Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
O presidente do DEM, ACM Neto (BA), afirma que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) tenta transferir para o partido os erros que cometeu durante a disputa pelo comando da Casa neste ano.
“Rodrigo, que tinha a fama de grande articulador, fracassou nessa empreitada. Essa é a realidade”, afirma, em nota, o ex-prefeito de Salvador.
“Ao invés de escutar quem sempre esteve ao seu lado, e fazer com serenidade e honestidade o exercício da autocrítica, o deputado Rodrigo Maia se encastelou no poder conquistado e, agora, demonstra surpreendente descontrole. A falta de grandeza e a deslealdade causam profundo estranhamento”, segue.
As declarações do presidente do DEM nesta segunda-feira (8) vêm em resposta a entrevista dada por Maia ao jornal Valor Econômico. Nela, o ex-presidente da Câmara afirma ter sido traído por Neto e diz que “não podia imaginar que um amigo de 20 anos ia fazer um negócio desses”.
Na véspera da eleição para a presidência da Câmara, o DEM decidiu ficar isento na disputa. O partido não havia formalizado a adesão a nenhum dos blocos, mas era contabilizado por Baleia Rossi (MDB-SP) e por Maia como parte da base do emedebista.
A perda de capital político do deputado que comandou a Casa por quatro anos e meio, evidenciada na decisão do partido, foi consumada com derrota de Baleia, que recebeu apenas 145 votos na eleição para a Mesa Diretora da Câmara.
Leia, abaixo, a íntegra da nota enviada por ACM Neto:
“Em entrevista publicada nesta segunda-feira (8) pelo jornal Valor Econômico, o deputado Rodrigo Maia (RJ) apresenta uma leitura da eleição para a presidência da Câmara que não corresponde aos fatos. Nada mais distante da realidade do que a narrativa que ele vem tentando estabelecer. Não houve traição da Executiva do Democratas, nem adesão ao governo Bolsonaro.
Infelizmente, o deputado Rodrigo Maia tenta transferir para a presidência do Democratas a responsabilidade pelos erros que ele próprio cometeu durante a condução do processo de eleição da Mesa Diretora da Câmara.
No empenho em transferir as responsabilidades pelo seu fracasso, Rodrigo Maia tenta negar que insistiu, até o último momento, na possibilidade de conseguir o aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para se perpetuar no cargo de presidente da Câmara. Todos sabem que Rodrigo Maia tinha um único candidato à presidência da Câmara, que era ele mesmo. Quando o STF derrubou a possibilidade de reeleição, o deputado perdeu força para conduzir sua sucessão e chegou ao final do processo contando com o apoio de apenas um terço da bancada do seu próprio partido.
Rodrigo, que tinha a fama de grande articulador, fracassou nessa empreitada. Essa é a realidade.
Ao invés de escutar quem sempre esteve ao seu lado, e fazer com serenidade e honestidade o exercício da autocrítica, o deputado Rodrigo Maia se encastelou no poder conquistado e, agora, demonstra surpreendente descontrole. A falta de grandeza e a deslealdade causam profundo estranhamento.
A mais grave de todas as falácias de sua narrativa é exatamente a de procurar jogar no colo do Democratas uma conta que não é nossa.
Ganhar e perder é próprio da vida e da política e, no entanto, as atitudes de Rodrigo Maia lembram os tristes exemplos de políticos que se recusam a reconhecer derrotas e não querem se desapegar do poder.
O Democratas é um partido que não tem dono, não somos um cartório. Como presidente, e sem ter um mandato parlamentar neste momento, não posso ser maior que o conjunto da bancada.
Por fim, lamento muito as palavras do deputado Rodrigo Maia e acrescento que não guardo rancor ou ódio de ninguém, porque não me permito ficar refém de sentimentos tão negativos. Diferentemente do que preconizam vozes preconceituosas, ou ingênuas, minha vida pública sempre foi pautada pelo diálogo, pelo entendimento e pelo exercício do equilíbrio entre a razão e a emoção.
Torço muito para que o deputado Rodrigo Maia reencontre o equilíbrio e a serenidade. Rodrigo Maia foi um presidente da Câmara importante para o Brasil e dá pena vê-lo deixar, de forma tão lamentável, a posição de liderança que exerceu.”
Mônica Bergamo – Folha de São Paulo