SÃO PAULO – O consultor de vendas Alberto Gzzo Filho manteve durante muito tempo uma rotina mensal desgastante. Correntista do Banco do Brasildesde 2009 e do Bradesco desde 2013, sempre que precisava enviar dinheiro para alguém que tinha conta em outros bancos ele ia até um caixa eletrônico, fazia um saque e levava a quantia consigo até o banco, para então realizar o depósito na conta da pessoa. Tudo isso para fugir da tarifa de TED, que no Bradesco custa R$ 9,70 pela internet e no Banco do Brasil sai por R$ 9,40.
Como fazia isso mais de 10 vezes por mês, para evitar um gasto anual absurdo com o pagamento de tarifas de TED, Alberto se expunha ao risco de assaltos e tinha o inconveniente de precisar se locomover até os caixas eletrônicos várias vezes por mês. Assim como ele, milhões de brasileiros precisam fazer malabarismos para fugir de tarifas como essa. Enquanto uma TED pode ser feita em menos de um minuto pelo internet banking, o deslocamento entre caixas eletrônicos para sacar e depositar pode levar horas – isso se o banco da pessoa que vai receber tiver agência na sua cidade. Sem contar o perigo de andar por aí com dinheiro no bolso. “Eu só fazia esse tipo de coisa com valores de no máximo R$ 1 mil. E sempre tomei muito cuidado para evitar ser assaltado”, diz o consultor.
Quando tinha que fazer transferências de valores mais altos, ele preferia não se arriscar e pagava os R$ 9,70 cobrados pelo banco. A verdade é que clientes como Alberto contribuíram muito para rechear os cofres do Bradesco em 2017 – só no ano passado o banco teve um lucro líquido de R$ 19 bilhões. Apenas as tarifas cobradas por serviços da conta corrente, que engloba o envio de DOC e TED, assim como saques em caixas eletrônicos, extratos, emissão de folhas de cheque e tarifas de manutenção de conta, geraram uma receita de R$ 6,658 bilhões para o Bradesco no ano passado, 10% a mais que o banco faturou em 2016 com estes mesmos serviços.
Mas é claro que o banco da Cidade de Deus não é o único que fatura alto com a cobrança de tarifas. Um levantamento do InfoMoney mostra que os 5 maiores bancos do país tiveram juntos uma receita R$ 27,3 bilhões com tarifas de conta corrente em 2017. Esse valor bilionário refere-se apenas a serviços de conta corrente – olhando o balanço dos bancos, não é possível identificar todas as mordidas que os brasileiros tomam dos bancos em um nível maior de detalhe. Ou seja, o valor total de tarifas pagas pelos brasileiros é, na verdade, ainda muito maior.
O recordista é o Banco do Brasil, com a cobrança de R$ 6,956 bilhões em tarifas referentes a conta corrente no ano passado, seguido por Itaú (R$ 6,761 bilhões), Bradesco (R$ 6,658 bilhões), Caixa (R$ 4,106 bilhões apenas até setembro – o banco ainda não divulgou o balanço do último trimestre) e Santander (R$ 2,901 bilhões). “Essa é uma parte importantíssima das receitas de um banco”, diz um analista que cobre o setor.
A receita é tão importante que os bancos não pensam duas vezes antes de aumentar as tarifas de conta. Um estudo do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) divulgado no final do ano passado mostrou que os preços dos serviços bancários (tarifas avulsas e pacotes de serviços) desses cinco bancos tiveram aumentos muito acima da inflação entre outubro de 2016 e novembro de 2017. Entre os 58 pacotes de tarifas oferecidos pelos cinco bancos, 47 sofreram aumento de preço. A Caixa, por exemplo, reajustou todos as cestas entre 10,71% e 78,88%. No mesmo período, a inflação acumulada (Índice de preços amplo ao consumidor – IPCA) ficou em 2,70%.
O que para os banqueiros é uma mina de ouro, para o cliente é um ralo por onde o dinheiro escoa sem parar. Por exemplo, o cliente que tem conta em algum destes cinco bancos paga entre R$ 36,80 e R$ 39 por mês para ter um pacote de tarifas que engloba itens como 3 DOCs/TEDs, 8 saques e três extratos. Faça as contas. No caso de alguém como Alberto, que realiza 10 TEDs por mês no Bradesco, o gasto mensal seria de R$ 106,80. Isso porque o banco cobra R$ 38,90 por mês pelo pacote de tarifas que engloba três TEDs. O cliente então precisaria pagar por fora as outras sete transferências, totalizando mais R$ 67,90 em um mês. Em um ano, a pessoa paga para o banco nada menos do que R$ 1.281 apenas com estas transações. Isso sem contar outras operações que poderiam ter custos adicionais, como saques, extratos, etc.
Entenda as tarifas
Todos os bancos são obrigados pelo Banco Central a oferecer alguns serviços sem nenhum tipo de cobrança. Entre eles estão quatro saques por mês, duas transferências entre contas da própria instituição, dois extratos e 10 folhas de cheque. Além disso, consultas a saldos e extratos pela internet também são isentos de tarifas. Fora isso, fica a critério dos bancos os valores de cobrança por cada transação efetuada na conta corrente.
No caso das TEDs e DOCs, por exemplo, os valores ficam na faixa entre R$ 9 e R$ 10 quando feitos pela Internet ou por canais alternativos, como o telebanco. Já o cliente que resolve fazer um DOC ou TED no guichê do caixa paga R$ 18,85 pela operação no Banco do Brasil, R$ 17,90 no Itaú e R$ 17,40 no Santander. Pelos saques que excederem o limite isento pelo BC, o cliente do Santander precisa desembolsar R$ 2,40, enquanto o correntista da Caixa paga R$ 2,10 e o do Banco do Brasil R$ 2,15.
Os bancos também oferecem pacotes de serviços que englobam uma série de transações por mês e pelos quais os clientes pagam valores fixos mensais. Entre os pacotes, 4 são padronizados, ou seja, todos os bancos precisam disponibilizá-los e as transações inclusas são iguais em todos eles. Já a cobrança por cada pacote varia de banco para banco, como mostram as tabelas a seguir:
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