No final da tarde de quarta-feira (25), cerca de cinco horas após a morte de Diego Armando Maradona, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, telefonou para Claudia Villafañe, 60, ex-mulher do jogador.
Ofereceu a Casa Rosada para receber o velório, e a proposta foi aceita. Fernández disse que tudo seria feito de acordo com a vontade dela e das filhas, Dalma, 33, e Gianinna, 31.
Antes disso, Juan Román Riquelme, outro camisa 10 histórico do Boca Juniors e vice-presidente do clube, havia colocado o estádio de La Bombonera à disposição da família.
A pedido das três mulheres, a cerimônia de enterro, no cemitério de Bella Vista, foi reservada apenas para 25 pessoas. Os integrantes do que era chamado de “o entorno” de Diego foram afastados e não estavam entre elas.
Esse estafe, que inclui o advogado Matías Morla e o médico Leopoldo Luque, já havia sido impedido de entrar no condomínio onde o ídolo morreu.
Morla deixou claro seu incômodo com a situação. Disse nas redes sociais que “a ambulância demorou mais de meia hora para chegar” e acusou quem estava acompanhando Maradona, quando este passou mal, de ter agido de modo muito lento, ao chamar primeiro o médico do condomínio e só depois ter contatado o médico pessoal do ex-atleta e uma ambulância.
“Foi uma idiotice criminosa”, vociferou. Nem Morla nem Luque entraram na Casa Rosada para o velório.
As filhas e a ex-mulher a princípio se recusaram a permitir a autópsia do jogador, mas depois consentiram, indicando um perito de confiança. A conclusão foi de insuficiência cardíaca crônica.
Na existência atribulada de Maradona, a família era uma de suas maiores incoerências. Ele disse várias vezes que Claudia era o amor de sua vida, mas morreu brigando com ela na Justiça por causa de dinheiro e imóveis. Afirmava que Dalma e Gianinna eram tudo para ele, mas pouco as via. Ambas tomaram o lado da mãe nas discussões.
As duas atribuem o distanciamento ao entorno do jogador. Sustentam que gostariam de ter tomado as rédeas da saúde e da agenda do pai, mas eram impedidas. Gianinna diz ter ido visitá-lo com Benjamín, seu filho com o atacante Sergio Agüero, em 30 de outubro, dia do aniversário de 60 anos de Diego, mas ficado poucos minutos.
Matías Morla cuidava de todos os assuntos em nome de Maradona. No mesmo dia 2 de novembro em que o craque foi internado em uma clínica em La Plata, sua conta no Instagram publicou uma propaganda de cigarro —depois apagada.
Durante a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, Morla pedia US$ 30 mil (cerca de R$ 150 mil em valores atuais) por entrevistas com o ex-jogador, que estava no país sob contrato da Puma (fabricante de material esportivo) e da Telesur, rede de TV multiestatal de países com governos de esquerda na América do Sul.
Gianinna e Dalma voltaram a usar suas redes sociais nos últimos dias para atacar Morla e companhia, dizendo que há tempos o pai era usado para exibições de propaganda, fins comerciais e projeção pessoal de algumas figuras.
Após Diego ser transferido de La Plata para Buenos Aires para remover um hematoma na cabeça, as filhas mandaram chamar um outro médico, além de Leopoldo Luque, para ter uma segunda opinião, demonstrando que não confiavam totalmente no neurologista. Com isso, a operação atrasou algumas horas.
Luque postou uma foto ao lado do paciente antes de ele deixar o hospital, no dia 11, quebrando um acordo para preservá-lo e enfurecendo as filhas. Algum tempo depois, pediu desculpas e disse que teve a autorização de Maradona.
A vida familiar do maior camisa 10 argentino foi como todas as outras facetas de sua existência. Cheia de idas e vindas, amores e rompimentos. Mesmo depois de se divorciar de Claudia, em 2003, ela continuou a cuidar de vários aspectos do dia a dia do ex-marido por um período.
Depois, ele teve relacionamentos com Veronica Ojeda, que esteve no velório e enterro com o filho Dieguito Fernando, e Rocío Oliva, barrada nas duas cerimônias do dia.
Diego Maradona foi enterrado no cemitério de Bella Vista, nos arredores de Buenos Aires, para estar próximo dos pais, don Diego e Tota. Os dois criaram o filho no bairro pobre de Villa Fiorito, em uma casa de telhas cheia de buracos, construída pelo próprio pai. Operário da indústria de carne, ele foi ausente em boa parte da infância do craque pois tinha de trabalhar.
Já Tota era o motivo da adoração do filho. Ela morreu em 2011, e os melhores amigos disseram que ele nunca mais foi a mesma pessoa depois disso.
FOLHAPRESS