Quem é Arthur Lira, o soldado de Cunha que quer virar general de Bolsonaro


Kelli Kadanus, Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Colaboração para o UOL e do UOL, em Brasília

Assim como um soldado que, ao longo da jornada de batalhas, tenta ascender a general, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) buscará a partir de amanhã (1º), dia da eleição para o comando da Câmara, assumir papel de protagonismo no cenário político nacional.

Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro(sem partido) e sua rede de aliados, o ex-membro da “tropa de choque” de Eduardo Cunha (MDB) enfrenta o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). Entrincheirado em flanco oposto, Baleia teve candidatura articulada pelo atual comandante da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que luta para fazer o seu sucessor.
Lira tenta subir um degrau na hierarquia da Câmara quase cinco anos depois de se notabilizar como um dos personagens leais a Cunha —cujo mandato foi cassado em setembro de 2016. Veterano, o ex-presidente da Câmara foi do céu ao inferno em 2016, quando perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar. Ele foi acusado de corrupção e preso em uma das fases da Operação Lava Jato.

Em conversas reservadas, deputados e interlocutores relataram ao UOL que há “mais semelhanças do que diferenças” entre Cunha e Lira. Alguns dos pontos mais frequentes de comparação seriam a “habilidade política” para articulações políticas e a capacidade de escantear quem se tornar seu inimigo. Outro ponto citado foi o “conhecimento do Regimento Interno”.

A rede de apoio que Lira formou em prol de sua candidatura também foi mencionada como uma das semelhanças entre os dois.

Além de contar com o apoio explícito de Bolsonaro, o alagoano conseguiu se projetar como um líder capaz de representar o multifacetado bloco do “centrão”. Em movimento mais recente, conseguiu atrair o interesse de políticos do Solidariedade, do DEM e do PSB —partidos que compõem a base do adversário. A disputa é vista como equilibrada, mas entre deputados há a sensação de que Baleia perdeu um pouco de força nessa última semana.

Em 2015, quando venceu o petista Arlindo Chinaglia (SP), nome bancado pelo Planalto à época, Cunha emergiu no cenário político como um parlamentar habilidoso e capaz de agregar alianças.

Ele conseguiu reunir em torno de si o apoio oficial de siglas que somavam 218 deputados. Na ocasião também houve traições. Congressistas de partidos como PR, PSD e PDT, que compunham a base governista, acabaram votando no emedebista.

Fiel escudeiro

A relação de confiança entre Lira e Cunha garantiu ao progressista, logo depois da eleição, a chefia de uma das comissões mais importantes da Casa, a CCJ (Constituição e Justiça). Sua atuação era considerada “discreta” e “focada nos bastidores”.

No ano seguinte, com a derrocada de Cunha, Lira teve mais uma oportunidade de demonstrar lealdade ao hoje ex-presidente da Casa. Depois de adiar ao máximo a análise do processo por quebra de decoro com manobras na CCJ, o alagoano emitiu um parecer favorável ao investigado.

O documento, elaborado em resposta a uma consulta sobre possíveis mudanças nas regras de cassação, tentava salvar o mandato do emedebista. Entregue na véspera da votação do relatório que daria fim à trajetória política de Cunha.

A estratégia acabou não funcionando. Ao fim desse processo, o mais longo da história da Casa envolvendo pedidos de cassação, o ex-cacique do MDB foi derrotado com 450 votos favoráveis e apenas dez contrários (entre os quais o do próprio Lira).

Tour pelo país

Líder do centrão e do PP na Casa, Lira está em seu terceiro mandato como deputado federal e conseguiu formar em torno de sua candidatura um bloco com dez partidos.

Desde que anunciou a candidatura, Lira iniciou um tour pelo país, ainda em 2020. Ele iniciou as viagens pela região Norte e já percorreu todos os estados.

Lira é natural de Maceió, cidade onde exerceu o cargo de vereador. Ele também foi deputado estadual de Alagoas antes de se eleger deputado federal, em 2010.

Ele é filiado ao PP desde 2009, mas também já passou por partidos como PFL, PSDB, PTB e PMN.

Lira é filho de Benedito de Lira, ex-senador e atual prefeito de Barra de São Miguel, município da região metropolitana de Maceió.

Atuação na Câmara

Na Câmara, Lira já foi presidente de duas das principais comissões da Casa: a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e a CMO (Comissão Mista de Orçamento).

Como líder do chamado centrão, bloco que reúne os partidos PL, PSD, PP, Solidariedade e Avante, tem poder maior sobre 139 deputados. Mas Lira também tem influência sobre deputados de outras legendas, como MDB, Republicanos, DEM e Patriota.

O centrão começou uma aproximação com Bolsonaro em março do ano passado. De lá para cá, Lira conseguiu emplacar aliados em postos chaves do governo federal, como no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Lira também foi um articulador importante para a indicação de Kassio Nunes Marques para o STF (Supremo Tribunal Federal), que ocupou a vaga deixada pelo ministro Celso de Mello após sua aposentadoria.

A influência de Lira cresceu durante a tramitação da reforma da Previdência, em 2019. O deputado foi um dos responsáveis por negociar acordos para aprovação da proposta.

Denúncias de corrupção

Lira responde a dois processos no STF. Um deles é o chamado “quadrilhão do PP”. Ele e outros membros do partido são acusados de pertencimento a organização criminosa, voltada ao cometimento de crimes contra órgãos da administração pública, como a Petrobras, a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Ministério das Cidades.

Ele também é réu em um processo em que é acusado de organização criminosa e de receber propina de R$ 106 mil do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, para mantê-lo no cargo, em 2012.

Lira também foi alvo de uma ação movida por sua ex-mulher Jullyene dos Santos Lins, que o acusava de injúria e difamação. O deputado nega qualquer crime.

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