Herdeiro da fortuna Diniz aposta na revolução da soja orgânica

Felipe Marques e Fabiana Batista

 

O Brasil emergiu como uma potência agrícola no início dos anos 2000, após abrir grandes extensões de terras para fazendas enormes e de baixo custo. Agora, um ex-piloto de Fórmula 1 quer tornar essas plantações orgânicas.

Pedro Paulo Diniz, um dos herdeiros de uma fortuna de US$ 2,2 bilhões, está tentando persuadir grandes agricultores a usar um pedaço de suas terras para o cultivo de soja, milho e outros grãos de forma regenerativa. Ele já investiu cerca de R$ 40 milhões de seu próprio dinheiro nessa empreitada, chamada Rizoma Agro.
Convencer os produtores, que basearam seus modelos de negócios em grande escala e baixos custos, dos benefícios de usar fertilizantes naturais mais caros não é uma tarefa fácil. Mas Diniz promete que os protocolos desenvolvidos pela Rizoma garantem um rendimento semelhante ao das safras convencionais e uma pegada negativa de carbono, com preços mais altos absorvendo os custos extras, resultando em margens mais amplas. Ele pretende levantar cerca de US$ 15 milhões para expandir.

As tendências de consumo de orgânicos jogam a seu favor. A pandemia está aumentando a demanda por carnes e outros alimentos orgânicos, com mais consumidores dispostos a pagar mais por alimentos premium, que ajudem seu sistema imunológico. Nos EUA, as vendas de alimentos orgânicos têm crescido mais rapidamente do que as vendas totais no varejo.

“Os grandes compradores globais têm grande demanda por grãos orgânicos”, disse Diniz, em entrevista. A produção inicial da Rizoma foi vendida no exterior para a Tyson Foods e localmente para a Nestlé e a Unilever. “Eles nos dizem que podem comprar tudo o que produzimos.”

A Rizoma Agro está criando uma rede logística para oleaginosas orgânicas, assinando contratos de cinco anos com os produtores e vendendo diretamente. A meta é atingir 350.000 hectares em uma década. Para conseguir isso, a empresa está trabalhando na redução dos custos de orgânicos, de 30% acima das safras convencionais para uma diferença de 18% em três anos, disse Fabio Sakamoto, co-fundador e diretor de operações.

Contudo, enquanto os fabricantes globais de alimentos estão aumentando suas linhas de produtos orgânicos como parte das mudanças nas tendências de consumo, eles também estão sob pressão crescente de consumidores e investidores por seu papel na crise ambiental do Brasil.

A má reputação ambiental do país está atrapalhando os esforços da empresa para buscar investidores, até mesmo afastando alguns fundos. A Rizoma está tentando levantar US$ 5 milhões em green bonds e US$ 10 milhões em ações, disse Diniz. O Rabobank está organizando ambas as transações.

“Em vez de o Brasil assumir a liderança no assunto, estamos dando um tiro no pé ao flexibilizar as regras para destruir a biodiversidade”, disse Diniz. “Isso não vai acabar bem.”

Se a reputação brasileira atrapalha, o que a empresa pode fazer é divulgar suas próprias credenciais verdes, que incluem a eliminação de fertilizantes sintéticos à base de nitrogênio e o uso de uma cobertura vegetal no solo, que ajuda a fixar matéria orgânica, removendo o dióxido de carbono da atmosfera.

Pedro Diniz, um dos seis filhos do magnata do varejo Abilio Diniz, também criou a Fazenda da Toca, maior produtora de ovos orgânicos do Brasil. Depois de sua temporada como piloto de carros de corrida, encerrada nos anos 2000, ele decidiu entrar em negócios verdes em 2006, quando seu primeiro filho nasceu e Al Gore lançou o documentário “Uma Verdade Inconveniente,” conforme disse.

“Não se trata de ser um idealista, um sonhador”, disse Diniz. “As questões climáticas estão aqui e precisam ser endereçadas rapidamente. Assim que conseguirmos provar que podemos cultivar alimentos orgânicos, em escala, com os mesmos preços convencionais, a mudança virá rápido.”

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