BRASÍLIA — O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou nesta sexta-feira o uso de “cadáveres para fazer palanque”. Ele não se dirigiu diretamente aos governadores, mas fez as críticas logo após enumerar medidas direcionadas para estados e municípios.
— Vamos nos aproveitar de um momento desse, da maior gravidade, de uma crise de saúde, e vamos subir em cadáveres para fazer palanque? Vamos subir em cadáveres para arrancar recursos do governo? Isso é inaceitável, a população não vai aceitar. A população vai punir quem usar cadáveres como palanque — disse Guedes, em entrevista no Palácio do Planalto.
Guedes disse que o Brasil é um gigante que pode ser saqueado.
— Na hora que estamos fazendo esse sacrifício, que o gigante caiu no chão, é inaceitável que tentem saquear o gigante que está no chão. Que usem a desculpa da crise da saúde para saquear o Brasil na hora que ele cai. Nós queremos saber o que podemos fazer de sacrifício pelo Brasil nessa hora e não o que o Brasil pode fazer por nós — afirmou.
O ministro da Economia voltou a criticar a possibilidade de aumento de servidores públicos durante a crise. Disse que as “medalhas” são dadas apenas após a guerra, e não agora. O projeto aprovado pelo Congresso também autoriza os reajustes, mas o presidente disse que vetaria esse trecho, a pedido de Guedes.
— As medalhas são dadas após a guerra, não antes da guerra. Nossos heróis não são mercenários. Que história é essa de pedir aumento de salário porque um policial vai à rua exercer sua função. Ou porque um médico vai à rua exercer sua função. Se ele trabalhar mais por causa do coronavírus, ótimo, ele recebe hora-extra. Mas dar medalhas antes da batalha? As batalhas vêm depois da guerra, depois da luta — disse o ministro.
Guedes afirmou que, depois da crise, vai se lembrar dessa situação. Mas não comentou a aprovação de reajustes de até 25% para a polícia do Distrito Federal, aprovado pelo Congresso a pedido do presidente. Os policiais do DF são os mais bem pagos do Brasil.
— Nós vamos nos lembrar disso, vamos botar o quinquênio, o anuênio, o milênio, o eugênio, tudo que foi preciso. Mas não antes da batalha — disse Guedes.
O ministro pediu apoio do Congresso, de governadores e de prefeitos para manter o eventual veto de reajustes salariais.
— Não vamos tirar nada de ninguém. Só vamos pedir uma contribuição. Por favor, enquanto o Brasil está de joelhos, nocauteado, tentando se reerguer, por favor, não assaltem o Brasil. Não transformem, num ano eleitoral, onde é importante tirar o máximo possível do gigante que foi abatido — afirmou.
Guedes disse que as críticas de Bolsonaro ao isolamento social são “alertas”.
— Essa segunda onda que o presidente tem nos alertado pode nos remeter a um país onde as prateleiras estão vazias — completou.