‘Menina simples’, suspeita de hackear Moro saiu de casa para morar com DJ preso

No bairro Doutor Tancredo de Almeida Neves, em Araraquara (SP), Neide Oliveira, 72, ficou abalada com a notícia da prisão de Suelen Priscila de Oliveira, 25, a neta que criou desde a infância. “Passada. Passei mal, tenho pressão alta e meu coração quase parou. E fiquei muito sentida, também. A família é a última a saber”, afirmou.

Segundo Neide, Suelen saiu de sua casa há cerca de seis anos, brigada com o pai, que não aprovou o relacionamento da jovem com Gustavo Henrique Elias Santos —o DJ Guto Dubra, também preso na ação da Polícia Federal.

De acordo com a avó, Suelen e Gustavo se conheceram em um baile e, pouco tempo após o início do namoro, se mudaram para a casa no Selmi Dei. Do bairro partiram os ataques hackers às autoridades, segundo a Justiça.

Outros familiares, como primas e tios, estavam presentes na casa de Neide durante a visita da Folha. Todos se disseram surpresos com a suspeita de envolvimento de Suelen e impressionados com as viagens frequentes de Suelen e Gustavo para São Paulo e Santa Catarina. O DJ já foi condenado por porte ilegal de arma.

“Ela não é formada, assim, de curso e tal. ‘Malemá’ fez curso de informática, que a avó pagou. Então, ela era uma menina simples e inteligente, mas foi tola e caiu no lugar errado e na hora errada. Entrou de laranja nessa história”, acrescentou.

De acordo com a Polícia Federal, há indícios de que os quatro presos na operação atuavam, em diferentes graus, em esquemas de fraudes bancárias e de cartões de crédito.

O inquérito que investiga os ataques foi aberto em Brasília para apurar, inicialmente, episódios ligados aos aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis.

Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, também foi alvo do grupo. Esse caso está sendo tratado em inquérito aberto pela Polícia Federal no Paraná.

QUEM SÃO OS SUSPEITOS 

Eis o perfil dos suspeitos presos, de acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo.

  • Gustavo Henrique Elias Santos, 28: morador de Araraquara, é conhecido como DJ Guto Dubra. Organizava festas em cidades no interior de São Paulo. Tem antecedentes criminais, como roubo de veículo com documentos adulterados, posse de armamento falso. Chegou a ser condenado 2015, mas foi solto após recurso da defesa. Também foi detido em Santa Catarino junto ao Walter Delgatti, que também foi preso no caso de invasão aos celulares de autoridades. Entre abril e junho deste ano, Elias –que tem renda mensal de quase R$ 3.000– teve uma movimentação suspeita de R$ 424 mil em sua conta. Sobre a possível atividade de Hacker, seu advogado, Ariovaldo Moreira, nega a participação do cliente.
  • Suelen Priscila de Oliveira, 25: Mulher de Gustavo Elias, foi presa no mesmo endereço que o marido, em São Paulo. Ela não tinha passagem pela polícia, mas também estava presente no episódio em que o marido e Delgatti foram detidos em SC. À época, o amigo do casal tentou se passar por delegado da Polícia Civil. Assim como o marido, ela apenas prestou depoimento e foi liberada na ocasião. Agentes da PF encontraram R$ 100 mil em espécie no apartamento de Suelen e Elias. Segundo a defesa dela, Suelen tem conhecimento “razoável” de informática e trabalha com criptomoedas.
  • Walter Delgatti Neto, 30: conhecido como “vermelho”, é filiado ao DEM de Araraquara desde 2007, segundo informações da Justiça Eleitoral. Além de ser detido em 2015 após se passar por policial civil depois de furtar 1 celular, foi novamente preso no mesmo ano por utilizar 1 cartão de crédito roubado e em 2017 por falsificação de documentos. Já em 2018, foi condenado por estelionato por também usar 1 cartão bancário furtado. Delgatti é crítico do presidente Jair Bolsonaro e do ex-juiz Sergio Moro no Twitter. Além disso, demonstrou conhecimento de informática ao responder postagem de Deltan Dallagnol sobre a Vaza Jato na mesma rede social: “Mesmo apagando tudo, os caches ficam no celular, eles são arquivos fragmentados, sem o conteúdo das mensagens, mas com todas saídas e entradas de mensagens”, afirmou.
  • Danilo Cristiano Marques, 33: dono de uma pequena empresa, foi preso em Araraquara. Segundo o portal A Cidade On, de Araraquara, é amigo de Delgatti e já foi testemunha dele em 2 processos. Era motorista de Uber, segundo a defensora pública.


Folhapress

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