Delator relata supostos repasses de propina a Renan e Randolfe, além de Aécio

“Ninguém ia ao escritório de Alberto Youssef para rezar”, afirmou, em depoimento, o entregador de dinheiro do doleiro, Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará

O delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, o “Ceará”, citou o suposto repasse de valores ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e a Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A declaração consta do mesmo depoimento em que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi apontado como suposto beneficiário de R$ 300 mil. Aécio classificou a acusação como “absurda”. As informações são do portal G1.

“Homem elegante”

As declarações contidas no depoimento de Rocha, datadas de julho, já foram homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O delator afirmou que trabalhava para Youssef no serviço de entrega de dinheiro para políticos.

Ceará disse que, entre janeiro e fevereiro de 2014, Youssef lhe ordenou que levasse R$ 1 milhão de Recife a Maceió. O delator garante que entregou o dinheiro, em duas partes de R$ 500 mil, para “um homem elegante” num hotel. Rocha acrescentou ter perguntado ao doleiro quem era o destinatário do dinheiro, e a resposta teria sido: “O dinheiro é para Renan Calheiros”.

Carlos Rocha informou também que, entre 2009 e 2014, Youssef disse que iria disponibilizar R$ 2 milhões para Renan, para evitar a instalação de uma CPI para investigar a Petrobras. Mas o delator não informou se o repasse de fato ocorreu. A assessoria de imprensa de Renan negou as acusações.

Já em relação ao senador Randolfe Rodrigues, Rocha declarou que Youssef disse: “Para esse aí já foram pagos R$ 200 mil”. Randolfe classificou a citação como “descabida”.

“Mensalão do PP”

Ao ser questionado a respeito de propina a deputados do PP, Ceará afirmou que Yousseff usava a expressão “mensalão do PP” e dizia que o dinheiro servia para manter o partido na base do governo. O delator cita pagamentos ao deputado Nelson Meurer (PP-PR) e ao ex-ministro Mário Negromonte.

Segundo Rocha, Alberto Youssef comentava que, entre os políticos, Negromonte era “o mais achacador”, o que o teria levado a perder o cargo de ministro das Cidades, em 2012, “porque não estava ‘fazendo caixa’ para o Partido Progressista [PP], uma vez que estaria ‘roubando apenas para ele próprio’”. Segundo Rocha, Youssef disse ter repassado R$ 5 milhões a Mário Negromonte, na campanha de 2010.

Em nota, o Partido Progressista reafirma que não compactua com atos ilícitos e acredita que a verdade prevalecerá após a conclusão das investigações. Já o ex-ministro Mário Negromonte afirmou que nunca ouviu falar em Carlos Alexandre de Souza Rocha e que não tem conhecimento sobre as afirmações dele. Negromonte classificou a situação como “absurda” e disse que se trata de um criminoso querendo se livrar do crime acusando cidadãos sem prova material.

O delator Rocha declarou, ainda, que, em 2010, fez “umas quatro” entregas de dinheiro em espécie, no valor de R$ 300 mil, em um apartamento funcional na quadra 311 Sul, em Brasília, mas que não sabia quem era o morador. Nas vezes em que esteve lá, estavam presentes os ex-deputados João Pizzolatti, Mário Negromonte, Pedro Corrêa e outros parlamentares que Ceará disse não ter reconhecido.

A defesa de João Pizzolatti  afirma que ele não conhece o senhor Ceará e que Pizzolatti não recebeu nenhum valor do doleiro Alberto Yousseff  ou de pessoas ligadas a ele.

“Mesada gorda”

Ao relatar repasse de propina ao deputado Nelson Meurer, Rocha disse que entregou duas vezes, em um hotel em Curitiba, dinheiro destinado ao parlamentar. Segundo ele, uma entrega foi no valor de R$ 300 mil e a outra, entre R$ 150 mil e R$ 300 mil. Youssef dizia, afirmou Ceará, que Meurer era um dos líderes do PP que recebiam a “mesada gorda”.

De acordo com o relato de Rocha, quem recebeu o dinheiro foi o filho do parlamentar, uma pessoa de cujo nome ele não se recorda. Diante de fotos de Nelson Meurer Junior, o delator não o reconheceu como a pessoa que recebia o dinheiro, mas disse que não afasta a possibilidade.

Ceará relatou também que viu o deputado no escritório de Youssef em São Paulo, mas não recebendo dinheiro. Afirmou, porém, que “ninguém ia ao escritório de Alberto Youssef para rezar”.