O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian , denunciou neste domingo um “concurso de insultos” sobre Brigitte Macron, a mulher do presidente Emmanuel Macron, por parte das autoridades brasileiras. Durante entrevista a uma rádio, o chanceler criticou a maneira como o Brasil vem administrando suas relações internacionais.
— Minha opinião pessoal é que não se administram relações internacionais organizando, qualquer que seja o país, um concurso de insultos. Isso é o que está acontecendo — disse Le Drian em um programa da rádio Europe1.
Le Drian considerou os comentários em relação a Brigitte Macron “inaceitáveis” e “indignos”:
— A maneira como um funcionário brasileiro, um ministro ainda por cima, trata a sra. Macron é indigna, indigna para ela, para a França mas também para as mulheres, começando pelas brasileiras que protestaram contra esse tipo de declaração — disse o chanceler. — Infelizmente, noto uma persistência de palavras agressivas, insultuosas, que são inaceitáveis.
Na quinta-feira passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se desculpou publicamente por ter dito que a mulher do presidente francês era “feia mesmo”. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro retirou do Facebook, alegando que queria “evitar duplas interpretações”, um comentario a um meme em que um de seus seguidores comparava a aparência física de Brigitte Macron com uma imagem da primeira-dama brasileira, Michele Bolsonaro.
“Agora entende porque o Macron ataca o Bolsonaro?”, dizia o comentário ao qual o presidente brasileiro respondeu: “Não humilha, cara. Kkkkkkkkkk”.
Macron qualificou esse comentário como “extraordinariamente desrespeitoso”, mas Bolsonaro negou que se trataria de uma ofensa. “Eu não pus essa foto da sua mulher”, alegou o presidente brasileiro. Os internautas brasileiros inundaram as redes sociais repudiando a atitude de Bolsonaro com a hashtag #DesculpaBrigitte.
A França e o Brasil vivem momentos de embate diplomático, após Macron classificar como uma “crise internacional” a proliferação de incêndios na Amazônia.
Cerca de um mês após a reunião do G20, Bolsonaro cancelou uma reunião que teria com Le Drian em Brasília. Segundo o Itamaraty, o encontro teria sido cancelado por “problemas de agenda” do presidente da República, mas, na hora em que a reunião deveria acontecer, Bolsonaro estava cortando o cabelo, o que foi transmitido ao vivo pelas redes sociais presidenciais.
O presidente depois alegou que não se reuniu com o chanceler francês porque Le Drian teve encontros com representantes da oposição e de ONGs brasileiras, em sua maioria hostis à sua política ambiental. Alguns dias depois, Le Drian ironizou a “emergência capilar” do presidente brasileiro, em entrevista ao Journal du Dimanche:
— Todo mundo conhece as restrições que acompanham as agendas dos chefes de Estado. Então, obviamente, houve uma emergência capilar. Essa é uma preocupação que é estranha para mim — declarou Le Drian, em uma referência irônica a sua calvície, em uma entrevista ao Journal du Dimanche.
O GLOBO