Saída de Parente da Petrobras reforça cautela no mercado de juros

Por Lucinda Pinto | Valor

SÃO PAULO  –  A decisão de Pedro Parente pedir demissão da Petrobras reforçou a cautela dos investidores, razão pela qual os juros de longo prazo não conseguiram dar sequência ao movimento de alívio observado no início desta sexta-feira.

A saída de Parente foi entendida pelo mercado como mais uma derrota na já cambaleante política econômica do governo Temer.

Depois de ter derrotas do lado fiscal e não conseguir garantir o ritmo de crescimento econômico desejado, os ajustes na política de preços da Petrobras podem colocar em questão a continuidade do processo de recuperação da companhia.

O receio dos investidores é que a saída de Parente tenha sido provocada por pressões para que outros ajustes sejam feitos, como, por exemplo, na fórmula da reajuste também da gasolina.

A melhora dos ativos domésticos ocorreu ao longo dos últimos meses porque alguns pilares econômicos foram recuperados, como por exemplo, um Banco Central independente e comprometido com o sistema de metas de inflação; uma política fiscal mais responsável, expressada especialmente pela fixação do teto de gastos; e maior independência na gestão da gigante Petrobras. A petroleira deixou de ser vista com um risco para os cofres públicos e voltou a ser uma empresa lucrativa, graças à gestão transparente e independente.

A preocupação com a política fiscal já vinha tomando conta do mercado com a greve dos caminhoneiros, uma vez que o governo teve de fazer várias concessões para interromper o movimento. E, agora, a saída de Parente coloca em questão também esse terceiro elemento de sustentação da confiança.

Além de alguns arranhões na política de reajuste diário nos preços dos combustíveis, o mercado vê risco de haver mais interferências na companhia, o que teria sido a razão para a demissão de Parente. “Vão querer usar a Petrobras”, disse um profissional do mercado financeiro.

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Esse clima negativo limita, de dessa forma, a redução do prêmio de risco cobrado pelo investidor no mercado de juros. As taxas até operam em leve queda, reagindo a um fator técnico: a nova estratégia anunciada pelo Tesouro de reduzir a oferta de títulos de longo prazo e continuar com leilões de recompra de NTN-F. Mas, para profissionais, o preço dos títulos não podem voltar aos níveis anteriores ao início da greve porque o quadro mudou de forma definitiva.

No leilão de recompra de NTN-F realizado nesta sexta-feira, o Tesouro não aceitou nenhuma das propostas, o que mostra que não há uma pressão de saída por parte de nenhum player desse mercado.

No encerramento do pregão, o contrato futuro com venceimento em jaqneiro de 2012, o DI janeiro/2021, tinha taxa de 8,82%, ante 8,89% no ajuste anterior. Já o DI janeiro/2025 tinha taxa de 11,31%, ante 11,29%; enquanto o DI janeiro/2027 estava em 11,69%, de 11,67%.