Oposição e poder econômico não querem o impeachment da petista, mas sangrá-la até o final para ganhar em duas frentes, diz analista: arrancar dela tudo que for possível em concessões na área econômica e ainda fazer o sucessor em 2018
Informações de bastidores dão conta de que o establishment, embora tenha batido e pretenda bater sem piedade na presidente Dilma, não tem interesse em seu impeachment. Mas tem todo o interesse em inviabilizar política e eleitoralmente a esquerda brasileira, especialmente o PT e o ex-presidente Lula. Só enveredarão por outro caminho, apoiando eventual pedido de impedimento, se houver provas absolutamente contundentes do envolvimento direto da presidente com algo ilegal.
O raciocínio do poder econômico é que uma presidente fraca, impopular e sem apoio político fará concessões em termos de marcos regulatórios que nenhum outro faria, nem mesmo alguém com perfil liberal, como Aécio Neves. Os exemplos de concessões seriam a mudança no pré-sal, com o fim do regime de partilha, a eliminação da exigência de conteúdo nacional na aquisição de bens e serviços pela Administração Pública, entre outros que atualmente dificultam a entrada do capital privado ou limitam sua margem de retorno.
Ainda segundo essa visão, o afastamento da presidente não interessaria à oposição nem mesmo ao PSDB, porque se houvesse o impedimento o partido seria obrigado moralmente a apoiar o sucessor e se inviabilizaria como alternativa de poder para 2018. Mas eventual pedido de impeachment, mesmo que sem chances de prosperar, poderia servir ao propósito de também macular moralmente a presidente Dilma e mantê-la impopular até o fim do mandato.
Também não interessaria ao próprio PMDB, que sendo parte do governo, sem a titularidade, tem todos os bônus sem nenhum ônus, já que não lhe será debitado ou atribuído eventual fracasso do governo. No exercício da Presidência da República, além de maior fiscalização da sociedade, as bancadas da Câmara e do Senado não teriam a mesma liberdade que têm para exigir concessões do governo.
Por essa lógica, uma coisa já seria certa para eles em 2018: o PT não faria o sucessor. O fundamento para tanto seria, de um lado, a impopularidade e a deslegitimação do governo, incapaz de estancar a onda de mudanças nos marcos regulatórios (e até mesmo podendo aderir a ela, para buscar o apoio empresarial e da mídia), inclusive nas relações de trabalho, e, de outro, pela força da liderança dos ministros da Fazenda, da Industria e Comercio Exterior, da Agricultura e das Pequenas e Micro Empresas, que defendem a agenda liberal no Governo.
Estão convencidos de que a tática de sangrar a presidente será infalível. Não temem o que ocorreu com Lula em 2006, porque, diferentemente de Dilma, ele e seu governo se recuperaram por força do carisma pessoal do ex-presidente e pelo fato de seu governo ter sido beneficiado pelo crescimento econômico mundial, o que, na avaliação deles, não acontecerá com a presidente.
Além disto, considerando a transição que estaria sendo feita pelos ministros da área econômica, fosse quem fosse o próximo presidente da República, ele não teria como reverter as mudanças em bases neoliberais que seriam levadas a efeito na gestão Dilma.
Portanto, a opção de manter uma presidente fraca seria a solução mais adequada, porque eles ganhariam em qualquer hipótese. Ou seja, arrancariam dela tudo que fosse possível em termos de concessões e ainda fariam o sucessor. Esse é o cenário com que trabalham as forças de mercado.
Realmente, o risco de retrocesso é grande, especialmente porque o governo, nos últimos 12 anos, apesar de ter criado as condições para a ascensão social e ter promovido importantes avanços econômicos e sociais no país, negligenciou a politização da sociedade e sua conscientização cívica. Ou seja, não informou que o ambiente para a geração de emprego e renda, assim como para a criação e manutenção de programas sociais e de acesso à educação custeados pelo Estado, dependem das opções ou políticas governamentais.
Com a alienação dos segmentos beneficiados, resta aos setores progressistas e de esquerda – independentemente de sua posição em relação ao atual governo – liderar um processo de formação política e de resistência, além de pressionar o governo e o Parlamento para que não se deixem dominar pelas forças de mercado, como demonstra a desenvoltura do presidente da Câmara dos Deputados e dos ministros da área econômica. Ou os partidos de esquerda e os movimentos sociais atuam para alterar a correlação de forças, ou as forças conservadoras e neoliberais conseguirão revogar as conquistas econômicas e sociais dos últimos anos.