Raramente o início de uma campanha eleitoral foi tão tensa. E poucas vezes os EUA estiveram tão divididos. Bernie Sanders, de um lado, e Donald Trump, do outro lado, são os rostos destes extremos nas primárias de Iowa.
Nos Estados Unidos, quase ninguém sabe direito como é realizado um caucus, qual é a diferença entre as primárias e quais as diferenças entre as regras das prévias dos republicanos e dos democratas. Mas todo americano sabe: são as primárias em Iowa, marcadas para esta segunda-feira (01/02) e New Hampshire, marcadas para 9 de fevereiro, que definem o futuro daqueles que lutam para se tornarem candidatos presidenciais de seus respectivos partidos.
Para alguém que não cresceu com este sistema, é difícil entender por que exatamente Iowa desempenha tal importância mundial – logo este pequeno estado, onde vive apenas 1% da população total dos Estados Unidos, onde há quatro vezes mais porcos que pessoas e onde uma em cada cinco espigas de milho americanas é cultivada. Nele, começa a batalha oficial para a nomeação dos candidatos presidenciais.
Pequenas primárias com grande importância
O significado do papel representado por essas primeiras primárias é uma questão quase filosófica. Será que elas são tão importantes porque tantas vezes anteciparam a tendência geral das batalhas de pré-candidatura? Ou será que são tão importantes porque as decisões das pessoas que participam são tidas como tão importantes que, por conseguinte, determinam a tendência dos próximos meses?
Para os principais candidatos, uma coisa é clara: nesta bizarra corrida presidencial de 2016, aqueles que não pontuarem desde o início dificilmente conseguirão se recuperar mais tarde. Mesmo para um dos favoritos, não ganhar em nenhum dos dois estados pode significar o fim da candidatura.
Nestas primárias, os candidatos devem mostrar que também são realmente elegíveis, que não só são capazes de recolher milhões de dólares e atrair apoios de peso – mas também de ganhar os votos dos eleitores. Têm que mostrar poder não só ganhar pesquisas, mas também as pessoas. Eles têm que mostrar neste grande teatro da mídia que são realmente capazes de cumprir as expectativas que despertaram.
O show de Trump não agrada a todos
Estas expectativas são um pouco diferentes, naturalmente, dependendo do candidato, a começar por Donald Trump. Há mais de meio ano, ele domina a atenção midiática sobre os republicanos. Mesmo com todas as críticas dos comentaristas e apesar de suas apresentações perturbadoras, ele domina as manchetes.
As pesquisas apontam que as pessoas o amam porque ele tem sido capaz de se posicionar como um candidato alternativo independente, como alguém que não é corruptível, no qual as pessoas querem acreditar e, acima de tudo, é um homem que sabe ganhar.
E exatamente isso pode ser a ruína de Trump em Iowa, que é um estado pequeno, muito branco e muito religioso. A maioria da população é de agricultores que creem em Deus e não tanto em piadas grosseiras e presunçosas. É bem possível que eles não gostem muito do show de Trump. E que mesmo Sarah Palin, que o multimilionário nova-iorquino tirou da cartola para ajudá-lo a atrair a classe trabalhadora religiosa, não consiga ajudá-lo na tarefa.
E o que pode acontecer? O que faz alguém que aposta na sua fama de vencedor quando perde? Ele desiste? É bem possível. Seus adversários internos do partido também vão saber explorar isso. Os republicanos tradicionais o odeiam tanto que até mesmo o bilionário e ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg cogita publicamente uma possível candidatura, caso Donald Trump ganhe a nomeação dos republicanos, e Bernie Sanders, a dos democratas.
Os democratas
Sanders é a provocação do outro lado do espectro. Algumas semanas atrás, parecia inconcebível que este desconhecido, autodenominado socialista, pudesse realmente ter uma chance séria contra o Império Clinton, agora com Hillary à frente. Caso as sondagens estejam corretas, parece exatamente isso o que está acontecendo.
O que uma vitória de Sanders em Iowa, numa repetição do que ocorreu com Barack Obama em 2008, significaria para Hillary? O vencedor recebe toda a atenção e a cobertura midiática positiva, enquanto ao perdedor resta a grande questão: será que ele é alguém que tem mesmo capacidade de convencer os eleitores americanos?
Estas dúvidas são um veneno para os doadores da campanha, para os seguidores e, sobretudo, para os indecisos. A história está repleta de exemplos de pessoas que sacrificam suas convicções para estarem do lado do vencedor.
Raramente o início de uma campanha eleitoral foi tão tensa e emocionante. E nunca os Estados Unidos modernos estiveram tão divididos. Bernie Sanders, de um lado, e Donald Trump, do outro lado, são os rostos destes extremos.