Saud opta pelo silêncio na CPMI: “quando falei a verdade, fui preso”

Reprodução de vídeoPor Luísa Martins e Cristiane Bonfanti | Valor

BRASÍLIA  –  (Atualizada às 14h39) O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), encerrou a reunião do colegiado nesta terça-feira sem ter cumprido o principal objetivo da sessão, que era ouvir o ex-diretor de relações institucionais do grupo J&F Ricardo Saud.

O ex-executivo, que deixou a penitenciária da Papuda para participar da comissão, decidiu permanecer em silêncio durante as mais de duas horas e meia de reunião.

Ao fim da sessão, o relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), disse que Saud mantém uma esperança “impossível” de que os benefícios de sua colaboração premiada sejam confirmados. “Acredito que ele mantém uma esperança – digamos impossível – na confirmação dos benefícios desse acordo escandaloso de colaboração premiada”, afirmou, acrescentando que a antiga cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) já “lavou as mãos” em relação a Saud.

Ataídes disse que o colegiado deve ouvir Wesley Batista, do grupo J&F, e o ex-procurador Marcelo Miller nos próximos dias 7 e 8, respectivamente. “O silêncio dele o condena. Não há dúvida disso”, afirmou, acrescentando ter chegado à conclusão de que Marcelo Miller arquitetou o “projeto criminoso” envolvendo as delações premiadas dos irmãos Batista.

Em uma de suas poucas falas durante a CPMI, Saud disse que, na primeira vez em que sentou para falar a verdade, foi preso.

“As palavras do senhor [segundo as quais] quero ajudar o país, eu quero, mas a primeira vez que sentei para falar a verdade, eu fui preso. Já pensou se eu continuar falando? Vou ficar calado”, disse Saud.

O ex-executivo afirmou que, como o a suspensão do seu acordo é cautelar, ele permaneceria calado dentro do seu direito constitucional. “Eu não queria frustrar vossas excelências, mas gostaria de lembrar que meu acordo, minha suspensão, está cautelar, e eu vou permanecer em silêncio dentro do meu direito constitucional”, afirmou, logo no início.

Saud está preso no complexo da Papuda, em Brasília. Ele foi detido com o empresário Joesley Batista em setembro, após um pedido do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot ser acatado pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

O advogado de Saud pediu sua dispensa da sessão, mas a presidência da CPMI negou. “Ele tem o direito de não responder, mas nós temos o direito de indagá-lo mesmo assim”, afirmou Ataídes.

O ex-executivo da J&F limitou-se a dizer que, tão logo as premissas do acordo sejam restabelecidas, ele será o “mais interessado” em falar. “Não me escondo atrás de ninguém. Quando minhas premissas forem restabelecidas, quero falar, e muito.”

O relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), fez uma série de questionamentos a Saud sobre as omissões e irregularidades da JBS, mas a resposta do empresário foi sempre a mesma: “Permanecerei em silêncio.”

(Luísa Martins e Cristiane Bonfanti | Valor)

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