Simultaneamente à intensificação do choque entre governadores e Jair Bolsonaro por causa das divergências sobre o isolamento social no combate ao novo coronavírus, os chefes dos executivos estaduais também têm sido alvo de ataques por parte de apoiadores do presidente nas redes sociais. Focada preferencialmente em João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC), os dois principais alvos, a ofensiva se ampliou para os chefes dos executivos de outros estados nas últimas semanas.
Levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (Dapp-FGV) mostra que há um volume alto de menções aos governadores no Twitter desde o final de março. Entre 3 e 16 de abril, foram cerca de 3,63 milhões de postagens sobre os líderes dos governos estaduais na plataforma. De 20 de março a 3 de abril, as citações haviam alcançado 3,72 milhões de publicações.
O estudo destaca que houve aumento progressivo de menções a partir do dia 7 de abril, com um pico de 395,6 mil postagens no dia 11. Esse movimento acompanha os esforços de perfis pró-Bolsonaro para mobilizar carreatas em São Paulo contra as medidas de isolamento adotadas por Doria. O governador paulista é o campeão absoluto de citações, com 1,8 milhão de menções entre 3 e 16 de abril. Entre as hasthags usadas contra o tucano, no período, estão #foradoria e #impeachmentdodoria.
Witzel foi o segundo com mais menções no período, com 493 mil postagens a seu respeito. Os ataques ligam o governador do Rio ao desemprego provocado pelo coronavírus e o acusam de provocar endividamento do estado.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que rompeu com Bolsonaro em meio à eclosão da pandemia, foi o terceiro mais citado no começo de abril, com 198 mil menções. Os ataques a Caiado são relacionadas a sua defesa do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. O quarto governador que mais foi citado no Twitter pelo levantamento da Dapp-FGV foi Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão. Um monitoramento realizado pelo próprio governo maranhense detectou 62% de menções negativas nas redes sociais entre 4 e 9 de abril após o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho 03 do presidente, repercutir um vídeo do colega Hildo Rocha (MDB-MA) chamando Dino de “fascista” por determinar o fechamento de uma avenida da orla de São Luis para inibir o acesso às praias diante da pandemia.
No período entre 1 a 6 de abril, o governo do Maranhão identificou um índice negativo de menções de 78%. “Tivemos um aumento considerável de ataques ao governo e ao governador, capitaneados principalmente pela milícia digital bolsonarista”, afirma o relatório. A ofensiva é relacionada a uma reunião de Dino e governadores da região Norte com o vice-presidente Hamilton Mourão, no dia 2 para tratar de questões referentes à Amazônia.
Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, o quinto com mais menções (82 mil) no estudo da Dapp-FGV, foi alvo de uma fake news na semana passada. Os apoiadores de Bolsonaro, entre eles a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro, filho 02 do presidente, acusaram o governador de ter a intenção de colocar presos para fiscalizar as pessoas nas ruas. Para isso, usaram um trecho de uma entrevista de Helder em que ele anunciava que presos do estado seriam colocados presos para pintar marcações em pontos de ônibus para que as pessoas mantenham distância enquanto estiverem esperando pelos coletivos.
O governo do Rio Grande do Sul informou ter detectado um aumento considerável nas interações negativas com os perfil do governador Eduardo Leite (PSDB) a partir de contas identificadas com Bolsonaro, nas últimas semanas. Na Bahia, o governo também tem monitorado ataques constantes ao petista Rui Costa. Os ataques fazem menções a repasses recebidos do governo federal que teriam se perdido.