Em pouco mais de dois anos de mandato, o presidente Jair Bolsonaro já multiplicou por dez o número de militares em posição de gestão nas estatais brasileiras. Quando Michel Temer deixou o Planalto, as Forças Armadas comandavam apenas nove empresas federais. Quando o general Joaquim Silva e Luna assumir a presidência da Petrobras, serão 92 os representantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em cargos de comando.
Hoje, Luna é diretor-geral da Itaipu Binacional. Ele conta com 20 militares em sua equipe. Entre eles, quatro dos seis diretores de Itaipu.
Os dados foram obtidos pela Folha de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação(LAI) e consideram a estrutura no topo das 19 estatais vinculadas à União, incluindo as de maior peso, Petrobras e Eletrobrás. Na lista também estão estatais como Correios, Serpro, Infraero e Casa da Moeda.
“O comando de uma estatal faz diferença para determinar os rumos não apenas daquela empresa mas também de suas subsidiárias, que podem ser muitas, a depender da companhia”, disse Josué Pellegrini, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, ao jornal.
O Ministério da Economia contabilizava 197 estatais federais no início de 2020. Dessas, 46 estavam sob controle direto da União. As outras 151 são subsidiárias de apenas cinco das 46: Eletrobras (69 subsidiárias), Petrobras (49), Banco do Brasil (26), Caixa Econômica Federal (5) e BNDES (2). Somando todas as posições, incluindo ministérios e demais órgãos, o número de militares nas estatais da União sobe para 123.
Para especialistas, a militarização excessiva em uma democracia é atípica e pouco eficaz. O historiador Carlos Fico disse à Folha que o discurso de que militares são mais organizados, firmes e dispostos a lutar contra a corrupção não é totalmente verdadeiro. Para ele, falta de expertise de militares em funções específicas da vida empresarial.
Apesar da resistência de deputados conservadores, o relatório de Emidio de Souza (PT) pela suspensão não remunerada de seis meses do deputado Fernando Cury (Cidadania), flagrado apalpando a deputada Isa Penna (PSOL), é favorito para aprovação no Conselho de Ética da Assembleia de São Paulo nesta sexta-feira (5). O relatório tem o apoio de cinco deputados, o que deve ser suficiente para que seja aprovado e avance para a votação no plenário. O placar de 5 a 4 é o cenário previsto por parlamentares ouvidos pela Folha, embora possa haver mudanças.
O regimento da Assembleia determina que a suspensão de um deputado deve ter o aval de maioria simples em votação aberta e nominal no plenário. O parecer foi apresentado na quarta-feira (3), quando poderia ter havido a votação no Conselho de Ética não fosse o pedido de vista dos deputados Wellington Moura (Republicanos) e Adalberto Freitas (PSL). A avaliação, no entanto, é que os deputados conseguiram atrasar o processo, mas não terão maioria para uma punição menor a Cury.
Foi preso hoje, em Uberlândia (MG), um homem que, segundo a Polícia Militar, incitou, nas redes, um atentado contra a vida de Jair Bolsonaro, que visitou hoje a cidade. Segundo o auto de prisão, obtido por O Antagonista, ele e mais três pessoas “incitavam à violência e a processo violento (atentado) contra a vida do presidente”.
A prisão ocorreu durante a madrugada, antes da chegada do presidente ao município, que fica no Triângulo Mineiro.
João Reginaldo Silva Júnior foi levado para a delegacia da PF na cidade após investigações da inteligência da PM de Minas.
“Gente, Bolsonaro em Udia amanhã… Alguém fecha virar herói nacional”, postou no Twitter, conforme transcrição apresentada no auto de prisão.
Em resposta, Rubens Avendano Ferreira postou: “Só preciso da arma”.
Em outro tuíte, Luiz Gustavo Queiroz escreveu, ainda segundo a PM: “Bolsonaro se vier a Uberlândia voltará pra casa num caixão, não é ameaça, é comunicado.”
A PM identificou ainda como de Vitória Mércia Gonçalves dos Santos a seguinte postagem: “Bolsonaro em Uberlândia amanhã. Né possível que não tem um sniper nessa cidade. Aqui produz tanto maluco, um lúcido e armado, seria demais? Nunca te pedi nada @deus.”
João Reginaldo foi preso em flagrante e teve o celular apreendido. Os demais não foram encontrados pela Polícia Militar. A PF, no entanto, já investiga outras pessoas que também teriam postado mensagens de conteúdo semelhante.
