‘Talvez estivesse querendo um sócio para carregar caixões’, diz Gilmar Mendes sobre ida de Bolsonaro ao STF


João Conrado Kneipp

O ministro do Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes ironizou a ida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) juntamente com empresários à sede do Supremo, em maio, quando Bolsonaro visitou de surpresa o presidente do STF, ministro Dias Toffoli.
“Talvez o presidente estivesse querendo um sócio para carregar caixões”, afirmou Gilmar Mendes, durante entrevista ao programa CNN 360, na CNN Brasil.

Em 7 de maio, Bolsonaro fez um apelo a Toffoli, juntamente com uma comissão de 15 empresários, alertando sobre os riscos de um colapso na economia durante a crise do novo coronavírus. O encontro não estava marcado nas agendas nem de Bolsonaro nem de Dias Toffoli.

Na resposta, o ministro disse acreditar que o STF causou irritação no governo ao determinar que estados e municípios poderiam decidir sobre as próprias regras de isolamento social durante a pandemia da Covid-19.

“O STF tem provocado algum tipo de irritação e eu tento adivinhar uma das causas: foi o Supremo ter firmado aquela jurisprudência de que estados e municípios não tinham que se submeter às prescrições emanadas da União desde que seguisse as regras da OMS. Por isso, talvez, venha causando tanta irritação no âmbito do poder Central e talvez explique não somente as rezas, mas também a travessia que o presidente fez vindo até aqui com os empresários. Eu até já brinquei dizendo talvez o presidente estivesse querendo um sócio para carregar caixões”.

As rezas citadas por Mendes foram realizadas na tarde desta sexta, por lideranças evangélicas ao lado do presidente. Na porta do Palácio do Planalto, figuras como R.R. Soares e Silas Malafaia estenderam as mãos em direção ao STF e fizeram preces em pedidos de união aos Poderes.

‘SONEGAÇÃO DE INFORMAÇÃO’ E CORTINA DE FUMAÇA

A respeito da pandemia do novo coronavírus, o ministro classificou como “sonegação de informações” a mudança de horário pelo Ministério da Saúde na divulgação dos dados diários da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Segundo ele, esse movimento abre precedente para questionar a confiabilidade dos dados repassados.

Inicialmente, na gestão de Luiz Henrique Mandetta, os números de casos confirmados e de mortes nas últimas 24 horas eram divulgados por volta das 17h. Quando Nelson Teich foi ministro, a coletiva de imprensa foi passada para às 19h e juntamente com a presença de outras figuras ministeriais. Nos últimos três dias, no entanto, a pasta tem soltado os dados somente às 22h.

“Há um dever de publicidade, as autoridades têm de informar o quadro. Enquanto gastamos essa energia imensa com querela política, atingimos um número trágico e mórbido de 35 mil mortes no país, 1,5 mil mortes por dia. Quando se começa a fazer esse movimento político, de sonegar informações, a própria confiabilidade dos números passa a ser também colocada em xeque”.

Mais cedo, em uma postagem no Twitter, Gilmar cobrou publicamente a divulgação dos dados como uma “questão de saúde pública”.

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