NATÁLIA CANCIAN
DE BRASÍLIA
Em meio ao surto de casos de microcefalia, uma outra complicação associada ao vírus zika tem deixado médicos e autoridades de saúde em alerta no Nordeste e em outras regiões do país.
São casos da síndrome de Guillain-Barré, uma doença rara que gera fraqueza muscular e pode causar paralisia.
O Ministério da Saúde admite que houve um avanço dos casos, mas diz não ter dados nacionais -a doença não é de notificação compulsória ao órgão federal.
Levantamento feito pela Folha com dados das secretarias de Saúde, no entanto, aponta ao menos 554 casos notificados pelos hospitais aos gestores de saúde no Nordeste neste ano, a maioria entre maio e outubro.
No total, 165 já foram confirmados. Os demais permanecem em investigação.
O Estado com mais notificações é a Bahia, com 156 casos (65 confirmados e os demais em investigação). Em seguida, vem Pernambuco, com 127 registros -46 confirmados e 81 em apuração.
Além do Nordeste, Estados de outras regiões com circulação de zika (18 já têm casos autóctones) também já investigam aumento nos registros. No Rio de Janeiro, há quatro casos suspeitos.
A síndrome de Guillain-Barré costuma aparecer de quatro dias a quatro semanas após um quadro de infecção.
Entre as causas mais conhecidas estão o citomegalovírus e o vírus Epstein-Barr. Os novos casos, porém, têm tido exames descartados para esses agentes. Ao mesmo tempo, crescem os relatos de uma associação da síndrome ao vírus zika, transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chikungunya.
Segundo o neurologista Marcelo Adriano Vieira, do Instituto de Doenças Tropicais do Piauí, há uma dificuldade em detectar o vírus porque, semanas após a infecção, a identificação só ocorre em poucos casos e com exames complexos.