JBS se recusa a fornecer ao MPF contratos com Wassef e diz que advogado não atuou na delação dos executivos


A JBS se recusou a fornecer ao Ministério Público Federal cópia dos contratos e da comprovação de prestação de serviços pelo advogado Frederick Wassef, que também atuava para o presidente Jair Bolsonaro. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou que a JBS pagou R$ 9 milhões a Wassef entre 2015 e 2020, o que motivou pedido de esclarecimentos da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Força-Tarefa Greenfield, do MPF.

Em resposta ao MPF, a JBS afirmou que Wassef atuou no “acompanhamento de procedimentos de natureza criminal”, negou que ele tenha trabalhado em assuntos relacionados à delação dos executivos e disse que não poderia fornecer os contratos por estarem resguardados do sigilo legal na relação advogado-cliente. Por isso, a Força-Tarefa Greenfield acionou a 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília pedindo que obrigue a JBS a fornecer a documentação. O pedido foi enviado na noite de quinta-feira ao juiz federal Vallisney de Oliveira, que vai analisar o assunto.

No fim do ano passado, Wassef esteve na PGR, já durante a gestão do procurador-geral da República Augusto Aras, para defender a manutenção e repactuação do acordo de delação dos executivos do grupo. Como ele não tinha procuração assinada pela empresa para tratar desse assunto, entretanto, a conversa foi encerrada pelos procuradores que o receberam. Investigadores suspeitam que a JBS possa ter contratado o advogado para fazer lobby em favor da empresa junto a Aras, devido à relação de Wassef com Bolsonaro.

No ofício encaminhado à Justiça Federal, a Força-Tarefa Greenfield afirma que quer saber se Wassef efetivamente prestou serviços advocatícios, se possuía procuração para representar a empresa em processos judiciais, cópias das suas petições e documentos do tipo.

“O que foi solicitado objetivamente foram documentos que demonstrassem a efetiva prestação de serviços advocatícios (se de fato existirem), como contratos da JBS com escritório de Frederick Wassef, notas fiscais, procurações ad judicia correspondentes, lista de inquéritos policiais em que Frederick Wassef atuou, cópias da petições firmadas por Frederick Wassef”, diz a manifestação, assinada pelos procuradores da força-tarefa.

A Força-Tarefa Greenfield argumenta que a omissão de informações sobre Wassef pode provocar impactos ao acordo de leniência do grupo J&F, caso haja indícios de que a contratação do advogado envolveu condutas criminosas. “Não se vislumbra qualquer óbice à apresentação dos documentos requisitados pela FT Greenfield, e sim uma recusa indevida em prestar informações, requisitadas no contexto do acordo de leniência”, escreveram.

A JBS, em seu ofício, havia afirmado que a contratação de Wassef não teve relação com a delação premiada dos executivos do grupo J&F. “A JBS esclarece, de pronto, que a atuação profissional exercida pelo sr. Frederick Wassef não teve qualquer relação com o acordo de leniência firmado pela J&F Investimentos (e aderido pelas empresas do grupo), com os acordos de colaboração premiada firmados pelos ex-executivos da companhia, tampouco com a Pet 7003, procedimento judicial que tramita perante o Supremo Tribunal Federal”, diz a empresa.

Prossegue a JBS: “As atividades advocatícias exercidas pelo mencionado advogado, ou por sua equipe, guardavam relação, única e exclusiva, com o acompanhamento de procedimentos de natureza criminal que envolviam (e ainda envolvem) interesses da companhia”.

A empresa não cita o fato de Wassef ter ido à PGR se apresentar como seu advogado para discutir a manutenção do acordo de delação dos seus executivos e diz que “repudia veementemente a insinuação que tenha solicitado o exercício de qualquer tipo de influência/apoio de qualquer autoridade pública em quaisquer assuntos relacionados ao acordo de leniência e/ou ao acordo de colaboração premiada”.

O Globo

 

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