BRUNO FÁVERO
DE SÃO PAULO
Habituados a ver na programação shows como o do cantor sertanejo Daniel e do pop Tiago Iorc ou um número dos palhaços Patati Patatá, frequentadores do teatro Feevale, em Novo Hamburgo (RS), passariam o tempo na noite desta quarta (21) com uma apresentação pouco usual para o local: a palestra “Enfrentamento da corrupção sistêmica”, com o juiz Sergio Moro.
O magistrado, que julga os processos da Operação Lava Jato, costuma falar para bacharéis em direito e universitários, mas desta vez se apresenta para um público provavelmente mais heterogêneo –as mais de 1.500 pessoas que acessaram o site Ingresso Rápido e se dispuseram a pagar de R$ 60 a R$ 90 para ouvi-lo falar por 1h30.
O site tem como carro-chefe shows e peças de teatro, mas a experiência com Moro parece ter sido bem sucedida comercialmente. As entradas se esgotaram em 72 horas, segundo a assessoria do Grupo Sinos, que organiza o evento.
O ritmo de vendas é mais intenso do que o de palestrantes famosos, como o best-seller de autoajuda Augusto Cury. Ingressos para uma palestra do escritor também estão sendo vendidos na mesma plataforma, mas ainda há dezenas de assentos disponíveis.
MAIS PALESTRAS
Moro já disse que o número de convites para falar Brasil e no exterior aumentou significativamente desde que foi alçado à fama pela atuação na investigação da corrupção na Petrobras.
Na maioria das vezes, porém, as apresentações são gratuitas e feitas em universidades ou em eventos voltados para o meio jurídico e empresarial.
Antes de Novo Hamburgo, por exemplo, o juiz foi à Pensilvânia, onde falou em uma universidade.
De acordo com o próprio Moro, um de seus objetivos ao falar publicamente nesses eventos é dar um recado para o setor privado.
“Tenho concordado em dar palestras a entidades empresariais, tem sido um pouco cansativo por conta da agenda, mas acho importante porque eu dou aquele recado óbvio de que [a corrupção] não é só problema do governo, é problema da empresa que paga propina”, disse à Folha em agosto.
Se decidir enveredar pela carreira de palestrante, o juiz do Paraná entrará numa indústria que movimenta R$ 100 milhões por ano no país, segundo a Sociedade Brasileira de Palestrantes.
Os cachês podem variam bastante. Augusto Cury, por exemplo, cobra R$ 50 mil por encontro. Já o ex-presidente Lula, réu de Moro, diz cobrar até US$ 200 mil (R$ 650 mil).
O Grupo Sinos não informou se pagou cachê a Moro.