governo tem sido dúbio em relação à existência do procedimento. Questionado numa audiência na Câmara, Moro não confirmou nem negou a existência dela.

O TCU também enviou requerimento para o Coaf e para o ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem o órgão é subordinado. As respostas foram inconclusivas.

Mônica Bérgamo/Folha de S.Paulo