Com um discurso cada vez mais apropriado a um candidato à presidência da República, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro participou da live de ISTOÉ nesta terça-feira (30). Moro conversou sobre a saída dele do governo Bolsonaro, falou sobre as recentes incursões da Procuradoria-Geral da República sobre a Operação Lava- Jato, falou sobre o cenário da política nacional e condenou a atuação do governo na crise sanitária que castiga o Brasil.
Aos 47 anos, Moro, que é graduado em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, com mestrado e doutorado na Universidade Federal do Paraná e se especializou em crimes financeiros e tornou-se juiz federal, no bate-papo, ele alegou que deixou o ministério por ter sido coagido a deixar o cargo que ocupava desde a posse presidencial e denunciou as ingerências de Jair Bolsonaro na pasta que ocupava.
“Me senti compelido a sair por conta da interferência na Polícia Federal. A finalidade na troca de comando da instituição não era nada republicana”, acusa Moro.
“Saí por uma questão de princípio e o presidente Bolsonaro já queria que eu saísse”, explica.
Sobre a investigação conduzida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e as denúncias feitas na saída do cargo, Moro disse: “Me senti intimidado pelo procurador-geral”, revelou.
Como juiz, Sérgio Moro trabalhou em casos como o escândalo do Banestado, a operação Farol da Colina e no Mensalão. Apesar de um currículo importante, ganhou enorme notoriedade nacional e internacional por comandar, entre março de 2014 e novembro de 2018, a Operação Lava Jato – a maior ação contra a corrupção do país.
Nos últimos dias, procuradores ligados ao governo Bolsonaro montaram uma devassa em alguns processos que envolvem a Operação, que arrastou para trás das grades pessoas famosas como o ex-presidente Lula e a cúpula do PT e políticos de quase todos os partidos. “Acho estranho investigarem a Operação”, avalia.
Há cerca de dois meses longe da Esplanada dos Ministérios, o ex-ministro acredita que o governo não endossou sua agenda anticorrupção e criticou Bolsonaro, na live, por ter vetado 25 pontos importantes da lei do pacote anti crime.
Contrariando as expectativas de Moro, entre as mudanças, o presidente manteve a criação do juiz de garantias, que não constava do texto original e foi incluída pela Câmara. “Não foi algo positivo”, avalia Sérgio Moro. “Em 2019, o governo federal ficou em débito no combate a corrupção”, acusa.
Perguntado se uma recorrente história, sustentada pelo presidente da República, de que ele largou a magistratura e foi para Brasília com o objetivo de ganhar em troca uma indicação para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, Moro se defende: “Não troco meus princípios por uma vaga no Supremo”, diz. “Entrei no governo com uma agenda nacional e saí porque a situação ficou insustentável. Faltou confiança de Bolsonaro em mim”, avalia.
“Bolsonaro é afeto às teorias da conspiração e Brasília é um mundo de intrigas”, sentencia.
Quando a pauta da entrevista foi para o campo do enfrentamento à pandemia, Moro foi duro com o ex-chefe: “A postura negacionista de Bolsonaro levou a população a desinformação.” Para ele, faltou uma coordenação nacional para o enfrentamento à crise sanitária.
Sérgio Moro, na live, esquiva quando o assunto são seus projetos futuros, em especial, o político. Ele não nega, mas também não assume, que postula uma possível candidatura à presidência da República. Com um discurso mais de presidenciável de que jurista e utilizando de metáforas do futebol, ele avalia que “a política virou um Fla x Flu e o futuro não está escrito”, conclui.