Arquivo diários:01/02/2021

O que esperar da gestão de Rodrigo Pacheco como presidente do Senado


Estadão
Com apoio do Palácio do Planalto, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) foi eleito o novo presidente do Senado, com 57 votos, contra 21 de sua adversária, Simone Tebet (MDB-MS). Ele chega ao cargo defendendo a agenda de reformas do governo, mas com a pandemia de covid-19 travando a pauta. De acordo com parlamentares ouvidos pelo Broadcast Político, dificilmente algum projeto fora do tema da crise avançará enquanto o novo coronavírus avançar no País.
Como presidente do Senado, o senador do DEM será responsável por convocar a votação do Orçamento de 2021, que ainda está parada no Congresso. A proposta é decisiva para o governo do presidente Jair Bolsonaro, pois define o tamanho da verba de cada ministério, e também para os congressistas, pois estabelece o destino das emendas parlamentares. O Centrão da Câmara pressiona pela instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) para discutir o projeto.
Uma vitória de Pacheco, de acordo com técnicos e integrantes do Congresso, traz tranquilidade para o presidente Bolsonaro na análise do Orçamento. Um grupo adversário controlando essa pauta poderia pressionar o Executivo com projetos que aumentem gastos. O parlamentar demonstrou que não pretende entrar em colisão com o Executivo na administração das contas públicas e no destino do teto de gastos. A regra, porém, não pode ficar “intocada” na pressão social, afirmou ele ao Broadcast Político, antes da eleição.
Na campanha para a presidência do Senado, Pacheco elegeu o tripé “saúde pública, crescimento econômico e desenvolvimento social” como projeto de gestão, ao qual chamou de “trinômio”. A discussão sobre o plano de vacinação contra covid-19 no País vai ser o primeiro item na agenda da Casa, de acordo o parlamentar, eleito para presidir o Congresso Nacional até o início de 2023.
Além do governo, Pacheco recebeu o apoio de partidos de oposição no Senado: PT, PDT e Rede. Essas legendas pressionam pela retomada do auxílio emergencial, pago durante a pandemia de covid-19. Sem apresentar uma solução para uma nova rodada do benefício dentro do teto de gastos, o senador deixou a “batata quente” com o Executivo e colocou a definição sob a atribuição do presidente da República.
Para abrir espaço no teto de gastos, o governo defende a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial. A medida, porém, deve ser desidratada pelo Senado. De acordo com parlamentares, não há ambiente para corte de salário e jornada dos funcionários públicos – um dos itens previstos – ainda mais em meio à crise de covid-19. O movimento pode reduzir o impacto fiscal da PEC.
O alinhamento de Pacheco com o Planalto, porém, não dará um ambiente de apoio incondicional ao governo. A agenda de privatizações é uma das incertezas. Em entrevista ao Broadcast Político durante a campanha, Rodrigo Pacheco fez questão de deixar a capitalização da Eletrobras fora das prioridades para o ano.
“A pandemia é o mote principal de enfrentamento. O foco agora haverá de ser a preservação da saúde pública, um programa social e o crescimento econômico a partir das reformas que sejam necessárias no sistema tributário, a administrativa, as privatizações, não essa da Eletrobras, mas de um modo geral diminuir o tamanho do Estado empresário”, afirmou Pacheco, em entrevista à reportagem.
No campo político, Pacheco assume a presidência do Senado alinhado ao Planalto e com a expectativa de blindar o governo na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News e no Conselho de Ética, onde o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é alvo de uma representação. O senador do DEM sinalizou que só vai reativar esses colegiados após o retorno presencial dos trabalhos no Senado, ainda travado pela pandemia.

O salário mínimo no Japão, Alemanha, Reino Unido e França

Trabalhadores em escritórios (à esquerda) enquanto um trem-bala de alta velocidade passa em Tóquio em 10 de dezembro de 2020

O salário mínimo, que o presidente americano Joe Biden pretende dobrar nos Estados Unidos, funciona de maneira diferente dependendo do país. Seguem alguns exemplos:

No Japão, o salário depende da região

Cada um dos 47 departamentos do país estabelece o seu, de acordo com as negociações nacionais realizadas a cada ano entre representantes do Ministério do Trabalho, empregadores e empregados.

Existem também regimes especiais de salário mínimo em alguns setores de cada departamento, por exemplo, no de componentes automotivos e de reparação naval em Tóquio.

O salário mínimo é maior nos departamentos mais urbanizados. Assim, o salário mínimo por hora é mais alto em Tóquio, de 1.013 ienes (8 euros, 9,67 dólares) e o mais baixo, de 792 ienes (6,3 euros, 7,56 dólares) por hora, é encontrado nos departamentos rurais de Akita (norte) ou Okinawa (sudoeste).

De acordo com o Ministério do Trabalho, 1,9% dos empregados de empresas com pelo menos cinco trabalhadores recebem o salário mínimo ou até menos (havendo exceções).

