Antes de pedir filé para magistrados, Tribunal gastou R$ 300 mil com talheres e taças de cristal

POR MATEUS COUTINHO

Itens fazem parte dos 46 utensílios de cozinha da licitação do Tribunal de Justiça de Minas Gerais do ano passado que foi mais cara que a soma do gasto pelas duas gestões anteriores

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Desembargadores tomam café da manhã no prédio do TJMG. Foto: Amagis

Antes de pedir salmão e filé mignon para os lanches de juízes e desembargadores, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais destinou R$ 277,1 mil no ano passado, que corrigidos pela inflação chegam a R$ 304,6 mil, para comprar utensílios de cozinha e copa como pratos de sobremesa, talheres, xícaras de porcelana, garrafas térmicas, copos e até taças para oito edifícios do Judiciário mineiro, além dos sete Juizados especiais, em Belo Horizonte.

O valor é maior que a soma do gasto pelas duas gestões anteriores (2010-2012 e 2013-2014) com os mesmos tipos de utensílios, reajustando todos os preços pela inflação, e foi licitado três meses após a posse da atual gestão, em junho de 2014, e quase um ano antes da licitação de 2015 que previa salmão e filé mignon para o lanche dos magistrados mineiros, cancelada após o Estado revelar a polêmica. Questionado, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais afirma que está fazendo uma substituição gradativa dos produtos não descartáveis e que não se pode comparar valores homologados de anos anteriores, em virtude das diferenças dos itens licitados e especificidades de cada edital. A corte, contudo, não comentou a repetição da maior parte dos itens que aparecem nos dos editais de 2013 e 2014 (confira abaixo no texto).

Somente com garrafas térmicas – um total de 2.220 de diferentes tipos e tamanhos – a Corte mineira, presidida pelo desembargador Pedro Bitencourt, gastou no ano passado R$ 149 mil, que corrigidos pela inflação equivaleriam hoje a R$ 163 mil. O valor é maior que toda a licitação para utensílios de cozinha de 2013, que saiu por R$ 134,9 mil corrigidos pela inflação atual.

VEJA AS GARRAFAS TÉRMICAS DA LICITAÇÃO DO TJMG:

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Além disso, é a primeira vez desde 2008, considerando todos os editais disponibilizados na página do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (que só disponibiliza os documentos até 2008), que o edital prevê o uso de “tintas importadas específicas para porcelana, vidro e cristal”, para pintar o brasão da corte mineira em alguns utensílios.

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Modelo de copos e xícaras com o brasão da corte mineira. Foto: Reprodução

A tintura importada nas cores “verde bandeira, preto, vermelho, azul claro, marrom, cinza, dourado e rosa bebê” foi aplicada nos 2,2 mil copos de vidro, 350 taças de cristal, 1,8 mil xícaras de porcelana para café, com pires, e 168 xícaras de porcelana para chá, com pires, solicitados em 2014.

Questionado se há uma previsão legal que demande a identificação dos utensílios, a assessoria de imprensa do TJMG informou, por meio de nota, que a iniciativa “é comum” nos três Poderes da União e que visa “preservar o patrimônio público, vinculando-o à instituição”, afirma o texto. A corte, contudo, não respondeu por que a pintura do brasão não estava prevista nos editais anteriores.