Arquivo diários:23/04/2015

Juiz aposentado se recusa a dividir título mineiro com João Pedro Stédile

MURILO RAMOS E TERESA PEROSA

O magistrado mineiro Mozart Hamilton Bueno publicou ontem (21) uma carta aberta ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, informando que devolveria sua Medalha da Inconfidência, título conferido pelo Executivo mineiro. O ato foi motivado pela entrega da mesma honraria ao dirigente doMovimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, em cerimônia durante o Dia de Tiradentes. “Devolvi por não concordar com o critério atual de oferecimento das homenagens, não direcionado a merecedores, mas a partidários do governo”, diz Bueno. “Discordo que o título seja entregue a um homem que não fez nada por Minas, nem pelo Brasil”, afirma. Juiz em Rondônia e aposentado desde 1994, Hamilton Bueno recebeu a honraria em 1982, depois de sete anos a frente do Colégio Tiradentes da Policia Militar. Recebeu o título do então dirigente mineiro, Francelino Pereira, governador biônico do estado ao final do regime militar. Na carta, Bueno diz: “Não me julgo superior a esse senhor Stédile, mas a minha modesta biografia, a minha devoção ao meu Estado natal, – berço e sacrário da nossa liberdade – recomendam-me não aceitar esse nivelamento, razão pela qual e por imperativo da minha formação cívica, renuncio ao galardão, com pesar, é verdade, mas convicto de que faço o que dita minha consciência.” Hoje morando em Brasília, Hamilton Bueno prometeu enviar a medalha ao Palácio Tiradentes por correio até amanhã (23).

Leia a íntegra da carta abaixo.

Excelentíssimo Senhor
Fernando Pimentel
DD. Governador do Estado de Minas Gerais
“Minas Gerais não aceita a paz morna da submissão”
(Governador Itamar Franco)

Senhor Governador.
No ano de l982 fui agraciado pelo Governo do meu estado com a Medalha da Inconfidência.
Era então, Diretor do Colégio Tiradentes da Policia Militar sediado em Barbacena e Comandante Geral da mesma Corporação o Coronel PM Jair Cançado Coutinho sendo Governador do Estado o Dr. Francelino Pereira dos Santos.
Por indicação daquele Comandante fui agraciado pelo Governador com esta comenda pelos “relevantes serviços prestados” à gloriosa Polícia Militar e ao seu sistema de ensino.
Não sei se tão relevantes foram esses serviços, mas afirmo que durante os sete anos em que dirigi o referido Colégio entreguei-me de corpo de alma à missão e o fiz despontar, coadjuvado por excelente equipe de Especialistas, Professores e Corpo Administrativo, como Padrão em Minas Gerais, segundo avaliação da Secretaria de Educação, e, sem qualquer dúvida, o melhor de Barbacena.
Cheguei à direção daquele Colégio através de uma caminhada pelas fileiras da Corporação, na qual me alistei, em 1.954, com treze anos de idade, como aluno da Escola de Formação Musical do 9º Batalhão, escola essa criada pelo Governador Juscelino Kubitscheck. Nessa caminhada e graças à PMMG logrei alcançar dois cursos superiores, conquistar o primeiro lugar no Estado no Concurso Público para a Cadeira de História, patrocinado pela Corporação e, em seguida, ser nomeado Diretor do referido estabelecimento.
Com dedicação e apoio do saudoso Coronel Walter Rachid Bittar, Chefe do Estado Maior da PMMG e do não menos saudoso Dr. Chrispim Jacques Bias Fortes Secretário de Obras do Estado, edificamos o novo prédio do Educandário, remodelamos a sua administração e implantamos o Serviço de Supervisão Pedagógica.
Foram vinte e oito (28) anos vividos no seio da Corporação, da qual me desliguei para encetar carreira na Magistratura do Estado de Rondônia.
Reconheço, sinceramente, que a comenda a mim conferida, ultrapassa, e muito, os meus méritos, se é que os tenho, mas a recebi com orgulho e a consciência tranquila de quem tudo fez em prol da educação mineira e em especial da juventude barbacenense.
Hoje, assisto no noticiário haver Vossa Excelência conferido igual comenda a um tal Stédile, de quem ouço falar como invasor de propriedades alheias, de incentivador da desobediência civil, da liderança de insurrectos e como comandante de um exército ilegal e nocivo à segurança nacional.
Respeito a escolha de Vossa Excelência por essa atitude, mas me recuso ao nivelamento a que estão submetidos os nomes de grandes brasileiros que também foram distinguidos pelos governadores que lhe antecederam.
No Brasil atual em que a corrupção endêmica é a tônica do noticiário, em que a mediocridade se sobrepõe à criatividade; a esperteza à honestidade, a incompetência à capacidade e o corporativismo partidário aos interesses maiores na nação, sinto quão imerecida se apresenta essa condecoração, eis que grandes nomes do cenário nacional, em todas as áreas da atividade, são ignorados neste momento pelos governantes de plantão.
Prefiro tê-la merecido sem ostentá-la que dividi-la com quem nada fez em prol do Brasil, da ordem pública e muito menos por Minas Gerais onde é ilustre desconhecido.
Nesta oportunidade peço desculpas ao ilustre Coronel PM Jair Cançado Coutinho e ao Governador Francelino Pereira dos Santos por esta atitude, afirmando, contudo que maior que a comenda que me concederam é a gratidão que por eles guardo no recôndito do meu coração.
Não me julgo superior a esse senhor Stédile, mas a minha modesta biografia, a minha devoção ao meu Estado natal, -berço e sacrário da nossa liberdade- recomendam-me não aceitar esse nivelamento, razão pela qual e por imperativo da minha formação cívica, renuncio ao galardão, com pesar, é verdade, mas convicto de que faço o que dita minha consciência.
A medalha, a passadeira e o respectivo Diploma seguem endereçadas ao Cerimonial do seu governo, via SEDEX com aviso de recebimento.

Atenciosamente.
Brasília, 21 de abril de 2015
MOZART HAMILTON BUENO

Fonte: Revista Época

Corrupção na Petrobras causou perdas de R$ 6,194 bilhões

Rio de Janeiro, 22 abr (EFE).- A corrupção na Petrobrás causou perdas no valor de R$ 6,194 bilhões, informou a companhia durante a apresentação dos resultados financeiros auditados de 2014.

“A publicação significa um passo fundamental na direção do resgate de credibilidade por parte dos acionistas, dos fornecedores, do mercado e da sociedade”, comentou o presidente da companhia, Aldemir Bendine.

Petrobras constatou que construtoras, fornecedores e outros envolvidos no caso Petrobras “se organizaram em um cartel” e entre 2004 e abril de 2012 “sistematicamente incluíram despesas adicionais na aquisição de ativos imobilizados pela companhia”.

A companhia petrolífera estatal informou através de comunicado que não conseguiu identificar “os valores específicos de cada pagamento realizado ou os períodos em que tais pagamentos aconteceram”.

A Petrobras ressaltou igualmente que ainda não recuperou nenhum valor referente aos pagamentos “indevidos”, mas precisou que está tomando as medidas jurídicas necessárias para buscar o ressarcimento pelos prejuízos sofridos.

A companhia registrou ano passado prejuízo de R$ 21,587 bilhões, o primeiro resultado negativo desde 91, e radicalmente inferior ao lucro líquido de R$ 23,4 bilhões registrados em 2013.

A empresa atribuiu o resultado negativo de 2014 à perda de R$ 44,6 bilhões pela desvalorização de seus ativos e aos prejuízos causados pela corrupção.