Arquivo diários:29/03/2020

Guru indiano, ‘superpropagador’, pode ter contagiado até 15.000 pessoas


Pelo menos 15.000 pessoas ficaram em quarentena no norte da Índia, potencialmente infectados por uma única pessoa, um guru sikh, que morreu de covid-19 e suspeito de ser um “superpropagador” do coronavírus, de acordo com uma autoridade local.

Depois de viajar pela Itália, o epicentro europeu da pandemia e pela Alemanha, o guru de 70 anos de idade, Baldev Singh estava pregando em quinze vilarejos no estado de Pundjab, na maioria sikh da Índia, antes de adoecer e morrer.

Na Índia, o governo decretou um alerta de saúde na quarta-feira e o confinamento da população por 21 dias.

Medidas de quarentena mais fortes foram tomadas nas áreas afetadas pela visita de Baldev Singh, com comida entregue em casa.

“A primeira dessas 15 aldeias foi visitada em 18 de março e estimamos que haja entre 15.000 e 20.000 pessoas envolvidas depois disso”, disse à AFP Gaurav Jain, alto magistrado do distrito de Banga, onde o guru residia.

“As equipes médicas estão preparadas e há vigilância regular”, acrescentou.

Até agora, 90 pessoas que entraram em contato com o guru deram positivo para o novo coronavírus, disse Vinay Bublani, chefe da polícia local. O resultado dos testes de outras 200 pessoas é aguardado.

O guru e seus dois colaboradores, também infectados, não respeitaram as regras obrigatórias de autoconfinamento após o retorno da Europa, iniciando a turnê para pregar, o que poderia ter causado contágio em massa.

O caso levou a um grande debate na Índia. Um popular cantor indiano que mora no Canadá, Sidhu Moose Wala, postou uma música dedicada a Singh na internet. “Eu espalhei a doença, percorrendo o povoado como a sombra da morte”, cantou.

A música foi vista 2,3 milhões de vezes na internet em menos de dois dias e o chefe de polícia de Pundjab, Dinkar Gupta, pediu à população que a ouvisse para que tomasse consciência da gravidade do caso.

Segundo país mais populoso do mundo depois da China, a Índia, com 1,3 bilhão habitantes, teve 873 casos confirmados de covid-19 e 19 mortos.

Esse saldo encontra-se bem abaixo do de outros países, mas especialistas consideram que muitos casos não são detectados devido à falta de testes no país.
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Vassalo de empresários desumanos e inescrupulosos, Bolsonaro aderiu ao lema que trabalhador pode morrer e empresa tem que sobreviver

Guinada de Bolsonaro se deu por medo de perder empresários e redes sociais
GUSTAVO URIBE E JULIA CHAIB

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A guinada dada por Jair Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus foi gerada pelo receio de perder apoio do setor empresarial e de trabalhadores autônomos, pilares de sustentação de seu mandato.

O presidente começou a semana passada sinalizando uma trégua no embate com governos estaduais.

No entanto, após ligações e vídeos de empresários e trabalhadores com queixas dos prejuízos com a política de isolamento, e da pressão em suas redes sociais, Bolsonaro radicalizou o discurso.

O flerte inicial com uma fala moderada foi costurado pela cúpula militar, em especial os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Foi este último, por exemplo, quem marcou com os governadores conversas por teleconferência com o presidente, em um esforço de abrir um canal de diálogo.

A estratégia parecia ter sido bem-sucedida e recebera elogios até de deputados bolsonaristas, para os quais o momento era de baixar as armas e construir uma solução.

A cúpula militar, no entanto, não esperava o movimento casado dos filhos do presidente com o setor empresarial.

Desde o início da semana, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) vinha dialogando com empresários insatisfeitos com as medidas de isolamento adotadas nos estados.

As reclamações, segundo assessores palacianos, vinham sobretudo dos setores de varejo, logístico e agropecuário. Eles ameaçavam demitir se o resguardo se prolongasse.

Flávio fez chegar as reclamações ao pai. O recado implícito era o de que, caso Bolsonaro não se posicionasse ao lado do setor produtivo, ele corria o risco de perder o apoio de boa parcela dos empresários.

A pressão sobre o presidente foi feita por meio de uma enxurrada de ligações e vídeos de empresários e trabalhadores reclamando das consequências das restrições.

As queixas chegaram também pelas redes sociais, terreno que sensibiliza Bolsonaro.

Em um dos vídeos, caminhoneiros reclamavam de não ter comida na estrada porque os estabelecimentos estavam fechados. Diziam que seriam obrigados a voltar para casa.