Foi preso hoje, em Uberlândia (MG), um homem que, segundo a Polícia Militar, incitou, nas redes, um atentado contra a vida de Jair Bolsonaro, que visitou hoje a cidade. Segundo o auto de prisão, ele e mais três pessoas “incitavam à violência e a processo violento (atentado) contra a vida do presidente”.
A prisão ocorreu durante a madrugada, antes da chegada do presidente ao município, que fica no triângulo mineiro.
Blog do Primo: como nomes das três pessoas que supostamente iriam assassinar o Presidente Bolsonaro não são revelados? Quais seriam suas motivações? Estavam agindo por conta própria, ou por alguma organização? Precisamos de esclarecimentos, sob pena da ser visto como um factoide para esconder aumento de combustíveis.
O prefeito de Rodolfo Fernandes, empresário Wilto Monteiro, o “Lilito” (MDB), decidiu renunciar ao cargo. Ele entregou a carta de renúncia na manhã desta quinta-feira (4), alegando motivos de ordem pessoal. Assume o cargo Flávio de Tico (MDB), que foi eleito vice-prefeito nas eleições 2020.
Lilito Monteiro, na verdade, ficou apenas 13 dias no cargo. Em 14 de janeiro, ele se afastou do cargo por 90 dias, justificando na necessidade de cuidar da saúde, depois de ter testado positivo para a Covid-19.
No pior momento da pandemia e ainda sem a retomada do pagamento do auxílio emergencial, a aprovação do presidente Jair Bolsonaro aparece abaixo do patamar de 30% da população, segundo pesquisa do IPEC (Inteligência, Pesquisa e Consultoria). O levantamento, realizado entre 18 e 23 de fevereiro, aponta que 28% dos entrevistados consideram a gestão Bolsonaro ótima ou boa, enquanto 39% avaliam como ruim ou péssima. Segundo os dados do IPEC, o eleitorado evangélico é a principal base de apoio a Bolsonaro, que tem avaliação positiva de 38% neste segmento. A margem de erro é de dois pontos.
Em levantamentos de institutos como Datafolha e Ibope em 2020, o nível de aprovação geral do governo Bolsonaro quase sempre ultrapassava um terço da população. Em dezembro, apesar do aumento de mortes em decorrência da Covid-19 após as eleições municipais, o presidente manteve 37% de aprovação. Já no fim de janeiro, primeiro mês após o fim do pagamento das parcelas de R$ 300 do auxílio emergencial, o Datafolha apontou queda nas avaliações positivas, com 31% considerando o governo ótimo ou bom, e rejeição na casa de 40%. A retomada do auxílio, agora em quatro parcelas de R$ 250 cada, faz parte da PEC Emergencial no Senado.
O IPEC, instituto formado por executivos que deixaram o Ibope após o encerramento das atividades com pesquisas de opinião pública, aponta ainda neste levantamento que, para 87% dos brasileiros, há alguma expectativa de pagamento do auxílio emergencial “até a situação econômica voltar ao normal” — o que pressupõe um prazo maior do que os quatro meses do planejamento do governo federal. Segundo a pesquisa, 72% concordam totalmente com esta visão; 15% concordam em parte.
91% do nordeste
O maior clamor por uma disponibilização prolongada do auxílio vem do Nordeste, onde 91% concordam total ou parcialmente que o benefício deve ser pago até que o cenário econômico esteja em normalidade. As regiões Norte/Centro-Oeste e Sudeste aparecem com 87% de concordância parcial ou total neste item, enquanto o Sul tem 80%.
No recorte por renda, 93% dos que têm renda mensal de até um salário mínimo — parcela da população à qual o benefício é majoritariamente destinado — concordam, ao menos de forma parcial, que o auxílio deve durar até uma normalidade econômica. Ontem, a divulgação do PIB de 2020 pelo IBGE apontou que o país não se recuperou do impacto da pandemia da Covid-19, fechando o ano com um rombo de 4,1%. Na última semana, Bolsonaro afirmou que o benefício “custa caro” e representa “um endividamento enorme”, ao justificar que a União não poderia pagar o auxílio indefinidamente.
Para a cientista política Luciana Veiga, professora da Unirio, o cenário atual de baixa aprovação, na medida em que traz preocupações para Bolsonaro em seu projeto de reeleição em 2022, pode estimular o presidente a tentar um prolongamento do benefício, contrariando suas próprias declarações e as projeções da área econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes. A especialista observa que, segundo a pesquisa do IPEC, nos estratos de menor remuneração e no Nordeste a avaliação do governo como regular fica acima da média nacional.
