JULIANA COISSI
DE CURITIBA
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
O lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, reconheceu um ex-assessor do ex-ministro Antonio Palocci, chamado Charles Capella, como o interlocutor que estava numa casa em Brasília na qual foi acertada a doação de R$ 2 milhões para o caixa dois da campanha de Dilma Rousseff (PT) em 2010.
Capella, no entanto, não participou do encontro, segundo Baiano. Nessa época, Palocci era um dos coordenadores da campanha da Dilma à Presidência.
A reunião teria tido ainda a participação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, na versão de Baiano. Segundo ele, Costa temia ser demitido do cargo de diretor de Abastecimento porque Dilma não gostava dele por causa da má fama do executivo dentro da estatal. Costa foi até Palocci para continuar no cargo com a eventual vitória de Dilma, ainda de acordo com Baiano, o que de fato ocorreu.
Baiano relatou à PF que o encontro ocorreu numa casa azul perto do lago Paranoá, em Brasília.
A versão de Baiano foi apresentada em acareação realizada nesta quinta (14) na Polícia Federal em Curitiba.
Palocci e Capella negam ter participado do encontro e dizem nunca ter se reunido com Baiano nem conhecê-lo. Segundo a assessoria de Palocci, já que a reunião não existiu, a versão de Baiano é mentirosa.
Já o doleiro Alberto Youssef não reconheceu Capella como sendo a pessoa para quem diz ter entregado R$ 2 milhões em um hotel em São Paulo, em 2010, a pedido de Costa.
O montante, segundo o doleiro, foi entregue a uma pessoa que parecia ser motorista.
A presença de Capella na casa de Brasília foi citada em depoimentos do lobista Fernando Baiano, delator da operação.
Ao deixar o prédio, Capella se disse tranquilo, mas ressalvou que não deveria ter passado por uma “exposição desnecessária”.
A advogada dele, Danyelle da Silva Galvão, afirmou que Capella viu Youssef e Baiano pela primeira vez na acareação desta quinta (14) e que o encontro citado nunca ocorreu. Ela negou que seu cliente conheça Costa.
BUMLAI x BAIANO
A PF fez outra acareação nesta quinta (14), entre Baiano e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.
Bumlai negou que tenha agendado a suposta reunião entre Paulo Roberto Costa, Baiano e Palocci. Esta versão foi apresentada por Baiano em seu acordo de delação.
Baiano foi solto em novembro, depois de fechar um acordo para colaborar com as investigações. Youssef e Costa também assinaram acordos de delação.
Baiano reafirmou o que dissera aos investigadores: que o pecuarista usou sua influência junto ao PT para intermediar uma reunião de Palocci com Paulo Roberto Costa.
Bumlai, no entanto, disse que isso nunca ocorreu. Ele afirmou que até conversou com Baiano sobre a situação de Costa na Petrobras, mas negou ter intermediado o suposto encontro.
Bumlai foi também ouvido sobre a chácara em Atibaia (SP) que é frequentada pelo ex-presidente Lula e seus familiares. Ele disse ter estado no imóvel duas vezes, depois de Lula ter deixado a Presidência, em 2010. O pecuarista negou que o ex-presidente seja dono do imóvel. Segundo ela, a chácara é de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente.
Bumlai negou também conhecer o arquiteto que reformou a chácara de Atibaia, que vive na mesma cidade que o pecuarista, em Campo Grande. A PF suspeita que Bumlai indicou o arquiteto e que a OAS bancou a reforma, o que a empresa nega.
Na acareação entre Bumlai e Baiano não foi questionado o repasse de R$ 2 milhões, pelo pecuarista, à nora do ex-presidente Lula para quitar um imóvel, como foi citado pelo lobista em delação.
Bumlai tem dito que Baiano repassou, na verdade, R$ 1,5 milhão como empréstimo para pagar empregados de suas fazendas, e que os recursos nada têm a ver com a nora de Lula.