No ano fiscal de 2020/2021, que começou em 1 de abril de 2020, o salário mínimo por hora médio era de 902 ienes (7,10 euros; 8,61 dólares), apenas um iene a mais do que em 2019.

Este foi o menor aumento em 16 anos, enquanto nos quatro anos anteriores havia subido mais de 20 ienes a cada ano, especialmente sob o impulso do governo Shinzo Abe, que incentivou o aumento dos salários para apoiar o consumo e, indiretamente, a inflação.

Na Alemanha, um salário mínimo recente que pode aumentar

A Alemanha aprovou o salário mínimo em 1º de janeiro de 2015. Ele é revisado pela Comissão de Salário Mínimo, formada por sindicalistas, empregadores e um presidente independente.

Seu nível atual é de 9,5 euros (11,5 dólares) bruto por hora, relativamente baixo em comparação a outros países europeus.

A Comissão recomendou aumentá-lo da seguinte forma: para 9,60 euros (11,65 dólares) em 1º de julho de 2021; a 9,82 euros (11,92 dólares) em 1º de janeiro de 2022 e a 10,45 euros (12,68 dólares) em 1º de julho de 2022.

Um estudo publicado em janeiro de 2020 pelo Instituto de Pesquisas para o Futuro do Trabalho (IZA) concluiu que a introdução de um salário mínimo não aumentou o desemprego, como os economistas temiam.

O estudo descobriu que as PMEs tendiam a transformar empregos precários e de baixa remuneração em empregos mais sólidos.

Segundo estudo do instituto IW, próximo ao sindicato patronal, em maio de 2020, o salário mínimo tinha pouco impacto no risco de cair na pobreza (se a renda familiar for inferior a 60% da renda média), porque muitos trabalhadores com baixa remuneração têm outras fontes de renda, como o salário do parceiro.

O risco de pobreza, por outro lado, aumentou para os trabalhadores de meio período.

Reino Unido tem salário crescente, apesar da crise

O salário mínimo foi criado, na sua forma atual, em 1º de abril de 2016. É o governo quem decide os reajustes, por proposta de comissão independente, a Comissão de Baixa Remuneração.

A meta das autoridades ao lançar este novo sistema era que o salário mínimo subisse para o equivalente a 60% do salário mediano até 2020, meta alcançada, segundo relatório do governo.

O salário mínimo para trabalhadores com mais de 25 anos aumentou 6,2% em 1º de abril de 2020, para 8,72 libras por hora (9,85 euros, 11,95 dólares). Ele cai dependendo da idade, até 4,15 libras (4,69 euros, 5,69 dólares) para aprendizes com menos de 16 anos de idade.

Espera-se que cerca de 2 milhões dos trabalhadores britânicos com salários mais baixos se beneficiem de um aumento salarial de 2,2% em abril, para 8,91 libras a hora (10 euros, 12,21 dólares). A idade para se beneficiar desse aumento foi reduzida de 25 para 23 anos.

A França investe em benefícios sociais

O salário mínimo interprofissional (Smic) completou 50 anos em 2020. Desde 2008, é reavaliado automaticamente em 1º de janeiro com base em dois critérios: inflação e poder de compra.

Assim, em janeiro subiu 0,99%, para 10,25 euros brutos (12,44 dólares), ou seja, 1.231 euros líquidos por mês (1.494 dólares). Em 2020, 2,25 milhões de trabalhadores (ou seja, 13% do setor privado) foram beneficiados com um aumento de 1,2%. A proporção de empregados com salário mínimo é três vezes maior entre os trabalhadores com contrato de meio período (30% contra 9% dos trabalhadores em tempo integral) e nas pequenas empresas.

Todos os anos, alguns sindicatos (como o CGT, que reivindica um Smic de 1.800 euros, 2.100 dólares) exigem que o governo vá mais longe neste aumento automático, mas o último “empurrão” de 2% remonta a julho de 2012, um dia após a eleição do presidente François Hollande (socialista).

Os governos seguintes se abstiveram de aumentos excepcionais, por considerar que prejudicaria a contratação de pessoal menos qualificado.

Como as contribuições sociais caíram drasticamente nos últimos anos, o custo de trabalhar com um salário mínimo, em comparação com o salário médio, está na média dos países da OCDE e em 2019 tornou-se inferior ao da Alemanha.

Para complementar a renda dos trabalhadores mais modestos, os governos optaram por aumentar o “bônus de atividade”, criado em 2016.

Diante do movimento dos “coletes amarelos” no final de 2018, o presidente francês Emmanuel Macron decidiu aumentar esse benefício em 90 euros para trabalhadores que ganham o salário mínimo.

No final de 2019, o auxílio beneficiava 4,3 milhões de lares, 43% a mais do que no ano anterior, por um valor médio de 185 euros.