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Entidades nacionais que representam médicos especialistas atuantes em áreas diretamente ligadas ao novo coronavírus apresentaram, ontem, segunda-feira (18), um documento com diretrizes para o combate à pandemia. No documento, os órgãos rejeitam o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina como tratamento de rotina da Covid-19.
“Sugerimos não utilizar hidroxicloroquina ou cloroquina de rotina no tratamento da Covid-19”, afirma o documento Diretrizes de Tratamento Farmacológico da Covid-19 produzido em consenso pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
De acordo com o tratado, embora tenha acesso fácil e custo “moderado”, o medicamento possui benefício clínico “pequeno ou negligenciável” e nível de evidências científicas “baixo” quanto à sua eficácia.
A cloroquina virou pauta nacional depois de diversas citações realizadas por Jair Bolsonaro(sem partido). O presidente defende a inclusão da droga no protocolo de atendimento a pacientes de Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS).
Essa mudança de protocolo teria sido o motivo para que Nelson Teich pedisse demissão do Ministério da Saúde depois de menos de um mês no cargo.
As orientações que constam no documento servem para nortear a atuação de médicos que tem trabalho no combate à pandemia.
Além da cloroquina e da hidroxicloroquina, as entidades analisaram outros 11 tipos de tratamentos que utilizam farmácos. Apenas dois tiveram o aval: oseltamivir (em casos graves associados a influenza ou outros fatores de risco) e antibacterianos (em caso de infecção bacteriana).
Anteriormente, a Sociedade Brasileira de Infectologia já havia se demonstrado contra a utilização de cloroquina.
“A SBI fortemente recomenda que sejam aguardados os resultados dos estudos randomizados multicêntricos em andamento, incluindo o estudo coordenado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), para obter uma melhor conclusão quanto à real eficácia da hidroxicloroquina e suas associações para o tratamento da covid-19”, diz o parecer.
A entidade ressalta que são necessários estudos com maior abrangência amostral e feitos de forma randômica (em que os pacientes são escolhidos aleatoriamente e apenas metade recebe o tratamento, a fim de comparação). “A escolha desta terapia, ou mesmo a conotação que a covid-19 é uma doença de fácil tratamento, vem na contramão de toda a experiência mundial e científica com esta pandemia.”
O parecer da entidade ainda diz que o amplo uso da cloroquina e da hidroxicloroquina é “perigoso” e “tomou aspecto político inesperado”. O órgão ressalta também que “nenhum cientista é contra qualquer tipo de tratamento (…), mas sempre com bases em evidências científicas sólidas”.