— O que Bolsonaro faz com o auxílio não é conquistar eleitores que não gostam dele, mas sim trazer o que está nesse bloco do regular. É um eleitor muito prático, menos apegado a questões ideológicas, e que pode oscilar a depender do impacto do governo federal em sua vida. É aí que entra o auxílio. Por outro lado, este eleitor também é mais pressionado pelo cenário da Saúde, já que depende da rede pública — avaliou Veiga.
A CEO do IPEC, Márcia Cavalari, afirma que a análise dos resultados deve levar em consideração o contexto à época da realização das pesquisas. O levantamento do IPEC, que ouviu 2.002 pessoas presencialmente em 143 municípios, ocorreu nos dias que se seguiram à primeira ameaça de Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras por insatisfação com aumentos nos preços de combustíveis, o que gerou reação negativa do mercado, com forte queda no valor das ações da empresa. O anúncio da demissão de Roberto Castelo Branco da presidência da petroleira ocorreu no dia 19, durante a realização da pesquisa.
— Esta é uma das possíveis hipóteses para que a rejeição ao governo seja mais alta entre os eleitores com maior remuneração do que entre os mais pobres. Para o segmento de menor renda, a troca pode não ter soado tão ruim, por conta do discurso de baratear o combustível — afirmou Márcia.
Entre os eleitores que declaram renda mensal superior a cinco salários mínimos, 47% disseram considerar o governo ruim ou péssimo, enquanto 24% consideram ótimo ou bom. Entre os mais pobres, com renda de até um salário mínimo, o nível de aprovação é semelhante (26%), mas o percentual dos que rejeitam o governo é bem menor: 38%.
Acenos conservadores
A parcela evangélica do eleitorado apresenta, na pesquisa do IPEC, um desenho inverso em relação à avaliação geral do governo. Neste segmento, é o percentual de avaliações como ótimo ou bom que se aproxima da faixa de 40% dos entrevistados — e não a rejeição, como ocorre no recorte mais amplo da pesquisa. Entre os evangélicos, 27% consideram o governo ruim ou péssimo. É a menor taxa de rejeição registrada em todo o levantamento.
Para a cientista política Luciana Veiga, a situação se explica pelo fato de Bolsonaro se manter “sem inconsistências” na defesa da chamada pauta de costumes ao longo do mandato — o que difere, segundo a especialista, do comportamento oscilante em outras bandeiras, como a agenda econômica liberal e a pauta anticorrupção. Nos dois primeiros anos de governo, Bolsonaro procurou fazer acenos recorrentes a lideranças evangélicas que atuam em igrejas espalhadas pelo país, e que já o haviam apoiado durante as eleições de 2018. O presidente tem prometido que indicará um evangélico para a próxima vaga que se abrirá no Supremo Tribunal Federal (STF), em julho, com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.
Horas antes do país viver seu recorde de mortes por Covid-19, Jair Bolsonaro (sem partido) estava “alegre”e “bem descontraído” em um almoço temático “informal” no Palácio do Planalto. Quem afirma isso é o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG), de acordo com a Folha de S. Paulo, responsável por preparar um leitão para o evento.
No mesmo dia, diversos governadores de todo o país se reuniram com Arthur Lira (PP-AL) para tratar de medidas visando frear o avanço da pandemia do novo coronavírus no país. João Doria (PSDB-SP), tido como um dos maiores adversários políticos de Bolsonaro, reuniu-se com mais de 600 prefeitos para tratar da situação crítica em São Paulo.
À Folha, Ramalho afirmou que não houve ações concretas tomadas ou debatidas no evento em que o presidente participou. O parlamentar afirmou que Bolsonaro “falou da pandemia e disse que há muitas vacinas para chegar”.
“Ele [Bolsonaro] vai para Minas Gerais amanhã [quarta], se não me engano, e volta para lá no dia 26. Estava alegre, bem descontraído”, diz Ramalho, completando que há outro almoço já marcado para abril.
Segundo o jornal, entre os convidados, apenas o governador Romeu Zema (NOVO-MG) e seu secretário, Matheus Simões, aparecem de máscaras nos registros a que o jornal teve a acesso. Outros sete presentes, incluindo Bolsonaro, não utilizavam o equipamento de proteção contra o novo coronavírus.
Nas redes sociais, o presidente fez mais um postagem contra medidas de restrição defendidas por especialistas. Enquanto isso, estados e municípios seguem articulando para minimizar os estragos. Secretários de Saúde divulgaram carta pedindo toque de recolher nacional das 20h às 6h. Lira e governadores chegaram a mencionar um aporte de R$ 14,5 bilhões a mais para combate à Covid-19 no Orçamento 2021.