Por mais que as Forças Armadas tentem se dissociar do governo de Jair Bolsonaro, a história que o presidente vem escrevendo em seu governo tem acumulado capítulos que constrangem os militares.
A fala de Bolsonaro, de que poderia usar “pólvora” como suposto meio de negociação com os Estados Unidos, não foi endossada pelos militares, tanto da ativa quanto da reserva. Mais do que isso, ela foi considerada “pura retórica” e “maluquice”.
No dia seguinte da fala “exagerada” do presidente, como classificou um auxiliar do presidente, os militares acabaram virando piadas e memes, que em muitas vezes tentavam ridicularizar o trabalho do Exército.
Pelas pesquisas internas do quartel-general, o Exército é tido como um das instituições mais confiáveis e respeitadas por quase 80% da população brasileira. Mesmo que em brincadeiras e em piadas, a sociedade está ridicularizando as deficiências do aparato de defesa do país. Como consequência prática da fala do presidente, é possível que essa aprovação sofra uma queda nas próximas avaliações.
Militares ouvidos pela coluna minimizaram as críticas e disseram que estão “acostumados” com brincadeiras, já que “o país tem uma cultura de paz”. Além disso, eles mesmo admitiram que uma supsta guerra do Brasil com os Estados Unidos “não duraria cinco minutos”.
“Os Estados Unidos não precisariam nem invadir a Amazônia, onde a nossa capacidade de resistência é maior. Bastava um bombardeio leve no Rio e outro em São Paulo para acabar o conflito em cinco minutos”, explicou um militar, que despacha no Planalto. “Mas é um cenário tão surreal, que até em pensamento é absurdo”, completa.
Oficialmente, a ordem entre os militares é de silêncio e evitar polemizar ainda mais. “Temos preocupações mais importantes”, disse um general, citando a situação do Amapá, que sofre consequências do apagão de energia e que tem recebido suporte das Forças Armadas.
General desautorizado
Outro recente episódio demonstra que o presidente deveria ter mais cuidado com a reputação das Forças Armadas. Ao desautorizar o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que teve que recuar após anunciar compra de vacinas, a situação do general ficou bastante desgastada entre os pares.
Um general, que não faz parte do governo, mas conhece Pazuello, falou à coluna, sob condição de anonimato, que o ministro da saúde estaria “envergonhado”. “Parte expressiva do generalato, incluindo o General Mourão, são da tese que ele deveria sair do Governo”, disse.
Pazuello, por enquanto, mantém a linha de “um manda e outro obedece” e parece não querer sair nem do governo, nem do Exército. O ministro retornou nesta quarta-feira ao trabalho e evitou a todo custo se envolver em polêmicas da vacina e falar com a imprensa