Moro já interferiu politicamente na PF em defesa de Bolsonaro, diz Freixo

“Já houve interferência política feita pelo próprio Sergio Moro nas ações da Polícia Federal em defesa de Jair Bolsonaro.” A declaração foi dada, em entrevista ao vivo ao UOL, nesta segunda (27), pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Próximo da família da vereadora Marielle Franco, executada em março de 2018, ele acompanha as investigações e diz que o, agora, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública fez aquilo que denunciou que o presidente da República desejava fazer.

“Sergio Moro está dizendo agora que a interferência pode se agravar de uma coisa que ele, de alguma maneira, já foi testemunha e participou”, avalia. “O que não podemos deixar é que isso vire uma regra, que o novo chefe da Polícia Federal seja alguém que opere em cima de denúncias para atender o interesse de uma família e não os interesses da República.”

Freixo deu entrada, na manhã desta terça (28), com uma ação na 13ª Vara da Justiça Federal, pedindo a anulação da nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de delegado-geral da PF, publicada hoje no Diário Oficial da União, no lugar de Maurício Valeixo. O advogado-geral da União, André Mendonça, será o novo ministro da Justiça.

“Nenhuma questão pessoal contra o Ramagem, mas existe o princípio da impessoalidade. Nesse momento, há investigações da PF sobre milícias, fakenews e pessoas que participam de atos pedindo o fechamento do Congresso”, afirma. “Algumas investigações esbarram em gente muito próxima ao presidente, inclusive seus filhos. Há um debate muito grande sobre a isenção. Quem diz isso não sou eu, é o ex-ministro Sergio Moro. Bolsonaro querer colocar alguém com relação próxima com seus filhos no cargo viola essa impessoalidade.” Ramagem é amigo pessoal dos filhos do presidente.

De acordo com relato de Freixo ao UOL, Moro tentou levar o caso para a Polícia Federal a a partir do momento em que a investigação das mortes de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes, esbarrou em pessoas próximas ao presidente. Seja por conta do endereço de Ronnie Lessa (matador de aluguel, vizinho de Bolsonaro, preso sob a acusação de ter participado do crime), seja por conta do polêmico depoimento do porteiro do condomínio – que havia afirmado que alguém na casa de Bolsonaro havia autorizado a entrada de Élcio Queiroz, outro acusado de ter cometido o crime.

Marcelo Freixo já havia afirmado que a atuação do então ministro no caso mostrou que Moro “assumiu de vez o papel de advogado particular do clã presidencial”. E que ele não se constrangia em “usar o aparato policial do Estado brasileiro para intimidar um porteiro, homem humilde que mora numa área controlada por milícia, transformando uma testemunha em réu, para proteger a família Bolsonaro”.

Segundo ele afirmou ao UOL, o ex-ministro nunca havia demonstrado interesse no caso Marielle, nem oferecido que a Polícia Federal auxiliasse tecnicamente a Polícia Civil do Rio de Janeiro. “Mas quando foi para defender o presidente, não a vítima, houve um interesse repentino de Moro, tentando – inclusive – interceder na investigação”, diz.

Coluna Leonardo Sakamoto – UOL

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