Em artigo publicado na imprensa este fim de semana, ex-presidente tucano afirma que petistas perderam a oportunidade de dialogar com a oposição e que o PT encarna o lobo que se veste de cordeiro para tentar salvar a própria pele
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) descartou a possibilidade de diálogo entre tucanos e petistas para o enfrentamento da crise política e econômica, ventilada nos bastidores por aliados da presidente Dilma Rousseff. Em artigo publicado nos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo neste domingo (2), FHC diz que a proposta chegou tardiamente e poderia ser vista como “conchavo” ou um “abraço de afogados”. Para ele, a hora não é mais de entendimento entre partidos políticos, mas de a Justiça agir contra o governo.
“Tardiamente, círculos petistas se lembraram de que talvez fosse oportuno conversar com os tucanos… Parece a história do abraço do afogado. Calma, minha gente, há tempo para tudo. Há hora de conversar, hora de agir e hora de rezar”, escreveu o ex-presidente. “Para dialogar, não adianta se vestir em pele de cordeiro. Fica a impressão de que o lobo quer apenas salvar a própria pele”, acrescentou.
O tucano disse que propôs a Dilma e ao ex-presidente Lula, em viagem para o funeral do líder sul-africano Nelson Mandela, em 2013, que as principais forças partidárias do país se unissem para fortalecer as instituições políticas e tirá-las da crise de desconfiança em que estão mergulhadas. A sugestão, no entanto, foi ignorada pelos petistas.
“Naquela ocasião, como em outras, a resposta do dirigente máximo do PT foi ora de descaso, ora de reiteração do confronto, pela repetição do refrão autorreferente de que antes dele tudo era pior. Para embasar tal despautério, o mesmo senhor, no afã de iludir, usou e abusou de comparações indevidas”, escreveu o tucano, em alusão a Lula.
Para o ex-presidente, o governo perdeu ali a oportunidade de dialogar com a oposição. “A hora para agir já não é mais, de imediato, do Congresso e dos partidos, mas, sim, da Justiça. Essa constatação não implica dizer um não intransigente ao diálogo. Decidam a Justiça, o TCU e o Congresso o que decidirem, continuaremos a ter uma Constituição democrática a nos reger e a premência em reinventar nosso futuro”, defendeu.
FHC disse que Lula não precisa de intermediários para conversar com ele, mas condicionou um eventual contato entre os dois à discussão de uma “agenda de interesse nacional e pública”. “Por que isso? Porque não terá legitimidade qualquer conversa que cheire a conchavo ou, pior, que permita a suspeita de que se deseja evitar a continuidade nas investigações em marcha, ou que seja percebida como uma manobra para desviar a atenção do país do foco principal, a apuração de responsabilidades.”
Segundo o tucano, o PT precisa fazer mea culpa por ter se apresentado sempre como “única voz legítima a defender o interesse do povo. Essa postura, segundo ele, acentuou a divisão entre “nós” e “eles” em todo o país. “Tomara que as aflições pelas quais passam o PT e seus aliados lhes sirvam de lição e os afastem da arrogância e do contínuo desprezo pelos adversários, até agora tratados como inimigos”, afirmou.
Em entrevista à revista alemã de economia Capital, publicada na edição deste sábado (1º), o tucano afirmou que Dilma é uma “pessoa honrada” e não está envolvida com o esquema de corrupção que atuava na Petrobras. Ele atribuiu a Lula a responsabilidade política pelo petrolão. “Os escândalos começaram no governo dele [Lula]. Tudo começou bem antes, em 2004, com o Lula, com o escândalo do mensalão”, disse FHC.
Leia a íntegra do artigo de Fernando Henrique publicado no Estadão