Líder das intenções de voto para presidente em cenários sem Lula que lidera com o dobro das intenções do segundo, Jair Bolsonaro (PSL) chegou a defender um novo golpe militar no Brasil, nos anos 1990.
Em entrevistas, reuniões e em discurso no plenário da Câmara, o deputado federal afirmou, na ocasião, não acreditar em solução para o Brasil por meio do voto popular.
A Câmara dos Deputados chegou a enviar uma representação ao Supremo Tribunal Federal, mas ela não prosperou.
Em entrevistas atuais, o hoje presidenciável adota um discurso oposto, chegando a afirmar, como fez na participação na Marcha para Jesus, na quinta-feira (31), que jamais usou a palavra “intervenção” ao ser questionado sobre a atual defesa de intervenção militar no país, eufemismo para golpe.
“Nunca falei a palavra intervenção. Se um dia o militar chegar ao poder, será através do voto”, afirmou.
Em entrevista ao programa Câmera Aberta há 19 anos, porém, Bolsonaro foi questionado pelo entrevistador se ele fecharia o Congresso Nacional se fosse presidente da República.
“Não há menor dúvida, daria golpe no mesmo dia! Não funciona! E tenho certeza de que pelo menos 90% da população ia fazer festa, ia bater palma, porque não funciona. O Congresso hoje em dia não serve pra nada, só vota o que o presidente quer. Se ele é a pessoa que decide, que manda, que tripudia em cima do Congresso, dê logo o golpe, parte logo para a ditadura”, afirmou.
Na mesma entrevista, de 1999, afirmou que não acreditava que houvesse solução por meio da democracia e defendeu a morte de “30 mil”, incluindo a de civis e a do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, no dia em que partir para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil, começando pelo FHC, não deixar ele pra fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.”
Diante da repercussão do caso e da ameaça de cassação, deu nova entrevista semanas depois ao mesmo programa dizendo ter sofrido um “massacre”. Evitou repetir as declarações, mas não se retratou: “Não vou voltar a pregar isso aí, dei o meu recado.”
Seis anos antes, Bolsonaro já havia pregado a ruptura institucional, dessa vez em reuniões com militares nos Estados da Bahia e Rio Grande do Sul e em discursos no plenário da Câmara.
Na ocasião a imprensa noticiou sua defesa da volta da ditadura. Em discurso no plenário, afirmou que não desmentia nenhuma das publicações. E acrescentou: “Sou a favor sim de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que esse Congresso Nacional dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo”.
A Câmara enviou uma representação ao STF pedindo a punição de Bolsonaro, mas o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, deu parecer pelo arquivamento sob o argumento da imunidade que os parlamentares gozam em relação aos seus votos, palavras e opinões. E também porque, em sua visão, Bolsonaro não havia cometido delito penal.
A Folha enviou questionamentos para a assessoria do presidenciável, mas não houve resposta.