GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LISBOA
A realização de um seminário em Lisboa que vai reunir nesta semana diversos nomes favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff está causando desconforto entre muitos políticos em Portugal.
Tendo como um dos organizadores o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e com a presença confirmada dos senadores tucanos José Serra e Aécio Neves, o encontro acadêmico está sendo classificado por parte da mídia e da classe política portuguesas como uma espécie de evento conspiratório.
“Parece ser um evento bastante enviesado. Tanto nos títulos das palestras quanto nos convidados”, avalia o ex-eurodeputado português Rui Tavares.
“Parece uma tentativa de justificar a questão teórica de um golpe judiciário. Nas entrelinhas dá para ver uma tentativa de dar um verniz teórico e acadêmico àquilo que muito dos que participam seriam os principais beneficiários”, completa.
No sábado, o ministro do STF afirmou que a polêmica não passa de uma “teoria conspiratória” e que o evento é “acadêmico, não político”.
O título de um dos painéis do evento, “Remédios institucionais para bloqueios críticos do sistema político”, é um dos tópicos no centro da polêmica.
O material de divulgação do 4° Seminário Luso-Brasileiro de Direito –organizado conjuntamente pelo IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), do qual Gilmar Mendes é sócio e coordenador acadêmico, e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa– chegou a indicar a participação do presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
Depois da ampla repercussão da presença dos nomes pró-impeachment em Portugal, os políticos portugueses adotaram o distanciamento do evento.
Com a justificativa de questões de agenda, Rebelo de Sousa, que já foi professor da universidade em que ocorre o evento, não irá participar. O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que também chegou figurar na lista de participantes, também desfalcará o evento.
Para a imprensa portuguesa, o encontro “assustou” os políticos do país.