Quarta-feira cinza (mesmo): Ibovespa reabre com caos do coronavírus

Grande temor mundo afora é que a economia desacelere por conta da epidemia, que já matou 2.764 pessoas em 10 dos 41 países afetados

São Paulo — O Carnaval foi tenso para os investidores no mercado de capitais brasileiro – e o nervosismo só aumentou nas últimas horas. Com bancos, corretoras e a B3 fechados desde sexta-feira, quem tem dinheiro aplicado em ativos financeiros no país foi obrigado a assistir de braços cruzados ao pânico do avanço do coronavírus varrendo as bolsas de valores globais nos últimos dias.

O índice de ações MSCI World, com papeis de 1.600 empresas mundo afora, perdeu 3 trilhões de dólares em valor desde quinta-feira. Nesta quarta, as bolsas voltaram a fechar em queda na Ásia, além de abrir em baixa na Europa. Na volta do recesso, nesta Quarta-Feira de Cinzas, o cenário para os brasileiros parece ainda pior: a epidemia pode ter chegado ao Brasil.

O Ministério da Saúde confirmou, na noite de ontem, que o primeiro exame de um paciente internado em um hospital na capital paulista deu positivo para o coronavírus. O resultado de outro teste sai hoje de manhã. Antes dessa notícia, a cota do fundo EWZ, que replica a carteira do índice acionário Ibovespa, o principal da B3, havia recuado 1,4% no fechamento da bolsa de Nova York na terça-feira.

Os recibos de ações da Petrobras negociados no mercado americano recuaram 1,8% após uma queda de 6,7% na véspera e os da Vale somaram uma baixa de 2,4% ao tombo de 7,5% do dia anterior. Daí a projeção de analistas e gestores de investimentos de que o Ibovesparecue mais de 5% quando reabrir às 13h de hoje — a queda acumulada em 2020 é de 4%. Até lá, o mercado de balcão deve ter uma manhã agitada com a negociação de títulos e câmbio.

“Estima-se uma variação negativa em torno de 9%, mas não acreditamos em circuit breaker (mecanismo que interrompe as operações após queda acentuada). Os robôs darão conta desse recado”, diz Marco Antônio Tulli, superintendente de operações da corretora Necton.

O grande temor mundo afora é que a atividade econômica desacelere por conta da epidemia, que já matou 2.764 pessoas em 10 dos 41 países afetados. Países como o Brasil, que têm na China seu principal parceiro comercial, tendem a sofrer ainda mais.

O agravamento do surto na Itália e na Coreia do Sul no início da semana reacendeu as preocupações quando parte dos especialistas achava que a doença começava a ser debelada. Por isso, o índice VIX, que mede a expectativa de volatilidade do mercado de ações dos Estados Unidos, subiu 11,3% ontem.

Grande parte do desespero é explicada pela falta de informações precisas acerca do mecanismo de contaminação do coronavírus, o que dificulta a prevenção e a contenção do surto, segundo Jason Vieira, economista-chefe da gestora de recursos Infinity Asset Management. “Como a China ainda não anunciou o controle da doença, fica a impressão de que a epidemia é mais grave do que achávamos”, diz o economista.

Nesses momentos de alta instabilidade, o investidor deve ser paciente e ter sangue frio, evitando tomar decisões radicais por impulso, afirmam analistas. Não dá para prever o exato tamanho do estrago do coronavírus nas economias dos países e nos lucros das empresas. A China, aliás, vem dando sinais de que pretende lançar medidas de estímulo à atividade para impedir um colapso.

Além disso, a debandada das bolsas de valores pode ter um limite bastante pragmático: não há tantos esconderijos disponíveis.

Os juros em todo o mundo estão nos níveis mais baixos em décadas, e, se a desaceleração se confirmar, os bancos centrais vão ter que cortar ainda mais as taxas a fim de encorajar o investimento no setor produtivo.

Em paralelo, podem surgir boas oportunidades de colocar na carteira ações de empresas cujo desempenho não deve ser muito afetado pela crise mundial de saúde pública, na avaliação de Max Bohm, especialista em ações da casa de análise de investimentos Empiricus. “A melhor estratégia é ir comprando aos poucos conforme os preços recuem”, diz. Esta quarta-feira é dia para relembrar que a turbulência é o tom desde 2020 na bolsa.

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