Judicialização ganha tempo para o governo

IGOR GIELOW
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A judicialização da disputa em torno do impeachment é a primeira vitória do governo na batalha para evitar o processo para tentar retirar Dilma Rousseff do cargo.

O maior ativo para o Planalto é ganhar tempo enquanto é definida a situação do personagem central do drama político desta terça (13), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Não deixa de ser curioso ver governo e oposição lutando para ter o deputado, ferido de morte pela revelação da existência de suas contas na Suíça, a seu lado. Aparentemente, a opinião pública aferível de forma imprecisa e mais aguda em redes sociais ainda não surtiu efeito.

Claro que tudo isso está mudando na razão de horas, não dias, como a adesão de metade do PT da Câmara ao “Fora, Cunha” atesta. Os próximos dias irão dar a medida dos acordos costurados em torno do presidente da Casa e sua transformação, ou não, em franco-atirador. E se possui mesmo munição real, em caso afirmativo.

Paralelamente, um intenso trabalho de bastidor começa imediatamente na arena do STF (Supremo Tribunal Federal), onde nem todos os ministros receberam com naturalidade as decisões provisórias de Rosa Weber e Teori Zavascki.

A disputa pela formação da maioria na análise das liminares, que se for célere ocorrerá talvez em novembro, será intensa e trará consigo as usuais acusações de partidarismo de lado a lado.

De todo modo, é óbvio que qualquer decisão que o STF tomar não irá acabar com o instituto do impeachment ou afastar o risco de novos pedidos contra Dilma.

A questão central para o governo é que o cronômetro foi parado. Dobrar a aposta e pedir a votação de vetos presidenciais da chamada pauta-bomba fiscal é manobra arriscada, mas, se bem-sucedida, trará um alívio político inédito neste semestre ao Planalto.

Novamente, será uma batalha. A guerra segue, com embates mais importantes pela frente, como a tentativa de recriação da CPMF _um obstáculo quase intransponível, mas talvez a única tábua de salvação para o governo no médio prazo. A economia segue em desintegração e, se ganhou tempo, o governo terá de saber aproveitá-lo.

Fonte: Folha de São Paulo