O prefeito eleito de São Paulo, João Doria Jr. (PSDB), doou até agora para a própria campanha mais do que o dobro do que está previsto que receba de salário nos quatro anos de mandato, segundo dados que constam no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta segunda-feira (3).
Atualmente, o salário de prefeito é de pouco mais de R$ 24 mil mensais. Mantendo-se esse valor durante o período, ele receberá cerca de R$ 1,25 milhão ao final de seus quatro anos de mandato, caso o cumpra até o final.
Doria doou R$ 2,9 milhões para sua campanha, o que representa 39,97% do total arrecadado por ele, segundo o site do TSE. Ele é o maior doador da própria campanha, contribuindo mais que seu partido, que lhe repassou R$ 2,07 milhões.
O montante doado por Doria, porém, ainda pode aumentar. Segundo o TSE, os candidatos e partidos têm até 30 dias após o primeiro turno para entregar as prestações finais de contas de campanha. Isso significa que Doria poderá fazer doações à própria campanha nos próximos 30 dias.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (30), indagado sobre como pretende enfrentar o deficit na campanha, Doria afirmou que será feito um jantar de arrecadação, “o que a Justiça Eleitoral permite; as doações ainda podem ocorrer”. No entanto, apressou-se em esclarecer: “O que faltar eu vou bancar.”
O site do TSE apontava nesta segunda que o total de despesas contratadas na campanha de Doria chegava a R$ 13,5 milhões, enquanto o total de recursos recebidos somava R$ 7,3 milhões – um deficit de R$ 6,3 milhões
Doria promete doar salário
O “prejuízo” financeiro de Doria durante sua passagem pela Prefeitura de São Paulo deverá ser ainda maior. Doria prometeu doar todo o valor que receber de salário da Prefeitura a instituições de caridade.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, em setembro, ele justificou a decisão dizendo que tem dinheiro suficiente para viver o resto da vida sem trabalhar.
Durante a campanha, ele também afirmou que não vai abrir mão do lucro que tem com suas empresas. Segundo declaração à Justiça Eleitoral, Doria possui oito empresas no Brasil e uma no exterior. Seu patrimônio total é de R$ 180 milhões.
Segundo o Grupo Doria, o prefeito eleito está afastado do comando das empresas desde 10 de maio. A gestão do Grupo foi passada para Célia Pompeia e João Doria Neto, seu filho.
Ele também se afastou da presidência do Lide, organização de empresários que promove encontros entre a iniciativa privada e autoridades públicas, e da apresentação dos programas de TV “Show Business”, da TV Bandeirantes, e “Face a Face”, da BandNews, ainda de acordo com a assessoria do Grupo.
Segundo o professor de direito da FGV Rio Michael Mohallen, o prefeito eleito pode viver dos dividendos de suas empresas, desde que não haja conflito de interesses. Isso pode acontecer, por exemplo, se a empresa tiver qualquer negócio com o poder público municipal.
O Estatuto dos Funcionários Públicos do Município de São Paulo proíbe que ele participe “da gerência ou administração de empresas bancárias ou industriais ou de sociedades comerciais, que mantenham relações comerciais ou administrativas com o município, sejam por este subvencionadas, ou estejam diretamente relacionadas com a finalidade da unidade ou serviço em que esteja lotado”.
*Colaborou Janaina Garcia