Em outra peça, agricultores aparecem em feiras jogando no chão legumes e frutas.

“Todos os restaurantes estão fechados e não tem o que fazer”, diz um feirante no vídeo.

Em paralelo, o gabinete digital da Presidência, sob a influência do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), constatou que o discurso ameno do presidente causou uma desmobilização de perfis de direita nas redes sociais, que passaram a defender menos o governo de ataques da esquerda.

A avaliação foi a de que, diante do clima de animosidade, era hora de orientar a militância digital apontando inimigos, no caso a imprensa e os governadores, mobilizando os eleitores fiéis a responderem às críticas contra o presidente.

A mudança de postura foi definida em uma reunião na tarde de terça (24), no Palácio do Planalto. No encontro, que teve as participações tanto de Flávio como de Carlos, o presidente começou a delinear o discurso que faria em rede nacional naquela noite. Nele, rompeu a linha da conciliação.

Para convencer o presidente, foram mostradas a ele previsões do desemprego nos EUA diante da pandemia.

Bolsonaro foi informado que a expectativa de integrantes do Federal Reserve de St. Louis, uma das instituições que compõem o Banco Central americano, é que o desemprego pode chegar a 30% no segundo semestre devido às paralisações.

No Brasil, na avaliação de ministros, o cenário pode ser pior. Isso gerou o receio de que o ônus das medidas adotadas pelos estados recaia sobre ele.

Antes de gravar o pronunciamento, Bolsonaro enviou o texto, de acordo com assessores presidenciais, para o secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia.

Ele queria a opinião de alguém com interlocução com o setor produtivo. De acordo com relatos, recebeu apoio.

O discurso teve repercussão negativa tanto no Legislativo como no Judiciário. A expectativa entre congressistas era por declarações que pregassem a união.

No dia seguinte, as respostas preocuparam o presidente. Ele, porém, se acalmou, dizem deputados aliados, após receber ligações de apoio de industriais e de pecuaristas.

A partir de então, Bolsonaro começou a discutir de maneira técnica com o Ministério da Saúde a ideia de um isolamento vertical –só para grupos de risco. Segundo relatos, a conclusão foi de que, neste momento em que o país ainda não atingiu o pico da doença, não é possível viabilizá-lo em cidades com mais de 100 mil habitantes, onde a chance de aglomerações é maior.

Bolsonaro, então, passou a defender a sua adoção em cidades do interior, sobretudo as que ainda não registraram casos da doença.

Como a determinação de isolamento cabe aos governos municipais e estaduais, a equipe do presidente começou a mobilizar protestos pelo país pela abertura de shoppings e comércios.

A Presidência, por exemplo, produziu um vídeo de divulgação institucional em que a volta ao trabalho de regimes de confinamento é estimulada, contrariando orientações de autoridades sanitárias.

A peça foi distribuída, em forma de teste, para as redes bolsonaristas. Nela, categorias como a dos autônomos e mesmo a dos profissionais da saúde são mostradas como desejosas de voltar ao regime normal de trabalho.

Segundo relatos feitos à Folha, o filme chegou a ser enviado previamente a empresários que apoiam o governo para que eles divulguem o chamado do presidente.

Justiça impede governo federal de veicular campanha

Santos”‚A Justiça Federal no Rio de Janeiro determinou neste sábado (28) que a União se abstenha de veicular peças publicitárias relativas à campanha “O Brasil não pode parar”, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e contrária a medidas de confinamento adotadas no país em meio à pandemia do coronavírus.

A decisão, em resposta a uma ação civil pública do Ministério Público Federal, foi proferida durante a madrugada pela juíza Laura Bastos Carvalho. Ela impede a divulgação da campanha por rádio, TV, jornais, revistas, sites ou qualquer outro meio, físico ou digital.

O tribunal ainda diz que o governo não deve publicar qualquer outra campanha que sugira à população brasileira comportamentos que não estejam estritamente embasados com diretrizes técnicas.

Tais diretrizes devem ser emitidas pelo Ministério da Saúde, com fundamento em documentos públicos, de entidades científicas de notório reconhecimento no campo da epidemiologia e da saúde pública.

A Justiça ainda estipulou que o descumprimento da ordem está sujeito a uma multa de R$ 100 mil por infração.

Em seu pedido, o MPF alegou que a campanha instaria os brasileiros a voltarem às suas atividades normais, sem que estivesse embasada em documentos técnicos que indicassem que essa seria a providência adequada –e que isso poderia agravar o risco de disseminação da doença no país.

