O que cinco mulheres juntas podem fazer em um mandato à Câmara Legislativa de Pernambuco que um homem sozinho não pode?
A resposta está na ponta da língua da produtora audiovisual Carolina Vergolino, 39: “A revolução. Como? Fazendo a tomada da democracia através do feminismo”.
Carolina fala por outras quatro mulheres, que com ela compartilham uma pré-candidatura coletiva ao cargo de deputada estadual no Estado pelo Psol. São elas a advogada Robeyoncé Lima, 29, a vendedora ambulante Jô Cavalcanti, 36, a estudante de Letras Joelma Karla, 19, e a professora de Educação Física Kátia Cunha, 42.
Cinco candidatas, um único número e uma única assinatura nas urnas, “Juntas”, ao invés dos nomes das quatro. Isso precisa acontecer porque o Tribunal Superior Eleitoral permite o registro de apenas um nome e um título de eleitor para as candidaturas (no caso delas, foi o de Jô).
A escassa presença das mulheres na política foi um dos motivos que levou as cinco a concorrer à Câmara pernambucana. Por lá, seis deputadas dividem a tribuna com 43 deputados. “Vamos combinar que os homens não têm pensado em políticas públicas para as mulheres. Nosso grupo é essencialmente feminista e vamos levar os valores feministas para tudo que fizermos. Só vamos parar quando qualquer mulher puder andar na cidade sem medo, deixar o filho na creche em paz e quando as mães pararem de chorar por seus filhos assassinados”, diz Carolina.
Em Pernambuco, é a primeira vez que um grupo tenta um mandato coletivo. Mas a experiência não é inédita no Brasil. Em Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, desde janeiro de 2017 cinco pessoas dividem um mandato de vereador da cidade de pouco mais de 7 mil habitantes. Oficialmente, apenas uma delas, o advogado João Yuji (Podemos, antigo PTN), estava inscrito como candidato na Justiça Eleitoral. Conquistada a cadeira na Câmara, Yuji garantiu que seu mandato seria exercido em conjunto com seus quatro amigos que trabalharam na campanha.
Já em Belo Horizonte, Minas Gerais, as vereadoras Áurea Carolina e Cida Falabella integraram gabinetes e equipe, o que chamam de “gabinetona”. Na prática, são duas candidatas eleitas, mas que trabalham pelas mesmas pautas. O movimento coletivo começou já nas campanhas de cada uma. Uma pedia voto para outra.