Relatório mostra desafio para o retorno às aulas no Brasil

Devido à pandemia do novo coronavírus, escolas brasileiras ficaram fechadas por mais tempo que a média dos outros países estudados
Paulo Favero

O impacto da covid-19 na educação é um dos temas do relatório mais recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o documento afirma que as escolas brasileiras ficaram fechadas por mais tempo que a média dos outros países estudados e isso vai impactar a aprendizagem e habilidades dos alunos. O fechamento de escolas e universidades foi uma das alternativas encontradas pelas autoridades no mundo todo para desacelerar a contaminação pelo coronavírus.
“No Brasil, os fechamentos começaram a partir de 12 de março e, em 25 de março, eles passaram a ser nacionais. No final de junho, o país havia experimentado 16 semanas de fechamento efetivo das escolas de alguma forma, em comparação com 14 semanas em média dos países da OCDE. No entanto, o impacto real em alguns países pode ter sido menos severo, pois alguns desses períodos incluíram férias escolares programadas”, diz o relatório.

Vale ressaltar que em alguns lugares as escolas ainda não reabriram e que a pesquisa da OCDE pegou apenas o período entre 17 de fevereiro e 30 de junho, ou seja, os dados do Brasil são bem maiores que o apresentado. É o caso do Estado de São Paulo, por exemplo, que fez protocolos para o retorno das aulas e, nele, a expectativa é de reinício das atividades de maneira mais ampla apenas em outubro. Isso se as condições da pandemia continuarem apresentando alguma melhora. Na capital paulista, por exemplo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) proibiu o retorno no mês de setembro.

“A reabertura da escola no contexto da pandemia depende da capacidade de manter uma distância segura de 1 a 2 metros entre alunos e funcionários. Países com turmas menores podem achar mais fácil cumprir as novas restrições de distanciamento social. No Brasil, o tamanho médio das turmas no ensino fundamental inicial é de 24 alunos em instituições públicas, o que é maior do que a média da OCDE, de 21 alunos”, continua o documento.

“Nas instituições públicas de ensino fundamental anos finais, há 28 alunos por turma no Brasil, em comparação com 23 alunos por turma em média nos países da OCDE. No entanto, a necessidade de reduzir o tamanho das turmas pode depender de outros fatores, como espaço físico, a disponibilidade de salas e funcionários, e decisões pessoais dos alunos e funcionários sobre o retorno à escola”, diz.

Na realidade brasileira, uma das alternativas que vem sendo discutida é o rodízio de alunos nos dias da semana, o que possibilitaria reduzir o número de pessoas presentes por dia na escola. Isso por causa do excesso de estudantes por turma em média e a falta de espaço físico para conseguir manter o distanciamento social durante as aulas.

“A pandemia não parou nas fronteiras nacionais. Afetou pessoas independentemente de nacionalidade, nível de educação, renda ou gênero. Mas não se pode dizer o mesmo para suas consequências, que atingiram de forma mais dura os mais vulneráveis. A educação não é exceção. Alunos de origem privilegiada, apoiados por seus pais e estimulados a aprender, puderam encontrar caminhos alternativos de aprendizagem apesar das portas fechadas nas escolas. Já as pessoas de origem menos favorecida frequentemente permaneceram bloqueadas quando suas escolas fechavam”, afirma a OCDE.

Entre as medidas para auxiliar os estudantes durante o fechamento das escolas estão principalmente as atividades remotas por rádio e televisão, os recursos de aprendizagem online e kits de instrução. Sem contar as aulas em tempo real e encontros virtuais com professores. Até por isso, o relatório pede para que as escolas e instituições continuem investindo nessa capacidade de ensinar à distância, reforçando a infraestrutura disso mesmo com o retorno das aulas presenciais.

Segundo a organização, alguns países conseguiram oferecer apoio aos estudantes durante a pandemia, como suporte de equipamento para aprendizagem à distância, apoio financeiro para alunos e escolas e recursos para segurança e limpeza de equipamentos. Um dos grandes desafios será retomar o investimento na educação, pois a prioridade em muitos países passou a ser a injeção de dinheiro nas áreas de saúde e na economia.

Para reabrir as escolas, a OCDE diz que é importante fazer uma avaliação de riscos entre os funcionários, desenvolver protocolos claros para o retorno, revisar as políticas de frequência para ajustar possíveis situações de ausência por motivos de saúde e garantir o treinamento adequado para professores e funcionários.

“A mudança real geralmente ocorre em crises profundas, e neste momento mantém a possibilidade de não voltarmos ao status quo quando as coisas voltarem ao ‘normal’. Embora esta crise tenha profundas implicações disruptivas, inclusive para a educação, não têm resultados pré-determinados. Será a natureza das nossas respostas coletivas e sistêmicas a essas rupturas que irão determinar como somos afetados por elas”, conclui.

Fonte: Estadão

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