A AGU (Advocacia-Geral da União) disse que aguarda ser intimada da decisão e solicitará subsídios dos órgãos envolvidos. “A AGU irá apresentará em juízo todos os esclarecimentos necessários à elucidação da questão.”

PCC quer usar coronavírus para libertação em massa de presos

Facção manda advogados pedirem a soltura de detentos doentes e não violentos; juíza solta 61 em Tremembé (SP)
Marcelo Godoy

O Primeiro Comando da Capital (PCC) determinou que seu departamento jurídico, a chamada sintonia dos gravatas, procure em razão da pandemia de covid-19 integrantes do Estado que tenham HIV, sejam diabéticos, tuberculosos ou tenham doenças cardíacas respiratórias e imunodepressoras. Os advogados devem pedir prisão domiciliar para esses detentos, não importando os crimes que eles praticaram.

O documento – um salve da cúpula da facção – foi interceptado pela inteligência da polícia de São Paulo neste sábado, dia 26. A organização criminosa ainda orientou seus advogados – os gravatas – a pedir regime domiciliar para gestantes e lactantes e para os presos que cometeram crimes sem violência. Por fim, a facção quer a substituição das prisões temporárias por tornozeleiras eletrônicas e a progressão adiantada da pena para quem já cumpriu a maior parte do que era previsto em regime fechado.

O documento é a primeira manifestação da facção desde o começo da pandemia. Há duas semanas, 1,3 mil detentos fugiram de quatro presídios de regime semi-aberto depois que a Justiça proibiu a saída temporária deles na Páscoa. O Ministério Público Estadual (MPE) acredita que a facção deve inundar as varas de execuções criminais do estado com pedidos de libertação.

Sitiada pelo vírus, Madri vira cidade dos mortos

Espanha registra recorde de 832 mortos em 24 horas; 40% dos casos estão na capital
Daniel Galvalizi / ESPECIAL PARA O ESTADO

A Espanha vive um cenário desolador e inimaginável pouco tempo atrás. Neste sábado, 28, foram 8,2 mil novos casos de coronavírus e 832 mortes – o dia mais trágico até agora. No total, são mais de 70 mil contaminados e 6 mil mortos, que colocam os espanhóis, ao lado dos italianos, no epicentro da pandemia global. A covid-19 cobrou o preço mais alto da capital Madri, que concentra 40% dos casos do país.
Famosa por seus bares, tapas e terraços ao ar livre, Madri virou uma cidade fantasma, militarizada após duas semanas de confinamento absoluto decretado pelo governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez. Caminhar sem uma boa razão pode render multa de até 3 mil euros (R$ 17 mil).O isolamento vai até o fim do mês, mas provavelmente será estendido por mais duas semanas.

As imagens de Madri dão o tom da crise. Em uma ação, a Guarda Civil ocupou uma fábrica de máscaras e apreendeu 150 mil para levá-las a hospitais. Em outra, caminhões do Exército circulavam em bairros próximos ao centro com um alto-falante exigindo que as pessoas ficassem em casa.

 

Mandetta: “Estamos preparados para ver caminhões com corpos nas ruas?”

Em reunião tensa, ministro da Saúde eleva o tom e adverte presidente sobre mortes
Eliane Cantanhêde

Ao frisar que a pandemia de coronavírus não é uma “gripezinha”, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, apresentou cenários possíveis para a doença no Brasil e advertiu o presidente Jair Bolsonaro e outros ministros durante reunião tensa neste sábado, 28, que, se morrerem mil pessoas, será o correspondente à queda de quatro Boeings. Depois, perguntou: “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas? Com transmissão ao vivo pela internet?”

Conforme o Estado apurou, Mandetta fez um apelo para o presidente criar “um ambiente favorável” para um pacto entre União, Estados, municípios e setor privado para todos agirem em conjunto, unificar as regras e medidas e seguir sempre critérios científicos. Sugeriu, inclusive, a criação de uma central de equipamentos e pessoal, para possibilitar o remanejamento de leitos, respiradores e até médicos e enfermeiros de um Estado a outro, rapidamente, dependendo da demanda.
Oministro também pediu ao presidente para não menosprezar a gravidade da situação nas suas manifestações públicas e, por exemplo, não insistir em ir a um metrô ou um ônibus em São Paulo, como chegou a aventar em entrevista coletiva. Mandetta deixou claro que, se o presidente fizesse isso, seria obrigado a criticá-lo. E Bolsonaro rebateu que, nesse caso, iria demiti-lo.