Arquivo diários:24/06/2018

Xixi-móvel: na Copa da Rússia, ônibus vira banheiro

Felipe PereiraFelipe Pereira

Do UOL, em São Petersburgo

Você poderia pensar que é um telão, mas o grupo de homens está amontoado ao redor de dois ônibus da fan fest de São Petersburgo. Os veículos estão num canto, logo depois da cortina de fumaça da área de fumantes. Eles são uma espécie de xixi-móvel. Banheiros montados em ônibus. Coisa de russo.

O cheiro não causa nojo como os dos banheiros químicos do carnaval brasileiro. Mas dá um certo incômodo no nariz e a higiene está longe de um W.C. de shopping. Mas o xixi-móvel é prático. Pode ser levado para grandes eventos sem a necessidade de montar ou desmontar qualquer estrutura. Matheus Escobar, 24 anos, usou e aprovou. Mas algumas questões ficaram no ar.

“A primeira coisa que eu pensei foi: para onde vai o meu xixi? Dei uma volta no ônibus e vi que tem mangueiras ligadas direto no esgoto”.

Felipe Pereira
Imagem: Felipe Pereira

A parte interna do ônibus é mais pitoresca. Ao invés de bancos, as laterais têm duas fileiras de banheiros. À esquerda, mictórios sem divisão entre eles. Na direita, quatro privadas para quem precisa sentar porque não foi levado até lá pela bexiga. Neste caso, existem portas, mas não privacidade. Álvaro Maneiro, 26 anos, constatou o detalhe in loco.

“Como é baixa divisão das casinhas, estava fazendo xixi e o cara do lado sentado no vaso. Ele estava com uma cara de vergonha por eu estar ali olhando. Eu também estava constrangido. E segurava a respiração.

Xixi móvel é antídoto a porcalhões

Fevereiro é época de campanha contra fazer xixi na rua no Brasil. O carnaval infesta calçadas. Na Rússia acontece a mesma coisa, ainda que em menor escala. Parte da solução do problema passou por aumentar a quantidade de banheiros em grandes eventos. Ocorreu há cinco anos e os ônibus estão em todas as cidades-sede da Copa.

A outra forma de acabar com os mal-educados foi acionar a lei. É proibido fazer xixi na rua e quem é flagrado recebe uma dura da nada gentil polícia russa. Em alguns casos, o infrator vai parar na delegacia. A sociedade russa reclama deste tipo de comportamento e até protesta.

Virou notícia que um grupo de suíços urinava numa calçada de Rostov, onde foi a estreia do Brasil. Eram pelo menos 10 pessoas de costas para as pessoas que passavam. Antonio Zapadnelli compartilhou as imagens no Facebook e a gravação viralizou e despertou protesto.

Trapalhadas do Coronel e ataque com vidro testam futuro presidente da CBF

Sandra Kelch/Kelch Photography/Divulgação

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em Sochi

Tradicionalmente, o posto de chefe de delegação da seleção brasileira numa Copa do Mundo é praticamente decorativo, servindo muito mais para a CBF fazer política com dirigentes. Desta vez, porém, Rogério Caboclo, eleito para assumir a presidência da entidade em abril do ano que vem, ficou com a missão. Em vez de permanecer focado apenas na seleção, ele precisou apagar incêndios provocados pelo atual mandatário, o coronel Antonio Carlos Nunes, e sua trupe. Os problemas e temas como a relação com a Fifa fazem com que Caboclo já seja testado durante o Mundial da Rússia.

Primeiro, Caboclo teve de administrar o fato de Nunes votar no Marrocos como sede da Copa de 2026, descumprindo o acordo com a Conmebol para apoiar a candidatura de México, Canadá e Estados Unidos, que saiu vencedora. O trabalho foi de tentar acalmar a confederação sul-americana, que considerou o gesto como traição, neutralizando o coronel. Ele deixou de comparecer aos eventos oficiais relativos à competição e a CBF reforçou o alinhamento com o bloco, apesar do papel na eleição.

O constrangimento, no entanto, ainda não foi superado. E o plano de evitar que o Coronel Nunes se envolvesse em novas confusões também não funcionou. Gilberto Barbosa, assessor da presidência, destacado desde o início da Copa para colar em Nunes, quebrou uma taça de vinho na cabeça de um brasileiro que teria ofendido o dirigente e dado um tapa no assistente.

Conforme o UOL Esporte apurou, Caboclo então tomou a decisão de desligar Giba, como é conhecido o assessor da comitiva do coronel, que já voltou para o Brasil. Oficialmente, no entanto, a CBF diz que a decisão foi institucional, e não de Caboclo.

Agora o futuro presidente precisa administrar o destino de Barbosa. Assim como o próprio Caboclo, o assessor é cria de Marco Polo Del Nero, banido do futebol pela Fifa, mas ainda influente na confederação. Uma punição, além do corte da comitiva, ou até a demissão dele, provavelmente desagradariam ao dirigente banido. Presidentes de federações também defendem que Giba não seja punido. Alegam que ele apenas foi proteger o coronel e acabou perdendo a cabeça.

Caboclo ainda precisará de habilidade para lidar com o atual presidente. Colocado na vice-presidência por, entre outros motivos, ser considerado dócil, o coronel passou a tomar algumas decisões por vontade própria. Essa postura incomoda o restante da cúpula da entidade. Dirigentes das federações estaduais também não enxergam com bons olhos a permanência dele. A irritação aumentou após os episódios na Rússia, onde o coronel também cometeu gafes diante de jornalistas.

O futuro presidente precisa encontrar uma fórmula para controlar o atual sem entrar em conflito com ele. Nesse caso, Caboclo não tem margem de manobra para tomar uma atitude pessoalmente, como fez em relação às críticas à arbitragem após o empate em um gol com a Suíça. Tite havia pregado contra o “mimimi” em relação ao não uso do árbitro de vídeo em suposta falta em Miranda no gol suíço. Inicialmente, a CBF não iria reclamar, mas Caboclo decidiu assinar um comunicado enviado à Fifa. O gesto pode ser interpretado como uma demonstração de poder. A confederação, porém, nega que tenha havido divergência em relação à atitude a ser tomada.

Caboclo ainda tem o restante da Copa do Mundo para tentar mudar a imagem da CBF de entidade enfraquecida na Fifa. Desta forma, mais provas de fogo estão por vir para o cartola durante o Mundial.