Governistas prometem investigar ligação de Fernando Henrique Cardoso com o dinheiro enviado a empresas estrangeiras e tucanos abafam denúncias da jornalista Mirian Dutra
As declarações da ex-repórter da TV Globo Mirian Dutra sobre a mesada de US$ 3 mil que recebia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a relação amorosa que os dois mantiveram durante o mandato de FHC foi um dos principais assuntos debatidos entre os parlamentares nesta quinta-feira (18). A oposição se recusa a comentar as declarações de Mirian, alegando se tratar de um assunto de foro íntimo e que diz respeito apenas ao ex-presidente tucano e à sua família. Mas há governistas que prometem analisar mais afundo as informações. O objetivo da bancada é debater a forma com que Fernando Henrique enviava dinheiro ao exterior para auxiliar nas despesas de Miriam com o filho, Tomás Dutra, e investigar se houve irregularidades no caso.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) ressalta que não interessa ao público a relação extraconjugal mantida pelo ex-presidente, mas sim os repasses que eram feitos à Miriam Dutra, que morava na Europa. Ao Congresso em Foco, o deputado indicou algumas das informações que serão consideradas para explorar o caso e verificar se houve desvio de conduta por parte de Fernando Henrique Cardoso. “Existem alguns caminhos que podem nos levar a revelações mais relevantes para o poder público. Como, por exemplo, a ligação da Brasif S.A.Exportação (empresa que FHC usava para enviar recursos para o exterior) com a Rede Globo”, informa.
Os petistas comparam o caso de FHC com as revelações da jornalista Mônica Veloso, que ainda ameaçam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na Justiça. O senador é acusado de desviar dinheiro da verba indenizatória para pagar R$ 16,5 mil por mês à jornalista, com quem tem uma filha. O repasse era orquestrado pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Junior (investigada na Operação Lava Jato). A investigação também analisa os R$ 13,2 milhões em emendas parlamentares que Renan destinou a uma obra feita pela Mendes Junior no Porto de Maceió.
Já os correligionários de Fernando Henrique optam por não comentar abertamente as acusações contra o ex-presidente. O deputado Fábio Sousa (PSDB-GO) insinuou que a entrevista de Miriam seria uma forma de tirar o foco das acusações contra PT e o ex-presidente Lula. O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) se recusa a comentar o caso porque, segundo ele, “é de foro íntimo e pessoal. E diz respeito apenas a Fernando Henrique e seus familiares”.
De acordo com especialistas, Fernando Henrique não pode ser condenado por ter enviado dinheiro ao exterior através de empresas particulares. “Esta é uma prática imoral, mas não ilegal”, afirmam. Por outro lado, caso ainda mantivesse algum cargo público, o ex-presidente poder ser processado por tráfico de influência.